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— Eu sei. É o que papai sempre diz. Posso lhe pagar amanhã?

Ele a observava, curtindo-a, satisfeito porque sua perícia a encantara. Ela usava uma saia preta na altura dos joelhos, e uma linda blusa de seda. Tinha as pernas longas, muito longas e perfeitas.

— Nada disso!

Fingiu mau humor, e então riram juntos na sala imensa, as luzes fortes e baixas encimando a mesa de bilhar grande, o resto da sala escuro e íntimo, exceto pela réstia de luz que vinha pela porta aberta.

— Você joga incrivelmente bem — disse ela.

— Não conte a ninguém, mas ganhei a vida no exército jogando sinuca.

— Na Europa?

— Não. No Pacífico.

— Meu pai era piloto de caça. Derrubou seis aviões antes de ser abatido e proibido de voar.

— Acho que isso o tornou um ás, não é?

— Você tomou parte naqueles terríveis desembarques contra os japoneses?

— Não. Eu fazia parte das equipes de construção. Vínhamos quando tudo já havia sido tomado.

— Ah!

— Construímos bases, pistas de pouso em Guadalcanal, e nas ilhas por todo o Pacífico. A minha guerra foi fácil... não foi parecida com a do seu pai. — Enquanto ia guardar o taco, lamentou pela primeira vez não ter pertencido aos Fuzileiros Navais. A expressão do rosto dela quando ele falou em construção fê-lo sentir-se emasculado. — Devíamos ir procurar o seu namorado. Quem sabe já chegou.

— Ah, ele não é importante! Não é um namorado de verdade, conheci-o há cerca de uma semana, na festa de uma amiga. Martin é jornalista, trabalha no China Guardian. Não é um amante.

— Todas as jovens inglesas falam tão abertamente sobre seus amantes?

— É a pílula. Libertou-nos para sempre da servidão masculina. Agora, somos iguais.

— São?

— Eu sou.

— Então tem sorte.

— É, eu sei que tenho muita sorte. — Ficou olhando para ele. — Que idade tem, Linc?

— Bastante.

Enfiou o taco no porta-tacos. Era a primeira vez na vida que não quisera dizer a sua idade. "Merda", pensou, curiosamente perturbado. "Qual é o problema?

"Nenhum. Não há problema. Há?"

— Tenho dezenove anos — dizia ela.

— Quando faz anos?

— No dia 27 de outubro, sou Escorpião. E você?

— Em 1.° de outubro.

— Mentira! Diga a verdade.

— Juro, de pés juntos. Ela bateu palmas de alegria.

— Oh, que maravilha! Papai faz anos no dia 10. Que maravilha... é um bom sinal!

— Por quê?

— Vai ver.

Toda contente, abriu a bolsa e achou um maço de cigarros amassado e um isqueiro de ouro gasto. Ele tirou o isqueiro das mãos dela e acionou-o, mas ele não acendeu. Uma segunda e uma terceira vez, e nada.

— Droga de isqueiro — falou ela. — Essa droga nunca funciona direito, mas foi papai quem me deu. Eu o adoro. É claro que já o deixei cair umas duas vezes.

Ele ficou olhando para o isqueiro, soprou o pavio, e ficou brincando com ele por um momento.

— De qualquer modo, você não devia fumar.

— É o que papai sempre diz.

— Ele tem razão.

— É. Mas gosto de fumar, por enquanto. Quantos anos tem, Linc?

— Quarenta.

— Oh! — Ele notou a surpresa. — Então tem a mesma idade que papai! Bem, quase. Ele tem quarenta e um.

— São, ambas, excelentes idades — Linc falou, secamente, pensando: "Seja lá de que modo você o encare, Adryon, tenho realmente idade para ser seu pai".

Ela franziu a testa de novo.

— É gozado, vocês não parecem nem um pouco ter a mesma idade. — A seguir, acrescentou, aos borbotões: — Daqui a dois anos, terei vinte e um anos, praticamente dobrando o cabo da Boa Esperança, nem posso me imaginar tendo vinte e cinco anos, que dirá trinta, e quanto a quarenta... Deus, acho que prefiro estar embaixo da terra.

— Vinte e um anos é idade... sim, senhora, idade pra burro. — Pensou: "Faz muito tempo que você não passa o seu tempo na companhia de uma garota tão jovem. Cuidado. Essa aí é dinamite". Acionou o isqueiro, e ele acendeu. — Ora, vejam só!

— Obrigada — disse ela, acendendo o cigarro na chama. — Você não fuma? — perguntou.

— Não, agora não. Antes eu fumava, mas Casey me mandava panfletos ilustrados sobre o câncer e o fumo de hora em hora, até que eu saquei o perigo. Não me grilou nem um pouco parar... uma vez que tomei a decisão. Realmente, houve uma melhora dos diabos no meu golfe e no tênis e... — sorriu — e em todas as formas de esporte.

— Casey é espetacular. É mesmo a sua vice-presidente-executiva?

— É.

— Ela vai... vai ser muito difícil para ela, aqui. Os homens não vão gostar nada de ter que lidar com ela.

— Nos Estados Unidos é igual. Mas estão se acostumando. Criamos a Par-Con em seis anos. Casey sabe trabalhar como ninguém. É uma vencedora.

— Ela é sua amante?

Ele tomou um gole da sua cerveja.

— Todas as jovens inglesas são assim tão diretas?

— Não. — Ela riu. — É que eu estava curiosa. Todo mundo diz... todo mundo supõe que seja.

— Não diga!

— Digo. Vocês são o prato da sociedade de Hong Kong, e esta noite vai coroar a coisa. Os dois fizeram uma entrada espetacular, com o seu jato particular, as armas contrabandeadas, e Casey a última européia a ver John Chen, segundo os jornais. Gostei da sua entrevista.

— É, aqueles filh... aqueles sujeitos da imprensa estavam à minha espera na soleira da porta, hoje à tarde. Tentei ser breve e brusco.

— A Par-Con vale mesmo meio bilhão de dólares?

— Não. Vale uns trezentos milhões... mas logo será uma companhia de um bilhão de dólares. É, agora, logo será.

Notou que ela o olhava com aqueles olhos francos, cinza-esverdeados, tão adultos, e no entanto tão jovens.

— É um homem muito interessante, Sr. Linc Bartlett. Gosto de conversar com você. Gosto de você, também. Não gostei, de início. Fiz o maior escândalo quando papai disse que eu tinha de lhe fazer companhia, acompanhá-lo e apresentá-lo aos outros, durante algum tempo. Não fiz um trabalho muito bom, não é mesmo?

— Foi legal.

— Ora, corta essa. — Ela também deu um amplo sorriso. — Monopolizei-o totalmente.

— Não é verdade, conheci Christian Toxe, o editor, Richard Kwang e aqueles dois americanos do consulado. Lannan, não é?

— Langan, Edward Langan. É simpático. Não guardei o nome do outro... na verdade, não os conheço, têm apenas vindo às corridas conosco. Christian é simpático, e a mulher dele é muito legal. Ela é chinesa, por isso não está aqui, hoje.

Bartlett fechou o cenho.

— Porque é chinesa?

— Ah, foi convidada, mas não veio. É uma questão de prestígio, para não desprestigiar o marido. A "gente fina" não aprova casamentos entre raças diferentes.

— Casamentos com os nativos?

— Mais ou menos isso. — Ela deu de ombros. — Você vai ver. É melhor eu apresentá-lo a mais pessoas, senão vou levar a maior bronca.

— Que tal ao banqueiro Havergill? Como é ele?

— Papai acha que ele é um bobalhão.

— Então, por Deus, ele é um bobalhão de vinte e dois quilates, de agora em diante.

— Ótimo — falou ela, e os dois riram juntos.

— Linc?

Viraram-se para olhar para as duas figuras recortadas na réstia de luz que entrava pela porta. Reconheceu o contorno e a voz de Casey imediatamente, mas não o homem. Não era possível, de onde estavam, ver contra a luz.

— Oi, Casey! Como vão indo as coisas?

Ele pegou o braço de Adryon com naturalidade, e foi levando-a na direção da silhueta.

— Estive ensinando a Adryon alguns macetes da sinuca. Adryon riu.

— Mas que excesso de modéstia! Ele joga espetacularmente, não é, Casey?

— É, sim. Oh, Linc, Quillan Gornt queria se despedir antes de ir embora.

Abruptamente, Adryon parou onde estava, e seu rosto ficou branco. Linc parou, espantado.