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Ficou olhando Armstrong voltar para atender ao telefonema, e imaginou como seria ser um policial, com tantas oportunidades para a corrupção, e pela milionésima vez, como seria ser totalmente britânico ou totalmente chinês, e não um eurasiano desprezado por ambas as raças.

Olhava enquanto Armstrong escutava atentamente, depois ouviu-o dizer, acima da balbúrdia:

— Não, basta protelar. Eu mesmo trato disso, pessoalmente. Obrigado, Tom.

Armstrong voltou.

— Desculpe — disse. Depois cruzou o cordão da Imigração, subiu um pequeno corredor e entrou na sala VIP. Era simpática e espaçosa, com um bar e uma bela vista do aeroporto, da cidade e da baía. A sala estava vazia, exceto por dois funcionários da Imigração e da alfândega, e um dos homens de Armstrong esperando junto ao portão 16... uma porta de vidro que dava para a pista iluminada. Podiam ver o 707 chegando junto às suas marcas de estacionamento.

— Boa noite, sargento Lee — disse Armstrong. — Tudo certo?

— Sim, senhor. O Yankee 2 está desligando os motores. O sargento Lee bateu continência de novo, e abriu o portão para eles.

Armstrong olhou para John Chen, sabendo que o gargalo da armadilha estava quase fechado.

— Pode passar.

— Obrigado.

John Chen saiu para a pista de tarmac.

O Yankee 2 agigantava-se acima deles, os jatos que se desligavam emitindo apenas um rosnar abafado. A tripulação de terra colocava a escada alta, motorizada, no lugar. Pelas pequenas janelas da cabine podiam ver os pilotos fracamente iluminados. A um canto, nas sombras, estava o Silver Cloud Rolls azul-escuro de John Chen, com o chofer chinês uniformizado de pé ao lado da porta, e um policial próximo.

A porta principal do avião se abriu e um comissário uniformizado saiu para cumprimentar os dois funcionários do aeroporto que esperavam na plataforma. Ele entregou a um dos funcionários uma sacola com os documentos do avião e o manifesto de chegada, e começaram a bater papo, afavelmente. Então todos pararam. Respeitosamente. E fizeram uma saudação cortês.

A moça era alta, elegante, requintada e americana.

Armstrong assobiou baixinho.

— Ayeeyah!

— Bartlett tem bom gosto — comentou John Chen, o coração batendo mais depressa.

Ficaram observando enquanto ela descia as escadas, ambos perdidos em reflexões masculinas.

— Acha que é modelo?

— Anda como se fosse. Quem sabe uma estrela de cinema?

John Chen se adiantou.

— Boa noite. Sou John Chen, da Struan. Vim receber o Sr. Bartlett e o Sr. Tchuluck.

— Ah, claro, Sr. Chen. Muita gentileza sua, senhor, especialmente num domingo. Prazer em conhecê-lo, Sou K. C. Tcholok. Linc disse que se...

— Casey Tchuluck? — John Chen fitou-a, de boca aberta. — Como?

— É — disse ela, com um sorriso amável, ignorando pacientemente a pronúncia errada. — Sabe, Sr. Chen, como as minhas iniciais são K. C, acabei ficando com o apelido de Casey, que é a pronúncia inglesa das duas letras juntas. — Fitou Armstrong. — Boa noite. Também é da Struan?

A voz dela era melodiosa.

— Ah, sim, desculpe, este, este é o superintendente Armstrong — gaguejou John Chen, ainda tentando se recuperar.

— Boa noite — cumprimentou Armstrong, notando que ela ainda era mais atraente vista de perto. — Bem-vinda a Hong Kong.

— Obrigada. Superintendente? Da polícia? — E então o nome se encaixou no lugar. — Ah, Armstrong. Robert Armstrong? Chefe do DIC de Kowloon?

Ele disfarçou a surpresa.

— Está muito bem informada, srta. Tcholok. — Ela riu.

— Parte da minha rotina. Quando vou a um lugar novo, especialmente um como Hong Kong, meu trabalho é estar preparada... portanto mandei buscar as listagens atuais.

— Não temos listagens publicadas.

— Eu sei. Mas a administração de Hong Kong imprime um catálogo telefônico do governo que qualquer um pode comprar por uma ninharia. Mandei buscar um desses. Constam dele todos os departamentos policiais... chefes dos departamentos, a maioria com o telefone de casa... juntamente com todos os outros departamentos governamentais. Consegui um catálogo através do escritório de RP de Hong Kong, em Nova York.

— Quem é o chefe da Seção Especial? — perguntou, testando-a.

— Não sei. Não creio que esse departamento esteja incluído. Está?

— Às vezes.

Uma ligeira ruga vincava-lhe a testa.

— Vem receber todos os aviões particulares, superintendente?

— Somente quando me dá vontade. — Sorriu para ela. — Somente quando há senhoras bonitas e bem-informadas a bordo.

— Alguma coisa errada? Algum problema?

— Ah, não. Só rotina. O aeroporto de Kai Tak é parte de minha responsabilidade — disse Armstrong, com naturalidade. — Posso ver seu passaporte, por favor?

— Claro.

A ruga se aprofundou, enquanto ela abria a bolsa e lhe entregava o passaporte americano.

Anos de experiência fizeram com que a inspeção dele fosse muito detalhada.

— Nasceu em Providence, Rhode Island, a 25 de novembro de 1936; altura, um metro e setenta e três, cabelos louros, olhos castanho-amarelados.

O passaporte ainda tinha validade por dois anos. "Vinte e seis, hem? Pensei que fosse mais moça, mas se a gente olhar de perto, nota algo estranho nos olhos dela."

Com casualidade aparente, foi virando descuidadamente as páginas. Seu visto de três meses para Hong Kong estava em ordem. Uma dúzia de carimbos de imigração, todos da Inglaterra, França, Itália ou América do Sul. Exceto um. URSS, datado de julho daquele ano. Uma visita de sete dias. Reconheceu o carimbo de Moscou.

— Sargento Lee!

— Pronto, senhor.

— Mande carimbá-lo para ela — disse, com naturalidade, e sorriu para a moça. — Tudo em ordem. Pode ficar o tempo que quiser. Quando os três meses estiverem chegando ao fim, basta ir à delegacia mais próxima e prolongaremos o seu visto.

— Muitíssimo obrigada.

— Vai ficar com a gente durante muito tempo?

— Isso vai depender dos nossos negócios — disse Casey, depois de uma pausa. Sorriu para John Chen. — Esperamos que os nossos negócios durem muito tempo.

John Chen disse:

— E nós esperamos a mesma coisa.

Ainda estava intrigado, com a cabeça a mil por hora. "Certamente é impossível que Casey Tcholok seja uma mulher", pensou.

Às costas deles o comissário de bordo, Sven Svensen, desceu animadamente a escada, carregando duas malas leves.

— Pronto, Casey. Tem certeza de que chega, por esta noite?

— Tenho, sim. Obrigada, Sven.

— Linc mandou você ir na frente. Quer uma mãozinha para passar pela alfândega?

— Não, obrigada. O Sr. John Chen teve a gentileza de vir nos receber. Assim como o superintendente Armstrong, chefe do DIC de Kowloon.

— Certo. — Sven olhou pensativo para o policial, por um momento. — É melhor eu voltar.

— Tudo bem? — perguntou ela.

— Acho que sim. — Sven Svensen abriu um sorriso. — A alfândega está verificando o nosso estoque de bebidas e cigarros.

Apenas quatro coisas estavam sujeitas a licença de importação ou taxa alfandegária na colônia: ouro, bebidas alcoólicas, fumo e gasolina. Só um contrabando (sem falar em narcóticos) era totalmente proibido: todas as formas de armas de fogo e munição.

Casey sorriu para Armstrong.

— Não temos arroz a bordo, superintendente. Linc não come arroz.

— Então vai passar mal aqui.

Ela deu uma risada, depois virou-se para Svensen.

— Até amanhã. Obrigada.

— Às nove em ponto!

Svensen voltou para o avião, e Casey virou-se para John Chen.

— Linc disse que não esperássemos por ele. Espero que não haja mal nisso — disse.

— Hã?

— Vamos? Temos reservas no Victoria and Albert Hotel, em Kowloon. — Começou a pegar as malas, mas um carregador surgiu de dentro da escuridão e tirou-as de suas mãos. — Linc virá mais tarde... ou amanhã.