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"Desde que eu possa experimentar um antes", respondeu ela. "Parece que a gente pode orgulhar-se desse coquetel".

"Vamos experimentá-lo quando tudo isto terminar', disse Bond. "Perder ou ganhar. E agora, já decidiu o que vai comer? Por favor, esbanje", acrescentou Ele, quando sentiu que ela hesitava, "ou não faremos jus ao seu lindo vestido".

"Eu pediria duas coisas", disse ela, rindo, "ambas seriam deliciosas; e comportar-se como milionária às vezes é uma coisa muito divertida e já que você insiste. . . bem, gostaria de começar com caviar e depois pedir um rognon de veau com batatas soufflées. Depois, eu quereria morangos silvestres com muito creme . Você acha que é muita falta de vergonha ter tanta certeza daquilo que se quer e esbanjar tanto assim?" Sorriu para Ele, curiosa.

"Trata-se de uma virtude e, de qualquer maneira, não passa de uma boa refeição, simples e saudável". Voltou-se para o maítre d'hôtel. "E traga bastante torrada".

"O difícil", explicou a Vésper, "não é conseguir que eles tragam bastante caviar, mas bastante torrada".

"Bem", continuou ele, lendo o menu, "acompanharei a senhorita no caviar; mas depois gostaria de comer um tournedos muito pequeno, mal passado, com molho Béarnais e coeur d'artichaud. Enquanto a senhorita estiver se deleitando com os morangos, eu enfrentarei um abacate com molho francês. Aprovado?"

O maitre d'hôtel inclinou-se.

"Meus cumprimentos a ambos. George..." chamou o garçom e repetiu o que os dois haviam pedido.

"Perfeito", respondeu o garçom, apresentando a lista de vinhos encadernada de couro.

"Se concordar", disse Bond, "gostaria de tomar champanha com você esta noite. É um vinho alegre, muito próprio para a ocasião — espero", acrescentou.

"Sim, eu gostaria de tomar champanha", respondeu ela.

Com o dedo na página, Bond perguntou ao garçom: "Taittinger 45?"

"Um ótimo vinho, meu senhor", respondeu o garçom. "Mas, se o senhor me permite a sugestão", apontou com o lápis, "o Brut Blanc, de 1943, dessa mesma marca, não tem igual".

Bond sorriu. "Então, que seja esse", disse ao garçom.

"Trata-se de uma marca não muito conhecida", explicou Bond à companheira, "mas é provavelmente o melhor champanha do mundo". Franziu subitamente o rosto, quando caiu em si e percebeu a pretensão da observação que fizera.

"Perdão", disse. "Comer e beber são para mim prazeres quase ridículos. Isto acontece em parte porque sou solteiro, mas principalmente porque me habituei a prestar muita atenção nos detalhes. Eu sei que são manias muito meticulosas, dignas de um solteirão, mas quando estou trabalhando tenho quase sempre de comer sozinho e uma maneira de tornar as refeições mais agradáveis é interessar-se por elas até os menores detalhes".

Vésper sorriu para Ele.

"Eu também sou um pouco assim", ela. "Gosto de fazer as coisas até o fim, tirando o máximo de tudo aquilo que a gente faz. Acho que é assim que se deve viver. Só que estas coisas, ditas neste tom, soam muito infantis", emendou ela, desculpando-se também.

Enquanto conversavam, chegou a garrafa de vodca, mergulhada em gelo picado. Bond encheu os dois cálices.

"Bem, de qualquer maneira, concordo com você", disse Ele. "E agora, um brinde: muita sorte para hoje à noite, Vésper".

"Sim", respondeu a moça, baixinho. Ao levantar o cálice, olhou-o fixamente, bem dentro dos olhos, de uma maneira bastante curiosa. "Desejo que tudo corra bem esta noite".

Bond teve a impressão de que ela, num gesto rápido, encolheu os ombros involuntariamente ao dizer esta frase mas em seguida Vésper aproximou-se dele, impulsivamente.

“Tenho novidade par você, de Mathis. Ele estava ansioso para contar tudo pessoalmente. Sobre a bomba. É uma estória fantástica"

9- O JOGO É BACCARAT

BOND OLHOU EM volta; não havia a menor possibilidade de que alguém estivesse ouvindo a conversa, e o caviar ainda estaria na cozinha, esperando pelas torradas quentes.

"Conte tudo". Seus olhos brilhavam de interesse.

"Pegaram o terceiro búlgaro na estrada para Paris. Estava num Citroen, e para despistar dera carona a dois ingleses. Quando chegou à barreira policial, seu francês era tão ruim que lhe pediram os papéis. Aí Ele tirou uma arma e matou um dos patrulheiros. Mas o outro conseguiu pegá-lo, não sei como, e não o deixou suicidar-se. Então levaram-no para Ruão, onde extraíram toda a estória dele, com os costumeiros métodos franceses, suponho."

"Aparentemente, faziam parte de um grupo mantido na França para esse tipo de trabalho — sabotagens, assassínios etc. — e a turma de Mathis já está tentando pegar o resto do bando. Para matar você, eles receberiam dois milhões de francos, e o agente que os contratou disse-lhes que; se seguissem exatamente suas instruções, não haveria a menor chance de serem presos".

Ela tomou um golinho de vodca. "Mas agora é que vem a «arte interessante".

"Foi este agente quem deu a eles os dois estojos de máquina fotográfica que você viu, dizendo que as cores brilhantes tornariam as coisas mais fáceis. E que o estojo azul continha uma bomba de fumaça muito poderosa. No vermelho, estaria o explosiva Enquanto um atirava o estojo vermelho, o outro apertava um comutador no azul, e os dois escapariam sob uma cortina de fumaça. Mas na verdade a estória da bomba de fumaça era pura invenção, para que os búlgaros pensassem que escapariam facilmente. Os dois estojos continham duas bombas idênticas, de alto poder explosivo. Não havia a menor diferença entre o estojo azul e o vermelho. A idéia era destruir você e os dois búlgaros, sem deixar o menor vestígio. Acho que deveria haver outro plano, para liquidar o terceiro homem".

"Continue", pediu Bond, bastante admirado com a esperteza que havia atrás de toda aquela traição.

"Bom, aparentemente os búlgaros acharam a idéia ótima, mas, precavidos, decidiram não se arriscar. E pensaram que seria melhor soltar a cortina de fumaça antes e de dentro dela, jogar a bomba em você. O que você viu foi um deles mexendo no comutador da falsa bomba de fumaça; e, naturalmente, os dois explodiram ao mesmo tempo".

"O terceiro búlgaro estava esperando os dois companheiros atrás do Splendide. Quando viu o que aconteceu, concluiu que os dois haviam falhado. Mas a polícia tinha apanhado alguns fragmentos da bomba vermelha, que não explodiu, e mostraram a Ele. Quando compreendeu que os dois amigos haviam sido enganados e que tudo estava planejado para que morressem junto com você, Ele começou a falar. Parece que está falando até agora. Porém não há nada que ligue esse fato a Le Chiffre. O trabalho foi confiado a eles por algum intermediário, talvez um dos guarda-costas de Le Chiffre, pois esse nome não quer dizer absolutamente nada para o sobrevivente".

Ela terminou a estória no momento em que os garçons chegaram com o caviar, com uma pilha de torradas quentinhas, e com pratinhos contendo cebola picada e ovo cozido ralado, a clara num prato, a gema no outro.

Servido o caviar, os dois comeram durante algum tempo em silêncio.

Minutos depois, Bond disse: "É ótimo ser um cadáver que troca de lugar com os próprios assassinos. Para eles, foi certamente um tiro que saiu pela culatra. Mathis deve estar muito satisfeito com este dia de trabalho — cinco elementos da oposição neutralizados em vinte e quatro horas." E contou como os Muntzes haviam sido enganados.

"Falando nisso", perguntou, "como você se meteu neste caso? Em que seção você trabalha?"

"Sou assistente pessoal do chefe da S", disse Vésper. "Como o plano é dele, Ele queria que a seção participasse desta operação, e então disse a M que eu poderia vir. Parecia ser somente um trabalho de ligação, por isso M disse que sim, mas advertiu meu chefe de que você ficaria furioso com o fato de ter uma mulher trabalhando com você". Fez uma pausa, mas como Bond não dissesse nada, continuou: "Tive de me encontrar com Mathis em Paris e descer até aqui com Ele. Tenho uma amiga que é vendedora na Casa Dior e, não sei como, ela conseguiu arrumar emprestado este e aquele vestido que eu estava usando hoje de manhã; caso contrário, eu nunca poderia competir com toda esta gente". Fez um gesto abrangendo o salão inteiro. "No escritório, todo mundo estava morrendo de inveja, embora ninguém soubesse que trabalho seria. Tudo o que eles sabiam era que eu iria trabalhar com um duplo-zero. É claro que vocês são os nossos heróis. Eu estava encantada". Bond franziu a testa. "Não é muito difícil conseguir um duplo-zero como número, desde que você esteja preparada para matar", disse Ele. Isto é tudo o que esses dois zeros significam. Não há o menor motivo para orgulho. Eu tenho de agradecer aos cadáveres de um japonês de Nova York, perito em códigos, e de um agente duplo norueguês, de Estocolmo, pelo fato de ser um duplo-zero. Provavelmente eles não eram maus sujeitos. Foram levados pelo turbilhão do nosso mundo, como aquele iugoslavo que Tito derrubou. É um negócio confuso, mas se a gente escolhe esta profissão, tem de fazer o que nos mandam. Está gostando do ovo ralado com o caviar?"