Выбрать главу

"É uma combinação formidável", respondeu ela. "Estou adorando meu jantar. É uma pena. . ." Parou de falar, interrompida pelo olhar frio de Bond.

"Se não fosse o nosso trabalho, não estaríamos aqui", disse Ele.

Subitamente, Bond arrependeu-se de ter deixado o jantar inversa atingirem aquele grau de intimidade. Sentiu que havia falado muito, e que aquilo que não deveria passar de uma simples relação de trabalho já se tornara confuso.

"Vamos ver o que temos a fazer", disse Ele, num tom de voz neutro. "É melhor eu explicar o que vou tentar e o que vou fazer, é como você pode ajudar. O que, acho, não é muita coisa" completou. "Os fatos básicos são esses". E continuou a falar, delineando o plano e enumerando as várias contingências que os esperavam.

O maitre d'hôtel veio supervisionar os garçons, no momento de servir o segundo prato, e Bond continuou falando enquanto comiam aquele excelente jantar.

Ela o ouvia friamente, mas com atenta obediência. Sentia-se inteiramente desapontada com a rude reação de Bond, mas admitia que deveria ter prestado mais atenção aos conselhos do Chefe da S.

"Trata-se de um homem muito dedicado ao trabalho", dissera o chefe de Vésper, quando entregou o caso a ela. "Não pense que vai ser divertido. Enquanto durar o trabalho, Ele não pensará em mais nada e trabalhar com Ele é um verdadeiro inferno. Mas é eficientíssimo e não existem muitos como Ele por aí, de modo que você não estará perdendo tempo. É um homem muito bonito, mas não se apaixone por Ele. Acho que não tem muito coração. De qualquer maneira, boa sorte e não se meta em complicações".

Tudo isso tinha sido uma espécie de desafio, e ela se sentiu muito satisfeita quando percebeu que Ele se interessara por ela, se sentira atraído por ela, e isto ela sabia intuitivamente que estava acontecendo. Então, ao primeiro sinal de que eles estavam se divertindo juntos, a um sinal de que aquelas eram somente as primeiras palavras de uma frase convencional, Ele subitamente se transformara em gelo e rudemente mudara a direção das coisas, como se calor fosse veneno para Ele. Ela se sentia magoada, boba. Mas Fez um esforço mental e concentrou toda sua atenção no que Ele dizia. Ela não cometeria o mesmo erro novamente. ". . . e a grande esperança é rezar para uma tacada de sorte para mim, ou contra Ele."

Bond estava explicando como se joga baccarat.

“É muito parecido com qualquer outro jogo de mesa. As probabilidades contra o banqueiro e o jogador são mais ou menos equiparadas. De nodo que só uma jogada contra um deles pode ser decisiva e quebrar a banca ou quebrar o jogador."

"Já sabemos que Le Chiffre comprou a banca de hoje a noite do sindicato egípcio que manda nas mesas de jogo alto daqui. Pagou um milhão de francos pela banca, e seu capita; ficou reduzido a vinte e quatro milhões. Eu tenho mais ou me nos a mesma coisa. Umas dez pessoas estarão jogando, espero, e estaremos sentados em volta de uma mesa que tem quase a forma de um rim".

"Geralmente, a mesa é dividida em dois tableaux. O banqueiro joga ao mesmo tempo contra os dois tableaux, à sua esquerda e à sua direita. Nesse jogo, o banqueiro deve ganhar fazendo o jogo de um tableau contra o outro e utilizando um sistema de contabilidade de primeiríssima classe. Mas não há ainda em Royale bastante jogadores de baccarat, de modo que Le Chiffre irá jogar sua sorte contra os jogadores de um tableau só. O que é estranho, porque dessa maneira as probabilidades em favor do banqueiro não são tão boas; mas há uma pequena chance de que ele se saia bem; além disso, é claro que ele sabe perfeitamente o volume das apostas que estiverem sendo feitas".

"Bem: o banqueiro senta no meio da mesa com um croupier para distribuir as cartas e anunciar a quantia de cada banca, e geralmente com um chef de partie para cuidar do jogo em geral. Eu sentarei o mais na frente de Le Chiffre que puder. Diante dele, há uma caixa contendo seis maços de cartas, bem embaralhadas. Não há a menor possibilidade de viciar essas cartas. Elas são embaralhadas pelo croupier, cortadas por um dos jogadores e colocadas na caixa, à vista de todo mundo na mesa. Já nos informamos sobre o pessoal do Cassino e todos são honestos. Seria útil, mas quase impossível, marcar todas as cartas, mas para isso seria necessária a conivência pelo menos do croupier. De qualquer maneira, estaremos de guarda contra isso também".

Bond bebeu um pouco de champanha e continuou.

"Geralmente o que acontece no jogo é isto. O banqueiro anuncia uma banca de abertura de quinhentos mil francos, o que equivale atualmente a quinhentas   libras.   Cada  cadeira  é numerada a partir da direita do banqueiro; assim, o jogador ao lado do banqueiro, ou Número 1, pode aceitar a aposta e empurrar o dinheiro para a mesa, ou passar, se for muito para Ele ou se não quiser ir. Então, o Número 2 tem o direito de aceitar, ou se ele recusar, o Número 3, e assim por diante em toda a volta da mesa."Se nenhum jogador aceitar a aposta inteira, ela é oferecida a toda a mesa e cada um pinga, inclusive muitas vezes os espectadores que estão em volta da mesa, até que se completem os quinhentos mil".

"Só que essa é uma aposta pequena, que seria aceita imediatamente, mas quando chega a um milhão ou dois, é muito difícil encontrar um jogador que vá ou mesmo um grupo de jogadores que cubra a aposta, se a banca parecer estar com sorte. Num momento assim, eu sempre tentarei aceitar a aposta — de fato, atacarei sempre a banca de Le Chiffre toda vez que houver uma chance, até que alguém estoure — Ele ou eu. Pode levar algum tempo, mas no fim um de nós dois acabará quebrando o outro, sem contar com os outros jogadores que estiverem à mesa, embora — nesse meio tempo — eles possam ter deixado Le Chiffre mais rico ou mais pobre".

"Bancando o jogo, Ele tem uma pequena vantagem nas jogadas; mas sabendo que estou querendo a cabeça dele e já sabendo, espero, meu capital, é possível que Ele fique com os nervos um pouco abalados, de modo que tenho esperanças de começar em igualdade de condições com Ele".

Fez uma pausa quando chegaram os morangos e o abacate.

Comeram em silêncio durante alguns minutos, depois falaram de outras coisas enquanto o café era servido. Fumaram. Nenhum dos dois bebeu conhaque ou licor. Finalmente, Bond sentiu que era hora de explicar o verdadeiro mecanismo do jogo.

"É muito simples", disse Ele, "e você entenderá num instante se já jogou alguma vez vinte-e-um, onde o objetivo é conseguir cartas da banca para completar a soma vinte e um, ou obter uma soma que se aproxime mais de vinte e um do que a banca. No baccarat, você recebe duas cartas e o banqueiro também; e, se alguém não ganhar de cara, cada um de nós ou ambos podemos pedir uma carta ou mais. O objetivo do jogo e ter duas ou três cartas que, juntas, somem nove pontos, ou que cheguem o mais perto de nove possível. Figuras e dez não valem nada; os ases valem um; todas as outras cartas valem seu número. Só o último número de cada soma é que conta. Assim: nove mais sete igual a seis, e não a dezesseis".

"O vencedor é aquele cuja soma chega mais perto de nove. Quando empata, joga-se de novo".

Vésper ouvia atentamente, mas notava também o olhar de abstrata paixão da expressão de Bond.

"Agora", prosseguiu Bond, "quando o banqueiro passa as minhas duas cartas, se elas somarem oito ou nove, esta jogada se chama "natural"; então eu as mostro e ganho, a menos que Ele tenha um "natural" igual ou então melhor. Se, ao receber as cartas, eu não tiver um "natural", não peço carta nenhuma se tiver um sete ou um seis; talvez peça uma carta se tiver um cinco; mas não terei a menor dúvida em pedir uma carta se minha soma for menos de cinco. Cinco é a virada do jogo. De acordo com as probabilidades, as chances de melhorar ou piorar a mão, se você tiver um cinco, são exatamente iguais".

"Só quando eu pedir uma carta ou colocar as minhas na mesa, o que significa que fico com as que tenho, é que o banqueiro pode olhar as dele. Se Ele tiver um "natural", mostra as cartas e ganha. Se não tiver, encara o mesmo problema que eu. Mas tudo que eu fizer ajuda-o a saber se deve ou não pedir outra carta. Se fiquei com as que tenho, Ele deve concluir que eu tenho um cinco, um seis ou um sete; se pedi outra carta, Ele saberá que tenho menos de seis e que terei melhorado ou não minha mão com a carta que Ele me deu. E essa carta, Ele me entrega virada para cima. Pelo seu valor e pelo conhecimento das probabilidades Ele saberá se tem de pedir outra carta ou ficar com as que já tem".

"Desta maneira, Ele tem uma ligeira vantagem sobre mim. Tem um pequeno auxílio em sua decisão de pedir ou ficar. Mas há sempre um problema neste jogo: devemos ficar com um cinco ou pedir outra carta, e o que fará o nosso oponente nas mesmas condições, ou seja, com um cinco na mão? Alguns jogadores sempre pedem. Eu sigo a minha intuição".

"Mas no fim" — Bond apagou o cigarro e pediu a conta — "são os oito e nove "naturais" que contam e eu preciso obtê-los em muito maior quantidade do que Ele".