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Desanimado, Bond achou que ela estava ficando deprimida por causa do champanha. Mas ela riu feliz. "Não fique preocupado". Inclinou-se e segurou-o pela mão. "Às vezes fico um pouco sentimental. De qualquer modo, minha ilha está muito perto da sua, hoje." Tomou um golinho de champanha. Bond sorriu, aliviado. "Então vamos nos juntar e fazer uma península. Logo depois destes morangos", disse Ele.

Com um toque de malícia, ela respondeu: "Não. Preciso tomar café".

"E conhaque", acrescentou Bond.

Mais uma nuvem entre eles acabava de desfazer-se, deixando um pequeno sinal de interrogação no ar, que logo se desfez, quando a intimidade e a ternura voltaram a envolvê-los.

Depois do café, quando Bond bebericava um conhaque, Vésper pegou a bolsa, levantou-se e colocou-se ao seu lado.

"Estou cansada", disse, pousando a mão no ombro de Bond.

Ele enlaçou-a e juntos ficaram extáticos durante alguns momentos. Ela abaixou-se e beijou-o nos cabelos. Depois foi embora. Segundos depois, acendia-se uma luz em seu quarto.

Fumando, Bond esperou que a luz se apagasse. Então subiu também, depois de dizer boa noite ao casal Versoix e de agradecer o ótimo jantar.

Às nove e meia, Ele fechou a porta do banheiro e entrou no quarto de Vésper.

A lua brilhava entre as venezianas mal fechadas, derramando-se pela cama larga, entre as sombras secretas daquele corpo de neve.

De madrugada, Bond acordou em seu próprio quarto e durante algum tempo ficou acariciando a lembrança da noite que chegava ao fim.

Levantou-se rapidamente, atravessou o quarto de Vésper e dirigiu-se para a praia.

Na alvorada o mar estava quieto e liso. Pequenas ondas lambiam preguiçosamente a areia. Estava frio, mas Bond.entrou devagar e deliberadamente na água, até que esta alcançasse seu queixo. Mergulhou, fechando os olhos e segurando o nariz com a mão.

Nadou e boiou durante algum tempo. Quando o sol esquentou, voltou à praia, deitou-se de costas e ficou admirando o próprio corpo, que a noite lhe restituíra.

Como na tarde anterior, olhou para o céu e nele encontrou a mesma resposta. Hoje Ele pediria a Vésper para casar-se com Ele. Estava absolutamente seguro do que iria fazer. Agora era só uma questão de escolher o momento certo.

25- "VENDA PRETA NO OLHO"

QUANDO entrou pelo terraço no salão de refeições ainda fechado, ficou surpreso ao ver que Vésper deixava a cabine telefônica silenciosamente e subia as escadas em direção ao quarto.

"Vésper", chamou, pensando que ela tivesse algum recado urgente que pudesse interessar a ambos.

Ela virou-se depressa, com a mão na boca.

Encarou-o com os olhos bem abertos durante algum tempo mais do que o necessário.

"O que há, meu bem?", perguntou Ele, levemente preocupado, temendo uma crise.

"Oh!", respondeu ela, sem fôlego. "Você me assustou. Não é nada. Eu. . . eu estava ligando para Mathis. Para Mathis", repetiu. "Para pedir a Ele que me arranje outro vestido. Com aquela amiga que eu contei para você. A vendedora. Sabe por quê?" — falava rapidamente, as palavras saíam numa torrente persuasiva. "Não tenho nada para pôr. Liguei agora porque assim falaria com Ele em casa, antes de sair para o escritório. Não sei o número de telefone da minha amiga e queria fazer uma surpresa a você. Não queria que me ouvisse e acordasse. A água está boa? Você deveria ter esperado por mim".

"A água está ótima", respondeu Bond, decidindo não inquietá-la, apesar de ter ficado irritado com a evidente culpa dela neste mistério infantil. "Dê um mergulho e depois tomaremos café no terraço. Estou morrendo de fome. Sinto ter assustado você. Mas também fiquei espantado ao ver uma pessoa por aqui a esta hora da manhã".

Colocou os braços em volta dela, mas ela se libertou, subindo rapidamente as escadas.

"Fiquei tão surpresa ao vê-lo!", disse ela, procurando encobrir o incidente.

"Você parecia um afogado, um fantasma, com os cabelos caindo nos olhos". E deu um riso forçado. Sentindo que era forçado demais, transformou o riso em tosse.

"Espero não ter apanhado um resfriado", acrescentou.

Vésper continuou tentando consertar aquela série de mentiras tão evidentes a ponto de Bond sentir vontade de dar nela e de exigir que ela ficasse à vontade e contasse a verdade. Em vez disso, deu-lhe uma palmadinha nas costas, como se a ajudasse a acalmar a tosse, e pediu-lhe que se apressasse e tomasse banho logo.

Depois, entrou em seu próprio quarto.

Ficou assim dissolvida a integridade daquele amor. Os dias que se sucederam foram um rosário de falsidade e hipocrisia, tudo misturado com lágrimas e momentos de paixão animal aos quais ela se abandonava com uma luxúria que se tornava indecente em conseqüência do vazio daqueles dias.

Diversas vezes Bond tentou transpor aquele muro de desconfiança. Muitas e muitas vezes trouxe à baila aquele telefonema; ela obstinadamente insistia em acrescentar pormenores que Bond sabia terem sido imaginados depois. Ela até acusou Bond de pensar que tinha outro amante.

Inevitavelmente estas cenas terminavam com lágrimas amargas e momentos de quase histerismo.

Dia a dia a atmosfera tornava-se mais detestável.

Bond achava fantástico que relações humanas pudessem desmoronar tão rapidamente e procurava em vão achar uma explicação para isso.

Sentia que Vésper estava tão horrorizada quanto Ele mesmo e que parecia sofrer ainda mais. Mas o mistério do telefonema — ela se recusava a esclarecer, quase amedrontada, com raiva — era uma sombra que se tornava mais escura com outros pequenos mistérios e reticências.

As coisas pioraram naquele dia, durante o almoço.

Depois do café da manhã, que fora um esforço para ambos, Vésper alegara dor de cabeça e subira para o quarto, a fim de ficar longe do sol. Bond pegou um livro e andou quilômetros pela praia. Quando voltou, estava decidido a resolver o problema durante o almoço.

Logo que se sentaram, desculpou-se mais uma vez de tê-la assustado na cabine telefônica e passou a descrever o que vira durante o passeio.

Mas Vésper estava distraída, e só fazia comentários com monossílabos. Brincava com a comida, evitava o olhar de Bond, e parecia estar preocupada com outra coisa qualquer.

Depois que ela deixou de responder a umas duas coisas, Bond também resolveu ficar #m silêncio, imerso em seus sombrios pensamentos.

De repente, Vésper levou um susto. Seu garfo caiu com um estrépito na beirada do prato e depois no chão.

Bond olhou para cima. Ela estava branca como um lençol e olhava por cima do ombro dele com uma expressão de verdadeiro terror.

Bond virou a cabeça para trás e viu que um homem se sentara em uma mesa do terraço, bem longe deles. Parecia um homem qualquer, talvez vestido com uma sobriedade um tanto exagerada. Nesse exame rápido, Bond achou que se tratava de um comerciante qualquer atraído pelo cartaz do hotelzinho ou que escolhera o lugar no guia Michelin.

"O que é, meu bem? perguntou com ansiedade.

Os olhos de Vésper não abandonavam a figura distante.

"É o homem daquele carro", disse ela, com a voz quase sufocada. "O homem que nos. estava seguindo. Eu sei que é Ele".

Bond voltou a olhar para trás. O proprietário do hotel estava apresentando o cardápio ao novo freguês. Era uma cena perfeitamente normal.

Depois que o proprietário se afastou, o homem pareceu perceber que estava sendo observado. Então pegou uma pasta na cadeira ao lado, dela tirou um jornal e pôs-se a ler, com os cotovelos apoiados na mesa. Quando virou a cabeça para o lado deles, Bond percebeu que Ele usava uma venda preta no olho. Não estava, porém, amarrada com uma fita sobre o olho, mas encaixada como um monóculo. Se não fosse por isso, pareceria um homem de meia idade, agradável, cabelos castanhos escovados para trás e dentes particularmente grandes e brancos, segundo Bond observara enquanto Ele falava com o proprietário do hotel.