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Foi curta a entrevista de James Bond com M.

"O que você acha, Bond?" — perguntou M quando Bond voltou à sala depois de ler o memorando do chefe da S e depois de ficar uns dez minutos olhando sonhadoramente, pela janela da ante-sala, as árvores do parque, lá longe.

Do outro lado da mesa, Bond encarou os olhos claros e penetrantes de M.

"É muita gentileza de sua parte. Eu gostaria de fazer este trabalho. Mas não posso garantir que vencerei. As probabilidades no baccarat são as melhores, depois das do trente-e-quarante — quantias redondas sempre, exceto para o pequeno "barato" — mas eu posso pegar uma maré ruim e sair limpo. O jogo vai ser muito alto — acho que já começa com meio milhão".

O olhar frio de M Fez com que Bond se calasse. Ele já sabia disso tudo, conhecia as probabilidades do baccarat tão bem quanto Bond. Seu trabalho era exatamente este — saber as probabilidades de tudo, conhecer os homens, tanto os que trabalhavam com Ele como os do inimigo. Intimamente, Bond desejou ter ficado calado sobre suas próprias apreensões.

"Ele também pode ter uma maré de azar", disse M. "Você levará bastante dinheiro. Uns 25 milhões, a mesma coisa que Ele. Você começará com 10 milhões e nós mandaremos os outros 10 depois que você der uma olhada na situação. Os cinco milhões que faltam você poderá ganhá-los sozinhos." M sorriu. "Vá alguns dias antes que comece o jogo grosso e já fique sondando o ambiente. Fale com Q sobre acomodações, trens e qualquer equipamento que você queira. O tesoureiro providenciará o dinheiro. Pedirei ao Deuxième para cooperar. Aquela região é deles e do jeito que as coisas vão teremos muita sorte se eles não começaram a achar ruim. Tratarei de persuadi-los a mandar Mathis para lá. Aparentemente vocês se deram bem em Monte Cario naquele outro caso de cassino. Também tenho que informar Washington, por causa da NATO. A CIA tem um ou dois bons homens trabalhando em Fontaineblau com os nossos amigos do Serviço Secreto de lá. Mais alguma coisa?"

Bond balançou a cabeça.

"Eu gostaria muito de ter Mathis lá comigo".

"Bem, talvez isto seja possível. Procure vencer. Caso contrário vamos ficar com cara de idiota. E tome cuidado. Pelo jeito, parece um trabalho divertido, mas acho que não vai ser nada' disso. Le Chiffre não é de brincadeira. Enfim, boa sorte".

"Obrigado," disse Bond, e voltou-se em direção à porta.

"Um minuto".

Bond virou-se.

"Acho que mandarei alguém para ajudá-lo, Bond. Duas cabeças funcionam melhor do que uma e você precisará de alguém para transmitir suas comunicações. Vou pensar nisto. Eles entrarão em contato com você lá em Royale. Mas não se preocupe com isto. Será uma pessoa eficiente".

Bond teria preferido trabalhar sozinho, mas ninguém discute com M. Saiu da sala desejando que mandassem um homem leal, que não fosse estúpido nem, muito pior, ambicioso.

4- O INIMIGO OUVE TUDO

PARTE DESSAS lembranças passou pelos pensamentos de James Bond quando, duas semanas depois, Ele acordou uma manhã no Hotel Splendide.

Dois dias antes, chegara a Royale-Les-Eux a tempo de almoçar. Ninguém tentara entrar era contato com Ele, nem se registrou o menor sinal de curiosidade quando Ele assinou no livro de registros do hotel "James Bond, Port Maria, Jamaica". M não vira nenhuma necessidade de um nome suposto. "Logo que começar a enfrentar Le Chiffre nas mesas de jogo, você será imediatamente notado", dissera Ele. "Mas aparente uma situação que possa enganar as outras pessoas".

Bond conhecia bem a Jamaica e por isso pediu para ser controlado de lá e para usar a identidade de um rico plantador cujo pai fizera fortuna com tabaco e açúcar e que decidira esbanjá-la especulando na Bolsa e nos cassinos. Se alguém perguntasse alguma coisa, Ele citaria Charles Dasilva, de Caffery, Kingston, como seu procurador. Charles confirmaria toda a estória.

Bond passara as duas últimas tardes e a maior parte das noites no cassino, jogando complicados sistemas progressivos nos números pares da roleta. Sempre que tinha uma boa chance no chemin-de-fer, jogava alto. Se perdia, ainda ia mais uma vez, mas não continuava se perdesse de novo.

Desta maneira, ganhou uns três milhões de francos, além de treinar bem os nervos e sua intuição de jogador. Fixou o mapa do Cassino claramente na memória. Mas acima de tudo conseguiu observar Le Chiffre jogando e notou a contragosto que se tratava de um jogador perfeito e com muita sorte.

Bond gostava de um bom café-da-manhã. Depois de tomar um chuveiro frio, sentou-se à escrivaninha diante da janela. Enquanto observava o lindo dia lá fora, consumiu meio litro de suco de laranja gelado, três ovos mexidos com bacon e duas xícaras grandes de café preto sem açúcar. Acendeu seu primeiro cigarro, uma mistura especial feita para Ele por Morland, de Londres, com fumo importado da Turquia e dos Bálcãs. Depois, ficou olhando as pequenas ondas que lambiam a areia da praia comprida e a frota de pesca que deixava Dieppe em fila para desaparecer atrás da onda de calor que o sol de junho provocava em cima do mar. Um bando de gaivotas seguia os barcos, parecendo pedacinhos de papel voando.

Ele estava imerso em seus pensamentos quando o telefone tocou. Era da portaria anunciando que um diretor da Rádio Stentor estava esperando lá embaixo com o aparelho de rádio de ondas curtas que Ele havia encomendado de Paris. "Está certo", disse Bond. "Mande-o subir". Esta era a identidade que o Deuxième Bureau determinara para o homem que trabalharia junto com Bond. Bond ficou olhando a porta, esperando que fosse Mathis.

Quando Mathis entrou, um respeitável homem de negócios carregando um grande pacote quadrado por uma alça de couro, Bond abriu um largo sorriso e teria cumprimentado o amigo efusivamente se Mathis não fizesse uma careta e levantasse a mão livre num gesto de silêncio, depois de fechar a porta cuidadosamente.

"Acabo de chegar de Paris, meu senhor, c aqui está o aparelho que o senhor pediu para experimentar — cinco válvulas, freqüência modulada, e o senhor poderá ouvir a maioria das capitais européias aqui em Royale. Não há montanhas em nenhuma direção num raio de 60 quilômetros".

"Parece que está tudo bem", disse Bond, levantando as sobrancelhas diante de tamanho mistério.

21

Mathis não deu confiança. Desembrulhou o aparelho e colocou-o no chão ao lado do painel do aquecedor elétrico apagado, debaixo do beirai da lareira.

"Já passa das onze — disse Ele — e acho que os "Compagnons de la Chanson" devem estar agora no programa de ondas médias irradiado de Roma. Eles estão viajando pela Europa. Vamos ver como está a recepção. Deve ser um bom teste para o aparelho".

Mathis piscou o olho. Bond reparou que Ele havia ligado o rádio no maior volume possível e que a luz vermelha da faixa de ondas longas estava acesa, embora o aparelho ainda estivesse em silêncio.

Mathis mexeu atrás do aparelho. Subitamente um espantoso ronco de estática encheu o pequeno quarto. Mathis olhou o aparelho durante alguns segundos com ar de benevolência e depois desligou-o. Sua voz dava a impressão de um grande desânimo.

"Meu caro senhor, perdoe-me, por favor. Sintonizei mal". E novamente curvou-se em direção aos botões do aparelho. Depois de fazer alguns acertos, uma melodiosa canção francesa veio ao ar, e Mathis caminhou até Bond abraçando-o calorosamente e apertando sua mão até que os dedos começassem a doer.

Bond devolveu o sorriso. "Que diabo?" — perguntou.

"Meu querido amigo", Mathis estava encantado, "já descobriram você. Aí em cima", apontou para o teto, "neste preciso momento ou Monsieur Muntz ou sua falsa esposa, supostamente acamada com gripe, estão surdos, completamente surdos, e espero que agonizantes". Ele sorriu de prazer com a careta incrédula de Bond.