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Enquanto vou em direção à Rodovia Interestadual 5, minha mente continua vagando. Estou verdadeiramente perplexa quanto ao que faz alguém ser tão direcionado ao sucesso. Algumas de suas respostas foram muito enigmáticas — como se ele tivesse intenções ocultas. E as perguntas de Kate... Argh! Sobre a adoção e se ele era gay! Estremeço. Não posso acreditar que eu disse aquilo. Quero me enfiar num buraco! Toda vez que eu pensar nessa pergunta, vou morrer de vergonha. Maldita Katherine Kavanagh!

Confiro o velocímetro. Estou dirigindo com mais cautela do que estaria em qualquer outra ocasião. E sei que é por causa da lembrança de dois penetrantes olhos cinzentos me encarando e da voz austera me dizendo para dirigir com cuidado. Balançando a cabeça, me dou conta de que Grey parece um homem com o dobro de sua idade.

Esqueça isso, Ana, eu me repreendo. Decido que, no geral, foi uma experiência interessante, mas que não devo ficar pensando nela. Não pense mais nisso. Não vou vê-lo nunca mais. Imediatamente, me animo com essa ideia. Ligo o som e aumento o volume, recosto no banco e ouço o rock indie retumbante enquanto piso no acelerador. Quando alcanço a Interestadual 5, percebo que posso dirigir na velocidade que eu quiser.

Moramos num pequeno condomínio de apartamentos dúplex em Vancouver, perto do campus da WSU. Tenho sorte — os pais de Kate compraram o apartamento para ela, e eu pago uma ninharia de aluguel. Já é meu lar há quatro anos. Quando estaciono na frente de casa, sei que Kate vai querer um relato detalhado, e ela é tenaz. Bem, pelo menos ela tem o gravador. Espero não ter que elaborar muito além do que foi dito na entrevista.

— Ana! Você voltou.

Kate está sentada na nossa sala de estar, cercada de livros. É óbvio que andou estudando para as provas finais. Está usando o pijama de flanela rosa estampado com coelhinhos fofos que ela reserva para quando rompe com os namorados, para todo o tipo de doenças e para o baixo-astral em geral. Ela se levanta num salto e me dá um abraço apertado.

— Estava começando a ficar preocupada. Esperava que você voltasse antes.

— Ah, achei que fiz um bom tempo, considerando a duração da entrevista. — Aceno para ela com o gravador.

— Ana, muito obrigada. Fico lhe devendo essa. Como foi? Como ele é? — Ah, não, lá vem a Inquisição de Katherine Kavanagh.

Faço um esforço para responder à pergunta dela. O que posso dizer?

— Ainda bem que acabou, e não preciso vê-lo de novo. Ele é bastante intimidador, sabe? — Dou de ombros. — É muito focado, chega a ser intenso... e jovem. Muito jovem.

Kate me olha inocentemente. Lanço um olhar desdenhoso para ela.

— Não faça essa cara de boba. Por que não me deu uma biografia? Ele fez com que eu me sentisse uma idiota por não ter feito sequer uma pesquisa básica.

Kate tapa a boca com a mão.

— Nossa, Ana, desculpe. Eu não pensei nisso.

Bufo de raiva.

— No geral, ele foi educado, formal, ligeiramente antiquado, como se tivesse envelhecido antes do tempo. Ele não fala como um homem de vinte e poucos anos. Quantos anos ele tem, afinal?

— Vinte e sete, ou vinte e oito, acho. Nossa, Ana, desculpe. Eu devia ter preparado você, mas estava muito apavorada. Passe o gravador para eu começar a transcrever a entrevista.

— Você parece melhor. Tomou a sopa? — pergunto, querendo mudar de assunto.

— Tomei, e estava uma delícia, como sempre. Estou me sentindo muito melhor. — Ela sorri agradecida para mim.

Olho o relógio.

— Tenho que correr. Ainda dá para eu pegar meu turno na Clayton’s.

— Ana, você vai ficar exausta.

— Vou ficar bem. Vejo você mais tarde.

* * *

TRABALHO NA CLAYTON'S desde que entrei na WSU. A Clayton’s é a maior loja de material de construção na área de Portland e, nos quatro anos em que trabalho aqui, passei a conhecer um pouco sobre quase tudo o que vendo — embora, por ironia, eu seja um zero à esquerda quando se trata de execução de trabalhos manuais. Deixo isso para meu pai.

* * *

AINDA BEM QUE POSSO trabalhar, pois isso me dá algo em que pensar que não seja Christian Grey. Estamos bastante ocupados — começou a temporada de verão, e as pessoas estão reformando suas casas. A Sra. Clayton fica aliviada em me ver.

— Ana! Pensei que não fosse conseguir vir hoje.

— Minha reunião não demorou tanto quanto eu esperava. Posso trabalhar algumas horas.

— Estou muito feliz em ver você.

Ela me manda para o depósito a fim de começar a reabastecer as prateleiras, e logo a tarefa me absorve.

* * *

MAIS TARDE, QUANDO chego em casa, Katherine está com fones de ouvido e trabalhando em seu laptop. Tem o nariz ainda rosado, mas está totalmente envolvida com o artigo; concentrada, digitando com fúria. Estou esgotada — exausta da longa viagem, da entrevista cansativa e da correria para cima e para baixo na Clayton’s. Atiro-me no sofá, pensando no texto que preciso terminar e em tudo que não estudei hoje porque estava entocada com... ele.

— Você conseguiu um bom material, Ana. Ótimo trabalho. Não posso acreditar que você não aceitou quando ele quis levá-la para conhecer a sede. Ele obviamente queria passar mais tempo com você. — Ela me lança um olhar rápido e intrigado.

Fico vermelha, e minha pulsação inexplicavelmente se acelera. Com certeza a razão não foi aquela. Ele só queria me mostrar as instalações para eu poder ver que ele era o dono de tudo aquilo. Percebo que estou mordendo o lábio, e espero que Kate não note. Ela parece absorta na transcrição da entrevista.

— Ouvi o que você disse sobre ele ser formal. Anotou alguma coisa? — pergunta ela.

— Hum... não, não anotei.

— Tudo bem. Ainda posso fazer um ótimo artigo com isso aqui. Pena que não temos fotos. O filho da mãe é bonito, não é?

— Acho que sim. — Tento soar desinteressada, e acho que consigo.

— Ah, o que é isso, Ana! Nem você pode ficar imune à beleza dele. — Ela ergue para mim as sobrancelhas perfeitas.

Droga! Sinto minhas bochechas esquentarem, então a distraio com bajulação, sempre um bom estratagema.

— Você provavelmente teria arrancado muito mais dele.

— Duvido, Ana. Qual é! Ele praticamente lhe ofereceu um emprego. Considerando que eu avisei em cima da hora, você se saiu muito bem. — Ela me olha, especulativa. Faço uma retirada apressada para a cozinha.

— Então, o que achou dele realmente?

Droga, ela é inquisitiva. Por que não pode simplesmente deixar isso para lá?

Pense em alguma coisa — rápido.

— Ele é ambicioso, controlador, arrogante, assustador mesmo, mas muito carismático. Dá para entender o fascínio — acrescento sinceramente, esperando que isso a cale de uma vez por todas.

— Você? Fascinada por um homem? É a primeira vez. — diz ela, com desdém.

Começo a separar os ingredientes de um sanduíche para ela não poder ver meu rosto.

— Por que quis saber se ele era gay? A propósito, essa foi a questão mais embaraçosa. Fiquei mortificada, e ele ficou irritado com a pergunta. — Fecho a cara ao me lembrar.

— Quando aparece nas colunas sociais, ele nunca está acompanhado.

— Foi uma saia justa. A entrevista toda foi uma saia justa. Ainda bem que nunca mais vou ter que olhar para ele.

— Ah, Ana, não pode ter sido tão ruim. Pela voz dele, acho que ficou bastante impressionado com você.