— Está melhor? — pergunta ele. Levanto a cabeça. Ele está sorrindo largamente.
— Muito melhor. E você? — Meu sorriso é tão grande quanto o dele.
— Senti saudades suas, Sra. Grey. — Ele fica sério por um instante.
— Eu também.
— Nada de heroísmo agora, viu?
— Tudo bem — prometo.
— Fale sempre comigo — murmura.
— O mesmo para você, Grey.
Ele ri.
— Muito bem colocado. Vou tentar. — Ele beija minha cabeça.
— Acho que vamos ser felizes aqui — sussurro, fechando os olhos novamente.
— Aham. Você, eu e… o Pontinho. Aliás, como se sente?
— Bem. Relaxada. Feliz.
— Ótimo.
— E você?
— Todas essas coisas — murmura ele.
Eu o fito, tentando avaliar sua expressão.
— O que foi? — indaga ele.
— Sabe, você é muito mandão durante o sexo.
— Está reclamando?
— Não, só estava pensando… você disse que sentia falta.
Ele fica imóvel, me fitando.
— Às vezes — sussurra ele.
Ah.
— Bom, vamos ter que ver o que podemos fazer com relação a isso — murmuro, e beijo-o de leve na boca, aninhando-me nele como uma trepadeira.
Imagens de nós dois juntos, no quarto de jogos; o Tallis, a mesa, a cruz, algemada na cama… Eu adoro a trepada sacana dele — nossa trepada sacana. Sim, eu posso fazer esse tipo de coisa. Posso fazer isso por ele, com ele. Posso fazer isso por mim. Minha pele formiga quando me lembro do chicote de montaria.
— Eu também gosto de jogar — murmuro, e, olhando para cima, recebo um sorriso tímido em retribuição.
— Você sabe, eu realmente gostaria de testar os seus limites — diz ele.
— Limites de quê?
— De prazer.
— Ah, acho que eu vou gostar disso.
— Bom, quem sabe quando voltarmos para casa? — sussurra ele, deixando a promessa suspensa no ar.
E me aconchego nele novamente. Eu o amo tanto.
Já se passaram dois dias desde o nosso piquenique. Dois dias desde a promessa de bom, quem sabe quando voltarmos para casa. Christian ainda está me tratando como se eu fosse quebrar a qualquer instante. Ele ainda não me deixa ir à editora, então tenho trabalhado de casa. Sentada a minha mesa, coloco de lado a pilha de cartas de propostas de livros que estou lendo e solto um suspiro. Christian e eu não voltamos ao quarto de jogos desde que eu usei a palavra de segurança. E ele disse que sente falta. Pois eu também... ainda mais agora que ele quer explorar meus limites. Fico ruborizada, pensando a que isso poderia levar. Olho para a mesa de sinuca... É sério, mal posso esperar para explorar meus limites.
Meus pensamentos são interrompidos por um som lírico e suave que enche o apartamento. Christian está tocando piano; não um de seus costumeiros lamentos, mas uma melodia doce, uma melodia carregada de esperanças — que reconheço, mas que nunca o tinha ouvido tocar.
Na ponta dos pés, me aproximo do arco da sala e fico observando Christian ao piano. É a hora do entardecer. O céu está colorido com um tom forte de cor-de-rosa, e a luz se reflete no seu cabelo cor de cobre. Ele está como sempre, lindo de tirar o fôlego, e se concentra na música, sem se dar conta da minha presença. Christian tem andado tão acessível nos últimos dias, tão atencioso... oferecendo pequenas doses do seu dia, dos seus pensamentos, dos seus planos. É como se tivesse sido aberta uma fenda em uma barragem e ele começasse a falar.
Sei que daqui a poucos minutos ele virá ver como estou, o que me dá uma ideia. Animada, saio às escondidas, na esperança de que ele ainda não tenha me visto, e corro para o nosso quarto, tirando a roupa no caminho, até estar apenas com a minha calcinha de renda azul-clara. Encontro uma blusinha da mesma cor e a visto rapidamente. Vai esconder meu hematoma. Procurando no closet, pego na gaveta o jeans surrado de Christian — a calça que ele usa no quarto de jogos; a minha predileta. Pego o BlackBerry na minha mesa de cabeceira, dobro a calça jeans cuidadosamente e me ajoelho perto da porta do quarto, que, entreaberta, me permite ouvir os acordes de outra peça musical — essa eu não conheço. Mas também é uma melodia alegre; e é linda. Rapidamente digito um e-mail.
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De: Anastasia Grey
Assunto: O prazer do meu marido
Data: 21 de setembro de 2011 20:45
Para: Christian Grey
Senhor,
Aguardo instruções.
Sempre sua,
Sra. G..
Pressiono “enviar”.
Alguns momentos depois, a música é interrompida bruscamente. Meu coração parece parar, e depois dispara. Fico esperando, até que finalmente ouço o apitar do BlackBerry.
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De: Christian Grey
Assunto: O prazer do meu marido <——— adorei o assunto, querida
Data: 21 de setembro de 2011 20:48
Para: Anastasia Grey
Sra. G.,
Fiquei intrigado. Estou indo atrás de você.
Prepare-se.
Christian Grey
CEO Ansioso, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Prepare-se! Meu coração acelera e eu começo a contar. Trinta e sete segundos depois, a porta se abre. Olho para seus pés descalços que pararam na soleira da porta. Hmm. Ele não diz nada. Uma eternidade sem dizer nada. Ah, merda. Resisto à tentação de erguer o olhar e mantenho os olhos baixos.
Finalmente, ele se abaixa e pega a calça jeans. Fica em silêncio, mas se dirige ao closet enquanto permaneço parada. Ah, meu Deus... é agora. Meu coração golpeia meu peito, e saboreio a onda de adrenalina que percorre meu corpo. Começo a me contorcer à medida que meu entusiasmo aumenta. O que ele vai fazer comigo? Alguns minutos depois ele está de volta, de calça jeans.
— Então você quer brincar? — murmura ele.
— Sim.
Ele não diz nada, e arrisco uma espiada rápida... na sua calça jeans, nas coxas cobertas pelo tecido grosso, na suave protuberância na braguilha, no botão aberto na cintura, nos pelos do baixo ventre, no umbigo, no abdômen definido, nos pelos do peito, nos olhos cinzentos em chamas e na cabeça inclinada para o lado. Ele levanta uma sobrancelha. Ah, merda.
— Só “sim”? — sussurra ele.
Ah.
— Sim, senhor.
Seus olhos se suavizam.
— Boa menina — murmura ele, e acaricia minha cabeça. — Acho que é melhor levar você lá para cima — acrescenta.
E eu me desfaço por dentro, meu ventre se contraindo de uma maneira deliciosa.
Ele pega minha mão e eu o sigo pelo apartamento, escada acima. Antes de entrar no quarto de jogos, ele para, se curva e me beija delicadamente, e então agarra meu cabelo com força.
— Sabe, na verdade é você quem está no comando — murmura ele, os lábios colados nos meus.
— O quê? — Não entendo o que ele quer dizer.
— Não importa. Posso viver com isso — sussurra ele, achando graça, e roça o nariz no meu queixo, beijando minha orelha delicadamente. — Quando entrarmos, ajoelhe-se, como eu lhe ensinei.
— Sim... senhor.
Ele me fita novamente, os olhos brilhando de amor, admiração e pensamentos pecaminosos.
Puxa... A vida nunca será monótona com Christian, e eu entrei nessa de vez. Amo este homem: meu marido, meu amante, pai do meu filho, meu Dominador ocasional... meu Cinquenta Tons.