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— Olá, Christian.

O papai tem uma voz leve e grossa. Eu gosto da voz dele. Ele nunca fala alto. Ele não grita. Ele não grita que nem o... Ele lê uns livros para mim quando eu vou dormir. Ele lê uma história sobre um gato e um chapéu e ovos verdes e presunto. Eu nunca vi ovos verdes. O Papai se abaixa. Ele fica pequeno.

— O que você fez hoje?

Eu mostro a árvore para ele.

— Você comprou uma árvore? Uma árvore de Natal?

Digo que sim com a cabeça.

— É uma árvore linda. Você e a mamãe escolheram muito bem. É muito importante escolher a árvore certa.

Ele passa a mão no meu cabelo também, e eu fico bem quieto e seguro o meu cobertor com força. O Papai não me machuca.

— Papai, olha o meu desenho.

Lelliot fica com raiva quando o papai fala comigo. O Lelliot está com raiva de mim. Eu bato no Lelliot quando ele fica com raiva de mim. A mamãe nova fica zangada quando eu faço isso. O Lelliot não me bate. O Lelliot tem medo de mim.

* * *

AS LUZES DA árvore são bonitas.

— Aqui, vou mostrar para você. O gancho passa pelo buraquinho, e aí então você pode pendurar na árvore. — A Mamãe coloca o en-fei... en-fei-te vermelho na árvore. — Tente você com esse sininho.

Eu balanço o sininho e ele toca. É um som feliz. Balanço de novo. A mamãe sorri. Um sorriso grande. Um sorriso especial para mim.

— Gostou do sino, Christian?

Confirmo com a cabeça e balanço o sino mais uma vez, e ele tilinta de um jeito alegre.

— Você tem um sorriso lindo, meu querido. — A mamãe pisca e enxuga os olhos com a mão. Ela acaricia o meu cabelo. — Eu adoro ver você sorrindo. — A mão dela desce para tocar meu ombro. Não. Dou um passo para trás e aperto o meu cobertor. A mamãe parece triste e depois feliz. Ela faz carinho no meu cabelo. — Vamos colocar o sino na árvore?

Minha cabeça diz que sim.

* * *

— CHRISTIAN, VOCÊ PRECISA me dizer quando estiver com fome. Você pode fazer isso. Pode pegar a mão da mamãe e levar a mamãe para a cozinha e apontar.

Ela aponta um dedo comprido para mim. A unha dela é rosa e brilhante. É bonita. Mas eu não sei se a minha mamãe nova está zangada ou não. Eu comi todo o meu prato do jantar. Macarrão com salsicha. Gostoso.

— Eu não quero que você fique com fome, querido. Tudo bem? Agora, você quer sorvete?

Minha cabeça diz que sim! A mamãe sorri para mim. Eu gosto dos sorrisos dela. É melhor até que macarrão com salsicha.

* * *

A ÁRVORE ESTÁ bonita. Eu me levanto e olho para ela e abraço o meu cobertor. As luzes piscam e são de todas as cores, e os en-fei-tes são de todas as cores. Eu gosto dos azuis. E no topo da árvore tem uma estrela bem grande. O papai levantou o Lelliot e o Lelliot colocou a estrela na árvore... mas eu não quero que o papai me segure no alto. Eu não quero que ele me segure. A estrela é brilhante.

Ao lado da árvore fica o piano. Minha mamãe nova me deixa tocar nos pretos e nos brancos do piano. Preto e branco. Eu gosto do som dos brancos. O som dos pretos é errado. Mas eu gosto do som dos pretos também. Eu vou dos brancos para os pretos. Dos brancos para os pretos. Dos pretos para os brancos. Branco, branco, branco, branco. Preto, preto, preto, preto. Eu gosto do som. Eu gosto muito do som.

— Quer que eu toque para você, Christian?

Minha mamãe nova se senta. Ela toca os brancos e os pretos e as músicas aparecem. Ela aperta os pedais embaixo. Às vezes é alto e às vezes é baixo. A música é feliz. O Lelliot gosta que a mamãe cante também. A mamãe canta uma música sobre um patinho feio. A mamãe faz um barulho engraçado, quá-quá. O Lelliot faz o barulho engraçado de quá-quá e balança os braços como se fossem asas e abana os braços para cima e para baixo que nem uma ave. O Lelliot é engraçado.

A Mamãe ri. O Lelliot ri. Eu rio.

— Você gosta dessa música, Christian?

E a mamãe está com aquela cara triste-feliz.

* * *

EU TENHO UMA meia. Ela é vermelha e tem o desenho de um homem com um gorro vermelho e uma barba branca comprida. Ele é o Papai Noel. O Papai Noel traz presentes. Eu já vi fotos do Papai Noel. Mas o Papai Noel nunca me trouxe presentes antes. Eu era mau. O Papai Noel não traz presentes para meninos maus. Agora eu sou bonzinho. Minha mamãe nova diz que eu sou bonzinho, muito bonzinho. A mamãe nova não sabe. Eu nunca vou contar para a mamãe nova... mas eu sou mau. Eu não quero que a mamãe nova saiba.

* * *

O PAPAI PENDURA a meia lá em cima da lareira. O Lelliot também tem uma meia. O Lelliot sabe ler a palavra na meia dele. Está escrito Lelliot. Tem uma palavra na minha meia também. Christian. A mamãe nova soletra. C-H-R-I-S-T-I-A-N.

* * *

O PAPAI SENTA na minha cama. Ele lê para mim. Eu seguro o meu cobertor. Eu tenho um quarto grande. Às vezes o quarto está escuro e eu tenho sonhos ruins. Sonhos ruins sobre antes. A minha mamãe nova vem ficar comigo quando eu tenho algum sonho ruim. Ela deita do meu lado e canta músicas gostosas e eu durmo. O cheiro dela é bom e novo e gostoso. A minha mamãe nova não é fria. Não é que nem a... que nem a... E os meus sonhos ruins vão embora quando ela dorme comigo.

* * *

O PAPAI NOEL veio aqui. O Papai Noel não sabe que eu fui mau. Que bom que o Papai Noel não sabe. Eu tenho um trem e um helicóptero e um avião e um helicóptero e um carro e um helicóptero. Meu helicóptero voa. Meu helicóptero é azul. Ele voa em volta da árvore de Natal. Ele voa por cima do piano e pousa no meio dos brancos. Ele voa por cima da mamãe e voa por cima do papai e voa por cima do Lelliot enquanto ele brinca de Lego. O helicóptero voa pela casa, pela sala de jantar, pela cozinha. Ele voa e passa pela porta do escritório do papai e voa lá para cima até o meu quarto, o quarto do Lelliot, o quarto da mamãe e do papai. Ele voa pela casa, porque é a minha casa. A minha casa onde eu moro.

CONHEÇA O CINQUENTA TONS

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Segunda-feira, 9 de maio de 2011

—Amanhã — murmuro, dispensando Claude Bastille, que está à porta do meu escritório.

— Golfe esta semana, Grey?

Bastille abre um sorriso arrogante, contando como certa sua vitória no golfe.

Faço uma careta quando ele vira as costas e sai. Suas últimas palavras colocam sal nas minhas feridas, porque, apesar das minhas heroicas tentativas na academia hoje de manhã, meu personal trainer acabou comigo. Bastille é o único que pode me vencer, e agora ele quer me maltratar mais, dessa vez no campo de golfe. Eu detesto golfe, mas tantos negócios são feitos durante as partidas que preciso suportar suas aulas também por lá... E, embora eu odeie admitir, Bastille me ajuda a melhorar meu jogo.

Enquanto contemplo a silhueta de Seattle no horizonte, a conhecida sensação de tédio se instala na minha consciência. Meu estado de espírito está nublado e cinza como o tempo. Meus dias se misturam sem diferença, e eu estou precisando de algum tipo de diversão. Trabalhei o fim de semana inteiro e agora, nos limites contínuos do meu escritório, estou inquieto. Eu não deveria me sentir assim, não depois de várias disputas com Bastille. Mas me sinto.

Franzo o cenho. A verdade é que a única coisa que captou meu interesse recentemente foi minha decisão de mandar dois navios cargueiros para o Sudão. O que me lembra: Ros tem que me trazer os números e as logísticas. Por que raios ela está demorando tanto? Com a intenção de descobrir o que ela está fazendo, verifico a agenda e pego o telefone.

Ah, meu Deus! Tenho que dar uma maldita entrevista para o jornal da WSU, com a persistente Srta. Kavanagh. Por que eu aceitei fazer essa merda? Eu detesto entrevistas — perguntas inúteis vindas de idiotas vazios, mal informados e fúteis. O telefone toca.