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Então Christian olha para minha mão na dele e franze o cenho.

— Diga alguma coisa — sussurro, porque não consigo mais suportar o silêncio.

Ele balança a cabeça, exalando o ar bem lá do fundo.

— Vamos.

Ele solta minha mão e se levanta. Parece na defensiva. Será que passei dos limites? Não tenho ideia. Isso corta meu coração, e não sei se digo mais alguma coisa ou se apenas espero passar. Decido pela segunda alternativa, e obedientemente o sigo para fora do restaurante.

Lá fora, na agradável ruela, ele pega minha mão.

— Aonde você quer ir?

Ele fala! E não está zangado comigo — graças aos céus. Eu solto o ar, aliviada, e dou de ombros.

— Já fico contente por você não ter deixado de falar comigo.

— Você sabe que eu não gosto de falar disso. Passou. Acabou — responde ele, bem baixinho.

Não, Christian, não acabou. Esse pensamento me entristece, e pela primeira vez me pergunto se algum dia vai acabar. Ele sempre será o Cinquenta Tons… Meu Cinquenta Tons. Se quero mudá-lo? Não, não exatamente — apenas na medida em que quero vê-lo se sentir amado. Ergo o olhar timidamente, e aproveito um momento para admirar sua beleza cativante… Ele é meu. E não é só o encantamento do rosto e do corpo muito atraentes que me enfeitiçam. É o que há por trás dessa perfeição que me atrai, que me chama… Sua alma frágil, machucada.

Ele me olha daquele jeito, nariz empinado, meio arrogante, meio irônico, meio alerta, todo sensual, depois passa o braço pela minha cintura e caminhamos entre os turistas até o lugar onde Philippe/Gaston estacionou a espaçosa Mercedes. Volto a deslizar a mão para dentro do bolso traseiro da sua bermuda, aliviada por ele não estar zangado. Mas, honestamente, que criança de quatro anos não ama a mãe, por pior que seja? Eu suspiro pesadamente e o aperto mais em meu abraço. Sei que atrás de nós a equipe de segurança nos espreita, e me pergunto vagamente se eles almoçaram.

Christian para em frente a uma lojinha que vende joias finas e observa a vitrine, depois olha para mim. Ele pega minha mão livre e passa o polegar pela linha vermelha esmaecida da marca da algema, avaliando o estrago.

— Não está dolorido — tranquilizo-o.

Ele se vira para tirar minha outra mão do seu bolso, e a vira delicadamente para examinar meu pulso. O relógio Omega de platina que ele me deu durante o café da manhã da nossa primeira manhã em Londres cobre a linha vermelha. A inscrição ainda me extasia.

Anastasia

Você é meu Mais

Meu Amor, Minha Vida

Christian

Apesar de tudo, de toda a sua personalidade difícil, meu marido também pode ser muito romântico. Olho para as leves marcas vermelhas nos meus pulsos. Mas também pode ser selvagem às vezes. Soltando minha mão esquerda, ele ergue meu queixo com os dedos e examina a minha expressão, os olhos preocupados.

— Não está doendo — repito.

Ele puxa minha mão para seus lábios e dá um suave beijo de desculpas na parte interna do meu pulso.

— Venha — diz ele, e me leva para dentro da loja.

* * *

— AQUI.

Christian abre a pulseira de platina que acabou de comprar. É primoroso, tão delicadamente talhado, as filigranas em formato de minúsculas flores abstratas com pequenos brilhantes no miolo. Ele fecha a pulseira. É uma faixa larga de platina que fica justa no pulso, de forma que esconde a marca vermelha. E custou trinta mil euros, penso, apesar de eu não ter conseguido acompanhar toda a conversa em francês com a vendedora. Nunca usei nada tão caro.

— Pronto, assim está melhor — murmura ele.

— Melhor? — sussurro, mirando fixamente seus luminosos olhos cinzentos, consciente de que a vendedora magrela está nos encarando com um olhar de inveja e desaprovação.

— Você sabe por quê — diz ele.

— Eu não preciso disso.

Balanço meu pulso e a pulseira se movimenta, captando a luz da tarde que entra pela vitrine da loja. Os brilhantes formam pequenos arco-íris reluzentes, que dançam pelas paredes.

— Mas eu preciso — retruca ele, com total sinceridade.

Por quê? Por que ele precisa disso? Será que se sente culpado? Pelo quê? Pelas marcas? Pela sua mãe biológica? Por não confiar em mim? Ah, Christian.

— Não, não precisa. Você já me deu tanto! Uma lua de mel mágica, Londres, Paris, a Côte D’Azur… e você. Sou uma mulher de muita sorte — sussurro, e seus olhos parecem relaxar.

— Não, Anastasia, eu é que sou um homem de muita sorte.

— Obrigada.

Esticando-me nas pontas dos pés, coloco os braços em volta do seu pescoço e o beijo… Não por me dar a pulseira, mas por ser meu.

* * *

DE VOLTA AO CARRO, Christian está introspectivo, olhando os campos de girassóis em cores vivas, as flores seguindo o sol da tarde e expondo-se a sua luz. Um dos gêmeos — acho que é Gaston — está dirigindo e Taylor está a seu lado, no banco da frente. Christian está remoendo alguma coisa. Aperto sua mão, tranquilizando-o. Ele me olha, e então solta minha mão para acariciar meu joelho. Estou vestindo uma saia curta rodada nas cores azul e branca e uma blusa justa azul, sem mangas. Christian hesita, e não sei se sua mão vai subir em direção à minha coxa ou descer para minha canela. O toque delicado dos seus dedos desperta expectativas em mim, e eu prendo a respiração. O que ele vai fazer? Ele escolhe descer, e de repente agarra meu tornozelo e puxa meu pé para seu colo. Eu giro o corpo de forma a ficar de frente para ele no banco de trás do carro.

— Quero o outro também.

Dou uma espiada rápida em Taylor e Gaston, cujos olhos se mantêm firmes na estrada, e coloco meu outro pé sobre o colo dele. Com um ar tranquilo, ele alcança a porta e aperta um botão. Na nossa frente, uma tela de privacidade levemente escurecida desliza de um painel e, dez segundos depois, estamos efetivamente sozinhos. Uau… Não é de admirar que esse carro tenha tanto espaço aqui atrás.

— Quero ver seus tornozelos.

É uma boa explicação. Ele me olha com a expressão tensa. As marcas das algemas? Caramba… Achei que já tivéssemos superado isso. Se há marcas, estão escondidas pelas tiras da sandália. Não me recordo de ter visto nenhuma essa manhã. Delicadamente, ele alisa com o polegar o peito do meu pé, provocando em mim um leve tremor. Um sorriso surge em seus lábios e com destreza ele abre uma tira da sandália. Seu sorriso some quando vê as marcas vermelhas mais fortes.

— Não está doendo — murmuro.

Christian me olha de relance; sua expressão é triste, sua boca, uma linha fina. Ele faz um único gesto com a cabeça, como que para mostrar que acredita na minha palavra. Agito o pé para que a sandália se solte, mas sei que o perdi. Ele está distraído e reflexivo de novo, acariciando mecanicamente meu pé enquanto se vira para olhar pela janela do automóvel.

— Ei. O que você esperava? — pergunto com carinho.

Ele me olha e dá de ombros.

— Não esperava sentir isso que estou sentindo ao olhar para essas marcas — responde ele.

Ah! Reservado em um minuto e disponível no outro? Isso é tão… Tão Cinquenta Tons! Como posso acompanhá-lo?

— E como você se sente?

Olhos desanimados me encaram.

— Desconfortável — murmura ele.

Ah, não. Solto o cinto de segurança e chego mais perto dele, sem tirar os pés do seu colo. Quero me aconchegar contra seu corpo e abraçá-lo, e eu faria isso se fosse somente Taylor quem estivesse lá na frente. Mas saber que Gaston está ali paralisa minhas ações, mesmo com a tela divisória. Se estivesse mais escuro… Aperto suas mãos.