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A REUNIÃO DURA duas horas. Todos os editores estão presentes, além de Roach e Elizabeth. Discutimos questões de pessoal, estratégias, marketing, segurança e fim de ano. À medida que a reunião prossegue, fico cada vez mais desconfortável. Há uma sutil mudança na maneira como todos me tratam — uma distância e uma deferência que não existiam antes de eu sair em lua de mel. E por parte de Courtney, que gerencia o setor de não ficção, sinto uma hostilidade aberta. Talvez eu esteja apenas sendo paranoica, mas de certa forma explica as estranhas boas-vindas de Elizabeth hoje mais cedo.
Minha mente se perde e volta para o iate, depois para o quarto de jogos, e para o R8 fugindo veloz do misterioso Dodge na Interestadual 5. Talvez Christian tenha razão… Talvez eu não possa mais fazer isso. Essa ideia me deprime — isso é tudo que eu sempre quis fazer. Se eu não puder continuar aqui, o que vou fazer? Ao retornar para a minha sala, tento me livrar desses pensamentos sombrios.
De volta à minha mesa, checo rapidamente meus e-mails. Nenhuma mensagem nova de Christian. Pego o BlackBerry… Também nada. Bom. Pelo menos não houve uma reação adversa ao meu e-mail. Talvez possamos conversar sobre isso hoje à noite, como eu pedi. Acho difícil de acreditar, mas, ignorando meu sentimento de desconforto, abro o plano de marketing que me foi entregue durante a reunião.
* * *
COMO É NOSSO ritual na segunda-feira, Hannah vem até a minha sala trazendo um prato com o meu almoço embalado, cortesia da Sra. Jones, e enquanto almoçamos juntas, discutimos as metas da semana. Ela também me atualiza das fofocas do escritório, que aliás — considerando que estive fora por três semanas — são bem escassas. Estamos conversando quando batem à porta.
— Pode entrar.
Roach abre a porta e ao seu lado está Christian. Fico momentaneamente muda. Christian me lança um olhar flamejante e entra, antes de sorrir educadamente para Hannah.
— Olá, você deve ser a Hannah. Sou Christian Grey — diz ele.
Hannah fica de pé meio desajeitada e estende a mão.
— Sr. Grey. P-prazer em conhecê-lo — gagueja ela ao apertar sua mão. — Posso lhe trazer um café?
— Por favor — responde ele, calorosamente.
Com um rápido e confuso olhar para mim, ela sai depressa da sala, passando por Roach, que está parado à porta tão mudo quanto eu.
— Se me der licença, Roach, eu gostaria de ter uma palavra com a Srta. Steele. — Ele pronuncia o “senhorita” lentamente… Sarcasticamente.
É por isso que ele está aqui… Ah, merda.
— Claro, Sr. Grey. Ana — murmura Roach, fechando a porta da minha sala ao sair.
Recupero a fala:
— Sr. Grey, que bom ver você. — Sorrio com extrema doçura.
— Srta. Steele, posso me sentar?
— A empresa é sua. — E indico a cadeira que Hannah acabou de vagar.
— De fato.
Ele sorri ferozmente para mim, mas seus olhos permanecem frios. Seu tom é ríspido. Ele está todo arrepiado de tensão — posso senti-la ao meu redor. Merda. Meu coração se aperta.
— Sua sala é bem pequena — diz ele ao se sentar à mesa de frente para mim.
— É o suficiente.
Ele me olha de maneira neutra, mas sei que está zangado. Respiro fundo. Isso não vai ser divertido.
— Então, o que posso fazer por você, Christian?
— Estou apenas conferindo meus bens.
— Seus bens? Todos eles?
— Todos eles. Alguns precisam de um reposicionamento.
— Reposicionamento? De que maneira?
— Acho que você sabe. — Sua voz é ameaçadoramente calma.
— Por favor… Não me diga que você interrompeu seu dia de trabalho depois de três semanas ausente para vir até aqui e brigar comigo por causa do meu nome. — Eu não sou um maldito bem!
Ele se ajeita na cadeira, cruza as pernas.
— Não exatamente brigar. Não.
— Christian, eu estou trabalhando.
— A mim pareceu que você estava fofocando com a sua secretária.
Minhas bochechas pegam fogo.
— Estávamos repassando nossas tarefas — falo rispidamente. — E você não respondeu à minha pergunta.
Alguém bate à porta.
— Entre! — grito, e minha voz sai muito alta.
Hannah entra trazendo uma pequena bandeja. Jarra de leite, açucareiro, café fresco em uma cafeteira francesa — pensou em tudo. Ela coloca a bandeja na minha mesa.
— Obrigada, Hannah — murmuro, envergonhada por ter gritado.
— Precisa de mais alguma coisa, Sr. Grey? — pergunta ela, sem fôlego. Minha vontade é revirar os olhos para ela, mostrando que a visita dele não me agrada.
— Não, obrigado.
E ele abre um sorriso encantadoramente sedutor. Ela enrubesce e sai sorrindo timidamente. Christian volta a atenção novamente para mim.
— Onde estávamos mesmo, Srta. Steele?
— Você estava interrompendo rudemente meu dia de trabalho para brigar comigo por causa do meu nome.
Christian pisca uma vez — surpreso, eu acho, pela veemência da minha voz. Cuidadosamente, ele tira uma poeira invisível do seu joelho com os dedos compridos e habilidosos. É para distrair. Ele está fazendo de propósito. Aperto os olhos para ele.
— Gosto de fazer visitas-surpresa. Mantêm os gerentes nos eixos, as esposas nos lugares. Sabe como é. — Ele dá de ombros, e sua boca vira uma linha arrogante.
Esposas nos lugares!
— Eu não sabia que você tinha tempo sobrando para isso — disparo.
Seus olhos viram gelo.
— Por que você não quer mudar seu nome aqui? — pergunta ele, a voz mortalmente calma.
— Christian, temos que discutir isso agora?
— Eu estou aqui. Não vejo por que não discutirmos logo.
— Estou cheia de coisas para fazer, trabalho acumulado das últimas três semanas.
Seus olhos estão frios e avaliadores — distantes, até. É impressionante como ele pode parecer tão frio depois de ontem à noite, depois das últimas três semanas. Merda. Ele deve estar furioso — furioso mesmo. Quando é que ele vai aprender a encarar as coisas de uma forma mais equilibrada?
— Você tem vergonha de mim? — pergunta ele, a voz enganosamente suave.
— Não! Christian, é claro que não. — Faço cara feia para ele. — Não tem nada a ver com você.
Caramba, ele é exasperante às vezes. Um bobo de um megalomaníaco dominador.
— Como não tem nada a ver comigo?
Ele pende a cabeça para o lado, genuinamente perplexo, um pouco do seu distanciamento escoando à medida que me encara com olhos arregalados; e eu percebo que ele está magoado. Que merda! Eu o magoei. Ah, não… É a última pessoa que eu quero ver magoada. Tenho que fazê-lo enxergar a lógica. Tenho que explicar a razão da minha escolha.
— Christian, quando eu assumi esse emprego, tinha acabado de conhecer você — digo pacientemente, lutando para encontrar as palavras certas. — Não sabia que você ia comprar a empresa…
O que posso dizer desse evento na nossa curta história? Suas razões para fazê-lo eram todas insanas: sua mania de controlar tudo e sua tendência a sufocar aqueles que ama, tudo completamente sem freio graças à sua espantosa riqueza. Sei que ele quer o meu bem, mas o problema fundamental aqui é o fato de ele ser dono da SIP. Se ele nunca tivesse interferido, eu poderia continuar agindo normalmente e não teria que enfrentar meus colegas de trabalho exibindo esse ar de desagrado e cochichando recriminações. Coloco a cabeça nas mãos, apenas para não precisar olhar nos olhos dele.
— Por que isso é tão importante para você? — pergunto, tentando desesperadamente manter a calma.
Encaro seu olhar impassível, seus olhos luminosos sem deixar transparecer nada, sua mágoa de antes agora escondida. Mas mesmo enquanto faço a pergunta, bem no fundo sei a resposta antes mesmo de ele dizer.