Tenho que reconhecer… essa mulher é muito boa.
— Ou, em vez do deque, podemos incorporar madeira colorida à sua escolha entre as portas de vidro, o que ajudaria a manter o espírito mediterrâneo — continua ela.
— Como as lindas janelas azuis do sul da França — murmuro para Christian, que me observa atentamente.
Ele toma um gole de vinho e dá de ombros, sem expressar nenhuma opinião. Hmm. Ele não gosta da ideia, mas não dá um veredito negativo, não passa por cima de mim nem faz com que eu me sinta estúpida. Deus, esse homem é um poço de contradições. Suas palavras de ontem me vêm à mente: Quero que essa casa seja do jeito que você quiser. O que você quiser. Ela é sua. Ele quer me ver feliz — feliz em tudo o que eu faça. Bem no fundo, acho que sei disso. É só que… eu me detenho. Não pense na nossa briga agora. Meu inconsciente me olha com censura.
Gia está olhando para Christian, esperando que ele tome a decisão. Vejo as pupilas dela se dilatarem e seus lábios cobertos de gloss se entreabrirem. Sua língua passa rapidamente pelo seu lábio superior antes de ela tomar um gole do vinho. Quando me viro para Christian, ele ainda está olhando para mim — não para ela. Uhul! Vou ter uma conversinha com a Srta. Matteo.
— Ana, o que você quer fazer? — murmura Christian, muito claramente transferindo a decisão para mim.
— Gostei da ideia do deque.
— Eu também.
Eu me viro de novo para Gia. Ei, queridinha, olhe para mim, não para ele. Sou eu que estou tomando as decisões aqui.
— Acho que eu gostaria de ver novos desenhos, mostrando o deque maior e os pilares que vão manter o estilo da casa.
Gia relutantemente afasta seus desejosos olhos do meu marido e sorri para mim. Será que ela pensa que eu não vou notar?
— Claro — concorda ela com simpatia. — Mais alguma questão?
Além de você devorar meu marido com os olhos?
— Christian quer remodelar a suíte principal — murmuro.
Ouvimos uma tosse discreta vindo da entrada da sala. Nós três nos viramos ao mesmo tempo e vemos Taylor parado lá.
— Taylor? — pergunta Christian.
— Preciso falar com o senhor sobre um assunto urgente, Sr. Grey.
Christian aperta meus ombros por trás e se dirige a Gia:
— A Sra. Grey está no comando desse projeto. Ela tem carta branca. O que ela quiser, nós faremos. Confio plenamente em seus instintos. Ela é muito perspicaz. — Sua voz se altera quase imperceptivelmente. Detecto orgulho e um alerta velado — um alerta para Gia?
Ele confia em meus instintos? Ah, esse homem é irritante. Meus instintos o deixaram me tratar de maneira rude hoje à tarde. Balanço a cabeça em frustração, mas estou satisfeita por ele estar dizendo à Srta. Provocante-e-Infelizmente-Boa-no-Que-Faz quem é que está dando as ordens. Acaricio sua mão, que descansa no meu ombro.
— Agora se me dão licença…
Christian aperta meus ombros e deixa o salão com Taylor. Pergunto-me vagamente o que será que está acontecendo.
— Então… a suíte principal? — pergunta Gia, nervosa.
Eu a encaro, fazendo uma pausa por um momento para ter certeza de que os dois já se afastaram o suficiente. Então, unindo minha força interior ao fato de ter passado as últimas cinco horas sendo seriamente provocada, coloco tudo para fora:
— Você tem razão de estar nervosa, Gia, porque neste momento sua colaboração nesse projeto está por um fio. Mas tenho certeza de que vamos ficar bem desde que você mantenha as mãos longe do meu marido.
Ela engasga.
— Senão, você está fora. Entendeu? — Enuncio cada palavra com clareza.
Ela pisca rapidamente, em completo atordoamento. Não consegue acreditar no que eu falei. Eu não consigo acreditar no que acabo de falar. Mas me mantenho firme, olhando impassivelmente dentro dos seus olhos castanhos que se arregalam cada vez mais.
Não recue. Não recue! Aprendi esse olhar enlouquecedoramente impassível com Christian, que consegue ser impassível como ninguém. Sei que reformar a residência principal dos Grey é um projeto de prestígio para a empresa de arquitetura de Gia — uma resplandecente cereja no seu bolo. Ela não pode perder essa comissão. E no momento não estou ligando a mínima para o fato de ela ser amiga do Elliot.
— Ana… Sra. Grey… P-por favor me desculpe. Eu nunca… — Ela ruboriza, sem saber mais o que dizer.
— Vou ser bem clara: meu marido não está interessado em você.
— Com certeza — murmura ela, ficando lívida.
— Como eu disse, só queria deixar claro.
— Sra. Grey, eu sinceramente lamento que a senhora tenha pensado… que eu… — Ela para, ainda procurando as palavras.
— Ótimo. Desde que a gente se entenda, vai dar tudo certo. Agora, vou lhe contar o que temos em mente para a suíte principal e então gostaria de receber uma lista de todos os materiais que você tem intenção de usar. Como sabe, Christian e eu estamos determinados a fazer dessa casa um local ecologicamente sustentável, e eu quero deixá-lo tranquilo quanto a todos os materiais e às suas origens.
— C-claro — gagueja ela, os olhos arregalados e, francamente, um pouco intimidada por mim. Essa é uma primeira vez. Minha deusa interior percorre a arena, acenando para a multidão delirante.
Gia mexe no cabelo, e percebo que é um gesto de nervosismo.
— A suíte principal? — repete ela, tensa, e sua voz é um sussurro sem fôlego.
Agora que tenho domínio da situação, sinto-me relaxada pela primeira vez desde o encontro com Christian hoje à tarde. Posso fazer isso. Minha deusa interior está celebrando sua megera interior.
* * *
CHRISTIAN VOLTA QUANDO estamos terminando.
— Tudo pronto? — pergunta ele, passando o braço pela minha cintura e se virando para Gia.
— Tudo, Sr. Grey. — Gia sorri com alegria, embora seu sorriso pareça forçado. — Daqui a alguns dias entrego as novas plantas para vocês.
— Excelente. Está feliz? — pergunta-me ele diretamente, seus olhos calorosos ao me sondar.
Confirmo com a cabeça e fico corada por alguma razão que não consigo entender.
— É melhor eu ir andando — diz Gia, de novo alegre demais.
Ela estende a mão primeiro para mim dessa vez, e depois para Christian.
— Até a próxima, Gia — murmuro.
— Até mais, Sra. Grey. Sr. Grey.
Taylor aparece à entrada da sala.
— Taylor vai acompanhar você à saída.
Falo alto o suficiente para que ele ouça. Mexendo no cabelo mais uma vez, ela gira em seus saltos e vai embora, seguida de perto por Taylor.
— Ela estava visivelmente mais fria — comenta Christian, olhando intrigado para mim.
— Estava? Nem notei. — Dou de ombros, tentando me manter neutra. — O que o Taylor queria? — pergunto, em parte porque estou curiosa e em parte porque quero mudar de assunto.
Franzindo o cenho, Christian me solta e começa a enrolar as plantas sobre a mesa.
— Era sobre o Hyde.
— O que tem o Hyde? — sussurro.
— Nada para se preocupar, Ana. — Deixando de lado as plantas, Christian me envolve nos braços. — Descobrimos que ele não aparece em casa há semanas, só isso.
Ele beija meu cabelo, então me solta e continua a enrolar os papéis.
— E então, o que vocês decidiram? — pergunta ele, e sei que é porque não quer que eu continue questionando-o sobre Hyde.
— Só o que eu e você já tínhamos discutido. Acho que ela gosta de você — digo calmamente.