Ele bufa.
— Você disse alguma coisa para ela? — pergunta ele, e eu fico vermelha.
Como ele descobriu? Sem saber o que dizer, olho para baixo, para os meus dedos.
— Éramos Christian e Ana quando ela chegou, e Sr. e Sra. Grey quando ela foi embora. — Seu tom é seco.
— Talvez eu tenha falado alguma coisa — murmuro.
Quando o espio, ele está me observando com carinho, e por um momento de descuido em sua armadura emocional ele parece… satisfeito. Então para de me olhar, balançando a cabeça, e sua expressão se transforma.
— Ela está apenas reagindo a este rosto. — Ele soa vagamente amargo, aborrecido até.
Ah, Christian, não!
— O que foi? — Ele fica confuso com minha expressão perplexa. Seus olhos se arregalam em preocupação. — Você não está com ciúmes, está? — pergunta, horrorizado.
Fico corada e engulo em seco; então olho para meus dedos cruzados. Estou?
— Ana, essa mulher é uma predadora sexual. Não faz nem um pouco o meu tipo. Como você pode ter ciúmes dela? Ou de qualquer outra mulher? Nada nela me interessa.
Quando ergo o olhar, ele está me fitando embasbacado como se tivesse crescido um terceiro braço em mim. Ele passa a mão pelo cabelo.
— É só você, Ana — diz calmamente. — E vai ser sempre só você.
Puxa. Abandonando as plantas mais uma vez, Christian vem até mim e segura meu queixo entre o polegar e o indicador.
— Como você pode pensar outra coisa? Eu já lhe dei algum sinal de que poderia estar remotamente interessado em outra pessoa? — Seus olhos fitam ardentemente os meus.
— Não — sussurro. — Estou sendo boba. É só porque hoje… você…
Todas as emoções conflitantes que eu senti mais cedo vêm à tona. Como posso expressar a confusão em que estou? Fiquei perplexa e frustrada com seu comportamento hoje à tarde no escritório. Em um minuto ele quer que eu fique em casa, no outro me dá uma empresa de presente. Assim fico perdida!
— O que tem eu?
— Ah, Christian — meu lábio inferior treme —, estou tentando me adaptar a essa nova vida que nunca imaginei para mim. Eu tenho tudo de bandeja: o emprego, você, meu marido lindo, a quem eu nunca… nunca pensei que amaria desse jeito, dessa forma tão intensa, tão rápida, tão… indelével.
Respiro fundo para me acalmar. Christian está boquiaberto. Continuo:
— Mas você é como um trator, e eu não quero ser arrastada, porque senão a garota por quem você se apaixonou vai ser esmagada. E o que restaria? Só um raio X social oco, transitando de um evento de caridade para outro. — Faço mais uma pausa, tentando encontrar as palavras capazes de transmitir como me sinto. — E agora você quer que eu seja a CEO de uma empresa, o que nunca foi minha intenção. Estou perdida entre todas essas ideias, estou me debatendo. Você quer que eu fique em casa. Você quer que eu administre uma empresa. É tão confuso…
Paro de falar, as lágrimas ameaçando escorrer, e reprimo um soluço.
— Você tem que me deixar tomar as minhas próprias decisões, correr meus próprios riscos e cometer meus próprios erros, deixar que eu aprenda com eles. Preciso aprender a andar antes de começar a correr, Christian, você não vê? Quero alguma independência. É isso o que o meu nome significa para mim. — Pronto, era isso o que eu queria falar para ele hoje à tarde.
— Você se sente arrastada? — sussurra ele.
Faço que sim com a cabeça.
Ele fecha os olhos, perturbado.
— Eu só quero lhe dar o mundo, Ana, tudo que você quiser, qualquer coisa. E também defender você do mundo. Proteger você. Mas ao mesmo tempo quero que todo mundo saiba que você é minha. Eu entrei em pânico hoje quando recebi o seu e-mail. Por que você não me avisou que ia manter seu nome?
Fico vermelha. Ele tem razão.
— Eu pensei nisso durante a nossa lua de mel, mas, bem, eu não queria estourar a nossa bolha, e acabei me esquecendo. Só me lembrei ontem à noite. E aí teve o Jack… você sabe, aquilo me distraiu. Desculpe, eu deveria ter contado ou discutido isso com você, mas parecia que eu nunca conseguiria encontrar o momento certo.
O jeito intenso de Christian me olhar é enervante. É como se ele tentasse entrar no meu cérebro, mas ele não diz nada.
— Por que você entrou em pânico? — pergunto.
— Só não quero deixar você escorregar por entre os meus dedos.
— Pelo amor de Deus, eu não vou a lugar algum. Quando é que você vai enfiar isso nessa sua cabeça dura? Eu. Amo. Você. — Faço um gesto no ar, como ele faz às vezes, para enfatizar o que digo. — Mais que… “a luz dos meus olhos, o espaço ou a liberdade”.
Seus olhos se arregalam.
— O amor de uma filha? — E abre um sorriso irônico.
— Não. — Rio, mesmo sem querer. — Foi a única citação que me veio à cabeça.
— O louco rei Lear?
— O querido rei Lear; querido e louco. — Acaricio seu rosto, e ele se inclina para receber meu toque, fechando os olhos. — Você mudaria o seu nome para Christian Steele para que todo mundo soubesse que você me pertence?
Seus olhos se abrem, e ele me encara como se eu tivesse acabado de dizer que o mundo é quadrado. Ele franze a testa.
— Que eu pertenço a você? — murmura, testando as palavras.
— Meu.
— Seu — repete ele, as mesmas palavras que dissemos no quarto de jogos ainda ontem. — Sim, eu mudaria. Se significasse tanto assim para você.
Ai, meu Deus.
— Significa tanto assim para você?
— Sim. — Ele é bem claro.
— Tudo bem.
Farei isso por ele. Vou lhe dar a segurança de que ele ainda precisa.
— Achei que você já tivesse concordado com isso.
— Sim, eu concordei, mas agora que discutimos melhor, estou mais feliz com a minha decisão.
— Ah — murmura ele, surpreso.
Então ele abre seu lindo sorriso juvenil, do tipo sim-eu-realmente-sou-meio-que-um-garoto, que me deixa sem fôlego. Agarrando-me pela cintura, Christian me balança. Solto um grito agudo e rio, e não sei se ele está apenas feliz ou aliviado ou… o quê?
— Sra. Grey, sabe o que isso significa para mim?
— E como.
Ele se inclina e me beija, os dedos penetrando por entre o meu cabelo, segurando-me firme.
— Significa sete níveis de domingo — murmura ele contra minha boca, e passa o nariz de leve no meu.
— Você acha? — Inclino-me para trás para encará-lo.
— Certas promessas foram feitas. Uma oferta concedida, um negócio intermediado — sussurra ele, os olhos brilhando com um deleite malicioso.
— Hmm… — Ainda estou meio perdida, tentando acompanhar suas variações de humor.
— Está me renegando? — pergunta ele, incerto, e uma expressão especulativa surge no seu rosto. — Tenho uma ideia.
Mais uma trepada sacana? O que será agora?
— Uma questão muito importante para resolver — continua ele, de repente todo sério de novo. — Sim, Sra. Grey. Uma questão da maior importância.
Espere aí — ele está rindo de mim.
— O que é? — pergunto.
— Preciso que você corte meu cabelo. Tenho a impressão de que está grande demais, e minha mulher não gosta.
— Eu não posso cortar o seu cabelo!
— Pode, sim.
Ele ri e balança a cabeça, fazendo seu cabelo cobrir os olhos.
— Bem, se a Sra. Jones tiver uma cuia para servir de molde… — Dou uma risada.
Ele também ri.
— Tudo bem, já entendi. Vou pedir ao Franco.
Ah, não! O Franco trabalha para a monstra filha da mãe! Talvez eu pudesse dar uma aparada. Afinal, corto o cabelo do Ray há anos e ele nunca reclamou.
— Venha.
Puxo-o pela mão. Ele arregala os olhos. Levo-o para o banheiro, onde o solto e pego a cadeira de madeira branca que fica no canto. Coloco-a em frente à pia. Quando olho para Christian, ele está me encarando, os polegares enfiados nos passadores de cinto da parte da frente da calça, mal disfarçando que acha aquilo tudo muito divertido; mas seus olhos estão ardentes, pegando fogo.