Ah, meu Cinquenta Tons. Tão carente em alguns aspectos. Quem diria? A imagem que tenho de Christian como um menininho sujo e infeliz me persegue. Acaricio delicadamente seu cabelo, agora mais curto, e minha melancolia desaparece. Ele se mexe, e seus olhos sonolentos encontram os meus. Ele pisca algumas vezes à medida que vai despertando.
— Oi — murmura ele, e sorri.
— Oi. — Adoro acordar com esse sorriso.
Ele se aninha nos meus seios e deixa escapar um gemido de apreciação, que vem bem do fundo da garganta. Suas mãos descem pelo meu corpo a partir da cintura, passando levemente sobre o frio cetim da minha camisola.
— Que tentação você é — murmura ele. — Mas, apesar da tentação — ele olha o relógio —, tenho que levantar.
Ele se espreguiça, se solta de mim e se levanta.
Eu me recosto na cabeceira da cama, coloco as mãos atrás da cabeça e aproveito o espetáculo: Christian tirando a roupa para entrar no banho. Ele é perfeito. Eu não mudaria um fio de cabelo dele.
— Admirando a vista, Sra. Grey? — Christian levanta uma sobrancelha irônica para mim.
— É uma bela vista, Sr. Grey.
Ele ri e joga a calça do pijama em mim de um jeito que quase cai no meu rosto, mas eu a pego a tempo, dando risadinhas como uma menina. Com um sorriso malicioso, ele puxa o edredom, coloca um joelho na cama, agarra meus tornozelos e me arrasta na direção dele, de modo que minha camisola sobe. Dou um grito agudo e ele engatinha por cima do meu corpo, deixando uma trilha de beijos no meu joelho, na minha coxa… na minha… ah… Christian!
* * *
— BOM DIA, Sra. Grey — cumprimenta-me a Sra. Jones.
Fico ruborizada, constrangida, recordando-me do seu momento de intimidade com Taylor ontem à noite.
— Bom dia — respondo enquanto ela me oferece uma xícara de chá.
Sento-me num banco alto ao lado do meu marido, que parece simplesmente radiante: recém-saído do banho, o cabelo molhado, usando uma camisa branca engomada e aquela gravata prateada. Minha preferida. Tenho deliciosas lembranças dela.
— Como vai, Sra. Grey? — pergunta ele, os olhos calorosos.
— Acho que você sabe, Sr. Grey. — E ergo o olhar com o rosto para baixo.
Ele sorri.
— Coma — ordena. — Você não comeu ontem.
Ah, meu Cinquenta Tons mandão!
— Eu não comi porque você estava sendo um babaca.
A Sra. Jones derruba alguma coisa com um estrondo na pia, fazendo-me pular de susto. Christian parece não se dar conta do barulho. Ignorando-a, ele continua a me olhar impassivo.
— Babaca ou não, coma. — Seu tom de voz é sério. Não vou discutir.
— Tudo bem! Pegando a colher, comendo granola… — murmuro, como uma adolescente petulante.
Pego o iogurte grego e coloco um pouco sobre o meu cereal, seguido de um punhado de blueberries. Olho de esguelha na direção da Sra. Jones e ela capta o meu olhar. Sorrio, e ela abre um sorriso caloroso em resposta. Ela providenciou o meu café da manhã preferido, que me foi apresentado durante a nossa lua de mel.
— Talvez eu tenha que ir a Nova York no final da semana. — O anúncio do Christian interrompe meus devaneios.
— Ah.
— Devo dormir uma noite lá. Quero que você vá comigo.
— Christian, eu não vou ter folga.
Ele me olha daquele seu jeito que diz “Ah, jura? Mas eu sou o seu chefe”. Solto um suspiro.
— Sei que você é o dono da empresa, mas eu passei três semanas fora. Por favor. Como você espera que eu administre um negócio se nunca estou lá? Vou ficar bem. Presumo que você vá levar o Taylor, mas o Sawyer e o Ryan vão estar aqui… — Paro de falar, porque Christian está sorrindo para mim. — O quê? — pergunto rispidamente.
— Nada. Só você — diz ele.
Fecho a cara. Ele está rindo de mim? Então um pensamento horrível surge na minha mente.
— Como você vai para Nova York?
— No jatinho da empresa. Por quê?
— Só queria saber se você iria no Charlie Tango. — Minha voz sai baixa e um arrepio desce pela minha espinha.
Eu me lembro da última vez que ele voou nesse helicóptero. Uma onda de náusea me atinge quando me recordo das horas tensas que passei à espera de notícias. Deve ter sido o momento mais difícil da minha vida. Noto que a Sra. Jones também ficou imóvel. Tento descartar esse pensamento.
— Eu não poderia ir a Nova York no Charlie Tango. Ele não tem autonomia para um voo desses. Além disso, os engenheiros só vão liberá-lo daqui a duas semanas.
Graças aos céus. Meu sorriso é em parte de alívio, mas também de satisfação em saber que o desaparecimento do Charlie Tango ocupou grande parte da atenção e do tempo de Christian ao longo das últimas semanas.
— Bem, fico feliz que o conserto esteja quase pronto, mas…
Paro de falar. Será que posso lhe contar que vou ficar muito nervosa da próxima vez que ele entrar naquele helicóptero?
— O que foi? — pergunta ele, terminando o omelete.
Dou de ombros.
— Ana? — insiste ele, dessa vez mais firme.
— Eu só… Você sabe. Da última vez que você voou nele… Eu pensei… todos pensamos… que você tinha… — Não consigo terminar a frase, e a expressão de Christian se suaviza.
— Ei. — Ele acaricia meu rosto com as costas dos dedos. — Aquilo foi sabotagem.
Uma expressão sombria cruza seu rosto, e por um momento me pergunto se ele sabe quem foi o responsável.
— Eu não aguentaria perder você — murmuro.
— Cinco pessoas foram demitidas por causa daquilo, Ana. Não vai acontecer de novo.
— Cinco?
Ele confirma com a cabeça, a expressão séria.
Caramba!
— Isso me lembra uma coisa. Tem uma arma na sua gaveta.
Ele franze a testa diante do meu comentário fora de propósito e, provavelmente, também pelo meu tom acusatório, embora não fosse essa a minha intenção.
— É da Leila — diz ele finalmente.
— Está completamente carregada.
— Como você sabe? — Ele franze ainda mais a testa.
— Eu vi ontem.
Ele me olha zangado.
— Não quero você mexendo com armas. Espero que tenha colocado de volta a trava de segurança.
Fico sem reação por um momento, estupefata.
— Christian, aquele revólver não tem trava de segurança. Você não entende nada de armas?
Seus olhos se arregalam.
— Hã… Não.
Taylor tosse discretamente à entrada. Christian assente com a cabeça para ele.
— Temos que ir — diz Christian.
Ele se levanta, distraído, e veste o paletó cinza. Vou atrás dele pelo corredor.
Ele está com a arma da Leila. Estou chocada com essa novidade, e me pergunto rapidamente o que terá acontecido com ela. Será que ainda está em… onde é mesmo? Algum lugar no leste. New Hampshire? Não consigo me lembrar.
— Bom dia, Taylor — diz Christian.
— Bom dia, Sr. e Sra. Grey.
Ele nos cumprimenta com um aceno de cabeça, mas toma o cuidado de não me olhar nos olhos. Fico aliviada, lembrando de como estava pouco coberta quando esbarramos um com o outro ontem à noite.
— Vou só escovar os dentes — murmuro.
Christian sempre escova os dentes antes do café da manhã. Não entendo por quê.
* * *
— VOCÊ DEVERIA PEDIR ao Taylor para ensiná-lo a atirar — digo quando estamos no elevador. Christian me encara com um ar de quem acha graça.
— Deveria, é? — diz ele secamente.
— Sim.
— Anastasia, eu tenho desprezo por armas. Minha mãe cuidou de muitas vítimas de crimes com armas de fogo e meu pai condena veementemente as armas. Eu cresci imbuído desse espírito. Ajudo pelo menos duas iniciativas para o controle de armas aqui em Washington.