Ela abre um enorme sorriso. Reviro os olhos em modéstia. Estou usando um vestido creme com um cinto azul-marinho e sapatos de salto alto da mesma cor.
— Que bom ver você, Kate. — E retribuo seu abraço.
— Então, aonde vamos?
— Christian quer que a gente fique em casa.
— Ah, sério? Não podemos fugir para um drinque rápido no Café Zig Zag? Eu reservei uma mesa.
Abro a boca para protestar.
— Por favor… — choraminga ela, e faz um beicinho gracioso.
Kate deve estar pegando essa mania da Mia. Ela normalmente não faz beicinho. Eu realmente gostaria de tomar um drinque no Zig Zag. Foi tão divertido da última vez que fomos lá, e é perto de onde Kate mora.
Levanto o dedo indicador.
— Um.
Ela sorri.
— Um.
Kate me dá o braço e vamos passeando até o carro, que está estacionado no meio-fio, Sawyer ao volante. Somos seguidas pela Srta. Belinda Prescott, que é nova na equipe de segurança — uma mulher alta, negra, com uma postura direta e objetiva. Ainda tenho que quebrar o gelo entre nós, talvez por ela ser tão fria e profissional. Nenhuma decisão foi tomada ainda, mas, assim como os outros da equipe, ela foi escolhida a dedo por Taylor. Prescott está vestida como Sawyer, com um terninho escuro e formal.
— Pode nos levar ao Zig Zag, por favor, Sawyer?
Sawyer se vira para me olhar e eu sei que ele quer dizer alguma coisa. Obviamente recebeu ordens. Ele hesita.
— O Café Zig Zag. Vamos tomar só um drinque.
Dou uma olhadela de lado para Kate: ela está encarando Sawyer com hostilidade. Pobre homem.
— Sim, madame.
— O Sr. Grey solicitou que a senhora voltasse para o apartamento — intromete-se Prescott.
— O Sr. Grey não está aqui — falo rispidamente. — Para o Zig Zag, por favor.
— Madame — replica Sawyer, com um olhar de esguelha para Prescott, que sabiamente segura a língua.
Kate olha pasma para mim, como se não conseguisse acreditar no que vê e ouve. Franzo os lábios e dou de ombros. Tudo bem, então estou sendo um pouco mais assertiva do que eu costumava ser. Kate faz que sim com a cabeça enquanto Sawyer arranca com o carro rumo ao trânsito do início da noite.
— Você sabe que a Grace e a Mia estão enlouquecendo com o reforço na segurança — comenta Kate casualmente.
Olho para ela boquiaberta, pareço estúpida.
— Você não sabia? — Ela parece incrédula.
— Sabia do quê?
— A segurança para todos os Grey foi triplicada. Quadruplicada, até.
— Sério?
— Ele não contou para você?
Fico vermelha.
— Não. — Porra, Christian! — Você sabe por quê?
— Jack Hyde.
— O que tem o Jack? Pensei que ele estivesse atrás só do Christian — exclamo.
Meu Deus. Por que ele não me disse?
— Desde segunda-feira — acrescenta Kate.
Segunda-feira? Hmm… Nós identificamos Jack no domingo. Mas por que todos os Grey?
— Como você sabe de tudo isso?
— Elliot.
Claro.
— Christian não falou nada disso para você, não é?
Fico vermelha mais uma vez.
— Não.
— Ah, Ana, que droga.
Suspiro. Como sempre, Kate enfiou o punhal bem no coração, no seu costumeiro estilo impiedoso de enfiar punhais.
— Você sabe por quê?
Se Christian não vai me contar, talvez Kate conte.
— Elliot disse que tem a ver com alguma informação que foi armazenada no computador do Jack Hyde quando ele trabalhava na SIP.
Droga.
— Você está brincando.
Um surto de raiva cresce dentro de mim. Como a Kate sabe disso e eu não?
Ergo o olhar e vejo Sawyer me observando pelo retrovisor. Então o sinal abre e ele arranca, olhando para a rua à frente. Levo o dedo aos lábios e Kate concorda com a cabeça. Aposto que Sawyer sabe também e eu não.
— Como vai Elliot? — pergunto, para mudar de assunto.
Kate sorri estupidamente, dizendo-me tudo o que eu preciso saber.
Sawyer para ao sair do túnel que leva ao Café Zig Zag, e Prescott abre a porta para mim. Saio do carro e Kate salta atrás de mim. Damos os braços e vagueamos pela passagem, seguidas por Prescott, que está com uma expressão ameaçadora no rosto. Ah, pelo amor de Deus, é só um drinque. Sawyer vai estacionar.
* * *
— E ENTÃO, DE ONDE Elliot conhece a Gia? — pergunto, tomando um gole do meu segundo mojito de morango.
O bar é íntimo e aconchegante e eu não quero ir embora. Kate e eu não paramos de falar. Eu havia esquecido como gosto de estar com ela. É uma sensação libertadora sair, relaxar, aproveitar a companhia da minha amiga. Penso em mandar uma mensagem de texto para Christian, mas descarto a ideia. Ele só vai ficar zangado e me obrigar a ir para casa como uma criança desobediente.
— Não me fale daquela vaca! — solta Kate.
A reação dela me faz rir.
— O que tem de tão engraçado nisso, Steele? — reclama ela, mas sei que é de brincadeira.
— Eu também não gosto dela.
— Ah, é?
— É. Ela ficava toda se jogando em cima do Christian.
— Ela teve um caso com Elliot. — Kate faz bico.
— Não!
Ela confirma com a cabeça, os lábios apertados e o rosto fechado numa carranca Katherine Kavanagh devidamente patenteada.
— Coisa rápida. Ano passado, eu acho. É uma alpinista social. Não me admira que tenha se interessado pelo Christian.
— Christian já tem dona. Eu disse a ela para deixá-lo em paz, ou então não trabalharia mais para mim.
Kate me olha boquiaberta de novo, atordoada. Confirmo com a cabeça, orgulhosa, e ela levanta o copo para fazer um brinde, impressionada e sorridente.
— Sra. Anastasia Grey! Muito bem!
Brindamos.
* * *
— ELLIOT TEM uma arma?
— Não. Ele é totalmente contra. — Kate mexe seu terceiro drinque.
— Christian também. Acho que foi influência de Grace e Carrick — murmuro. Estou me sentindo um pouco tonta.
— Carrick é um homem bom.
— Ele queria um acordo pré-nupcial — murmuro tristemente.
— Ah, Ana. — Ela estende a mão por cima da mesa e pega no meu braço. — Ele só estava protegendo o filho dele. Como nós duas sabemos, está escrito golpe do baú na sua testa. — Ela sorri, e eu mostro a língua para ela, depois dou uma risada.
— Muito maduro, Sra. Grey — diz ela, sorrindo. Parece Christian falando. — Você vai fazer a mesma coisa pelo seu filho um dia.
— Meu filho?
Nunca havia passado pela minha cabeça que meus filhos seriam ricos. Droga. Eles vão ter tudo o que quiserem. Quer dizer… tudo mesmo. Isso exige mais reflexão — mas não agora. Dou uma olhada em Prescott e Sawyer, que estão sentados a uma mesa próxima, diante de copos de água mineral com gás, observando os muitos frequentadores da noite e a nós duas.
— Você acha que devemos comer? — pergunto.
— Não. Devemos beber — diz Kate.
— Por que você está tão a fim de beber?
— Porque quase não vejo mais você. Não imaginei que você fosse se casar com o primeiro cara que virasse a sua cabeça. — Ela faz beicinho de novo. — Sinceramente, você se casou tão rápido que eu pensei que estivesse grávida.
Dou uma risada.
— Todo mundo pensou isso. Mas não vamos voltar a esse assunto. Por favor! E eu preciso ir ao banheiro.
Prescott me acompanha. Ela não fala nada. E não precisa. A desaprovação irradia dela como um gás letal.
— Não saio sozinha desde que me casei — articulo as palavras, sem emitir som, para a porta fechada da cabine.
Faço uma careta, sabendo que ela está do outro lado da porta, esperando eu terminar de fazer xixi. O que exatamente Hyde faria em um bar, aliás? Christian está apenas exagerando, como de costume.