— Como ele entrou? — pergunto, ignorando seu tom de voz.
— Pelo elevador de serviço. Ele é bem ousado, madame.
Olho para a figura caída de Jack. Ele está usando um uniforme esfarrapado — um macacão, eu acho.
— Quando?
— Uns dez minutos atrás. Eu vi no monitor de segurança. Ele estava de luvas… Meio estranho em pleno verão. Então o reconheci e decidi deixá-lo entrar. Assim poderíamos pegar o sujeito. A senhora não estava aqui e Gail estava segura, então achei que seria agora ou nunca. — Mais uma vez Ryan parece satisfeito consigo mesmo; Sawyer olha para ele com ar de desaprovação.
Luvas? O pensamento me distrai, e dou mais uma olhada em Jack. Sim, ele está usando luvas de couro marrom. Assustador.
— E agora? — Tento descartar os desdobramentos que surgem na minha cabeça.
— Precisamos amarrá-lo — responde Ryan.
— Amarrá-lo?
— Para o caso de ele acordar. — Ryan dirige um olhar rápido para Sawyer.
— Do que você precisa? — pergunta a Sra. Jones, dando um passo à frente. Ela recuperou a compostura.
— Alguma coisa para prender; barbante ou corda — responde Ryan.
Braçadeiras. Fico ruborizada quando as lembranças da noite passada invadem minha mente. Esfrego os punhos reflexivamente e dou uma olhada rápida na pele do locaclass="underline" não, nenhuma marca. Ainda bem.
— Eu tenho braçadeiras. Serve?
Todos os olhos se voltam para mim.
— Sim, madame. Perfeito — diz Sawyer, todo sério.
Quero que o chão me engula, mas me viro e vou até o quarto. Às vezes é preciso simplesmente encarar as coisas de frente, sem pudores. Talvez seja a combinação do medo com o álcool que está me deixando audaciosa.
Quando retorno, a Sra. Jones está conferindo a bagunça no hall e a Srta. Prescott chegou. Entrego as braçadeiras a Sawyer, que, devagar e com um cuidado desnecessário, prende as mãos de Hyde às costas. A Sra. Jones desaparece na cozinha e volta com um kit de primeiros socorros. Ela pega o braço de Ryan e o leva até a entrada do salão, para cuidar do corte em seu supercílio. Ele se encolhe quando ela passa de leve um antisséptico. Então reparo na Glock no chão, com um silenciador acoplado. Puta merda! Jack estava armado? A bile sobe à minha garganta e eu tento segurar.
— Não toque, Sra. Grey — diz Prescott quando eu me inclino para pegar a arma.
Sawyer surge do escritório de Taylor com luvas de borracha.
— Eu cuido disso, Sra. Grey — diz ele.
— É dele? — pergunto.
— Sim, madame — diz Ryan, estremecendo mais uma vez devido aos cuidados da Sra. Jones.
Minha nossa. Ryan lutou com um homem armado na minha casa. O pensamento me dá arrepios. Sawyer se abaixa e pega cuidadosamente a Glock.
— Você deveria estar fazendo isso? — pergunto.
— O Sr. Grey esperaria isso de mim, madame.
Sawyer coloca a arma em um saco plástico e se agacha para revistar Jack. Ele para e, do bolso do homem, puxa apenas um pouco para fora um rolo de fita adesiva. Sawyer fica branco e enfia a fita de volta.
Fita adesiva? Minha mente registra de maneira vaga essa informação, enquanto observo os procedimentos fascinada e com um estranho desinteresse. Então a bile sobe à minha garganta de novo quando percebo as implicações disso. Rapidamente afasto esses pensamentos da minha cabeça. Não pense nisso, Ana.
— Não devemos chamar a polícia? — murmuro, tentando esconder meu medo. Quero Hyde fora da minha casa, e quanto mais cedo melhor.
Ryan e Sawyer se entreolham.
— Acho que deveríamos chamar a polícia — digo, dessa vez mais firme, me perguntando o que estará acontecendo entre os dois.
— Acabei de tentar falar com o Taylor, mas ele não atende o celular. Talvez esteja dormindo. — Sawyer olha para o relógio. — É uma e quarenta e cinco da manhã na Costa Leste.
Ah, não.
— Você ligou para o Christian? — sussurro.
— Não, madame.
— Estava ligando para o Taylor para pedir instruções?
Sawyer parece constrangido por um momento.
— Sim, madame.
Uma parte de mim se arrepia. Esse homem — dou mais uma olhada para Hyde — invadiu minha casa e precisa ser retirado pela polícia. Porém, olhando para os quatro, para seus olhos ansiosos, sinto que tem alguma coisa que eu não sei ou não percebi; então, decido ligar para Christian. Meu couro cabeludo está formigando. Sei que ele está bravo comigo — muito, muito bravo —, e hesito ao imaginar o que ele vai falar. E sei que ele vai ficar estressado porque não está aqui e só poderá estar amanhã à noite. Sei que já o preocupei o suficiente esta noite. Talvez eu não devesse ligar. E então algo me ocorre. Merda. E se eu estivesse aqui? Fico lívida diante dessa ideia. Graças aos céus, eu estava fora. Talvez minha desobediência não cause tanto problema afinal.
— Ele está bem? — pergunto, apontando para Jack.
— Ele vai sentir o crânio dolorido quando acordar — responde Ryan, olhando para Jack com desprezo. — Mas precisaríamos chamar os paramédicos para ter certeza.
Pego meu BlackBerry da bolsa e, antes que eu possa pensar muito na extensão da raiva de Christian, disco seu número. Cai direto na caixa postal. Ele deve ter desligado o telefone de tão irritado que está. Não consigo pensar no que falar. Virando-me de costas, vou para o início do corredor, para longe de todos.
— Oi. Sou eu. Por favor, não fique zangado. Tivemos um incidente no apartamento. Mas está tudo sob controle, então não se preocupe. Ninguém se machucou. Quando puder, ligue para mim. — Desligo. — Chame a polícia — ordeno a Sawyer.
Ele concorda com um aceno de cabeça, pega seu celular e dá o telefonema.
* * *
O OFICIAL SKINNER conduz uma intensa conversa com Ryan à mesa de jantar. O oficial Walker está com Sawyer no escritório de Taylor. Não sei onde Prescott está, talvez no escritório de Taylor também. O detetive Clark me enche de perguntas ríspidas, sentado ao meu lado no sofá da sala. Ele é alto, moreno e seria bonito se não fosse pela imutável cara fechada. Suspeito de que ele tenha sido acordado e tirado da sua cama quentinha porque a casa de um dos executivos mais influentes e ricos de Seattle foi invadida.
— Ele era seu chefe? — pergunta Clark sucintamente.
— Era.
Estou cansada — exausta mesmo — e quero dormir. Ainda não tive notícias de Christian. Pelo menos os paramédicos já removeram Hyde. A Sra. Jones entrega uma xícara de chá para o detetive Clark e outra para mim.
— Obrigado. — Clark se vira de volta para mim. — E onde está o Sr. Grey?
— Em Nova York. A negócios. Ele volta amanhã à noite. Quer dizer, hoje à noite. — Já passa da meia-noite.
— Hyde é nosso conhecido — murmura o detetive Clark. — Vou precisar que a senhora vá à delegacia prestar depoimento. Mas isso pode esperar. Está tarde, e já tem alguns repórteres acampados na calçada. A senhora se importa se eu der uma olhada por aí?
— Claro que não — digo, aliviada por que as perguntas dele acabaram.
Estremeço ao pensar nos fotógrafos lá fora. Bem, eles só serão um problema amanhã. Tenho que lembrar de ligar para minha mãe e Ray caso eles venham a saber de alguma coisa e fiquem preocupados.
— Sra. Grey, por que não vai se deitar? — sugere a Sra. Jones, sua voz cheia de carinho e preocupação.
Olhando nos seus olhos calorosos e gentis, repentinamente sinto uma necessidade esmagadora de chorar. Ela se aproxima e acaricia meu ombro.
— Estamos em segurança agora — murmura ela. — Tudo isso vai parecer melhor de manhã, depois que a senhora tiver dormido um pouco. E o Sr. Grey volta à noite.
Olho nervosa para ela, mal contendo as lágrimas. Christian vai ficar tão bravo.
— A senhora deseja alguma coisa antes de ir para a cama? — pergunta ela.