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Percebo agora como estou com fome.

— Adoraria alguma coisa para comer.

Ela abre um sorriso.

— Um sanduíche e um copo de leite?

Aceito agradecida, e ela vai para a cozinha. Ryan ainda está com o oficial Skinner. No hall, o detetive Clark examina a bagunça à saída do elevador. Ele parece atencioso, apesar da expressão fechada. E subitamente fico com saudades — saudades de Christian. Segurando a cabeça entre as mãos, desejo fervorosamente que ele estivesse aqui. Ele saberia o que fazer. Que noite. Quero me aconchegar no seu colo, sentir seu abraço e ouvi-lo dizer que me ama, muito embora eu não faça o que ele manda — mas isso só será possível à noite. No fundo, sinto certa irritação… Por que ele não me disse que havia aumentado a segurança para todo mundo? O que exatamente havia no computador de Jack? Ele é tão frustrante, mas no momento eu não me importo. Quero meu marido. Sinto falta dele.

— Aqui está, querida.

É a Sra. Jones, interrompendo meu turbilhão interior. Quando ergo o olhar, ela me entrega um sanduíche de manteiga de amendoim e geleia, os olhos brilhantes. Não como um desses há anos. Sorrio timidamente e ataco meu lanche.

Quando finalmente me deito na cama, me encolho do lado de Christian, vestindo uma camiseta sua. Tanto o travesseiro quanto a roupa têm o cheiro dele, e, ao adormecer, silenciosamente desejo que ele volte para casa em segurança… e de bom humor.

* * *

ACORDO COM UM sobressalto. Já está claro e minha cabeça dói, latejando nas têmporas. Ah, não. Espero que não seja ressaca. Abrindo os olhos com cautela, percebo que a cadeira do quarto não está no mesmo lugar e que Christian está sentado nela. Ele está de smoking, a ponta da gravata-borboleta saindo do bolso do paletó. Será que estou sonhando? Seu braço esquerdo está apoiado na cadeira, e na sua mão há um copo de vidro decorado contendo um líquido âmbar. Conhaque? Uísque? Não tenho ideia. Uma de suas longas pernas está cruzada sobre a outra, o tornozelo sobre o joelho. Ele está usando meias pretas e sapatos sociais. Seu cotovelo direito descansa no braço da cadeira, a mão no queixo, e ele passa o dedo indicador devagar e ritmadamente de um lado a outro do lábio inferior. Sob a luz do começo da manhã, seus olhos queimam com intensidade e gravidade, mas sua expressão geral é completamente indecifrável.

Meu coração quase para. Ele está aqui. Como chegou? Deve ter partido de Nova York à noite. Há quanto tempo ele está aqui, me olhando dormir?

— Oi — sussurro.

Ele me olha friamente e meu coração quase para mais uma vez. Ah, não. Ele tira o dedo comprido da boca, engole o restante do drinque e coloca o copo na mesa de cabeceira. Eu meio que espero um beijo, mas ele não faz isso. Apenas se recosta, continuando a me observar, a expressão impassível.

— Olá — diz ele finalmente, a voz baixa. E sei que ainda está zangado. Muito zangado.

— Você voltou.

— Parece que sim.

Devagar, eu levanto o corpo para me colocar sentada, sem tirar os olhos dele. Minha boca está seca.

— Há quanto tempo você está aí me observando dormir?

— Tempo suficiente.

— Ainda está zangado. — Mal consigo falar.

Ele me encara, como se refletisse sobre a resposta.

— Zangado — repete ele, como se testasse a palavra, pesando suas nuances, seus significados. — Não, Ana. Estou muito, muito mais que zangado.

Droga. Tento engolir, mas é difícil com a boca seca.

— Muito mais que zangado… Isso não parece bom.

Ele me fita, completamente impassivo, e não responde. Um silêncio absoluto se instala entre nós. Pego o meu copo d’água e tomo um gole, tentando controlar meus batimentos cardíacos.

— Ryan pegou o Jack. — Tento um outro caminho e coloco meu copo ao lado do dele na mesa de cabeceira.

— Eu sei — responde ele, gelado.

Claro que ele sabe.

— Vai ficar monossilábico por muito tempo?

As sobrancelhas dele se movem ligeiramente, registrando sua surpresa, como se ele não esperasse essa pergunta.

— Vou — diz ele finalmente.

Ah… tudo bem. O que fazer? Defesa — a melhor forma de ataque.

— Sinto muito por ter saído.

— Sente mesmo?

— Não — murmuro depois de uma pausa, porque é a verdade.

— Então por que disse isso?

— Porque eu não quero que você fique bravo comigo.

Ele suspira pesadamente, como se estivesse segurando essa tensão há mil horas, e passa a mão pelo cabelo. Ele está lindo. Furioso, mas lindo. Fico aliviada por vê-lo ali — ele voltou —, furioso, mas inteiro.

— Acho que o detetive Clark quer falar com você.

— Com certeza.

— Christian, por favor…

— Por favor o quê?

— Não seja tão frio.

Suas sobrancelhas se arqueiam de surpresa mais uma vez.

— Anastasia, frieza não é o que eu estou sentindo no momento. Estou queimando por dentro. Queimando de raiva. Não sei como lidar com esses… — ele levanta a mão, procurando a palavra — … sentimentos. — Seu tom é amargo.

Ah, merda. A honestidade dele me desarma. Tudo o que quero é sentar no seu colo. É o que eu quero fazer desde que voltei para casa ontem à noite. Que se dane. Vou até ele, pegando-o de surpresa e deitando constrangedoramente no seu colo, onde me aninho. Ao contrário do que eu temia, ele não me afasta. Depois de um tempo, ele dobra os braços em volta de mim e enterra o nariz no meu cabelo. Christian está cheirando a uísque. Quanto ele bebeu? Também sinto o cheiro da sua loção de banho. Cheiro de Christian. Abraço seu pescoço e me aconchego em sua garganta, e ele suspira mais uma vez, agora profundamente.

— Ah, Sra. Grey. O que eu faço com você?

Ele beija a minha cabeça. Fecho os olhos, saboreando nosso contato.

— Quanto você bebeu?

Ele fica imóvel.

— Por quê?

— Você não costuma tomar nada forte.

— Esse é o meu segundo copo. Tive uma noite exaustiva, Anastasia. Dê um desconto.

Eu sorrio.

— Se você insiste, Sr. Grey — sussurro em seu pescoço. — Você está divinamente cheiroso. Dormi do seu lado da cama, porque o travesseiro tem o seu cheiro.

Ele faz carinho no meu cabelo.

— Foi isso, então? Fiquei me perguntando por que você estava daquele lado. Ainda estou com muita raiva de você.

— Eu sei.

Sua mão acaricia ritmadamente minhas costas.

— E eu de você — sussurro.

Ele faz uma pausa.

— E o que eu fiz, me diga, para merecer a sua ira?

— Eu digo mais tarde, quando você não estiver mais queimando de raiva.

Beijo seu pescoço. Ele fecha os olhos e se inclina para o meu beijo, mas não faz nenhum movimento para me beijar de volta. Seus braços me apertam com mais força.

— Quando eu penso no que poderia ter acontecido… — Sua voz é quase um suspiro. Débil, embargada.

— Eu estou bem.

— Ah, Ana. — É quase um soluço.

— Eu estou bem. Estamos todos bem. Um pouco abalados. Mas Gail está bem. Ryan está bem. E Jack se foi.

Ele balança a cabeça.

— Embora você não tenha nenhum crédito nisso — murmura ele.

O quê? Inclino-me para trás e o encaro com frieza.

— O que você quer dizer?

— Não quero discutir sobre isso agora, Ana.

Bem, talvez eu queira, mas é melhor não. Pelo menos ele está falando comigo. Eu me aninho no seu colo mais uma vez. Seus dedos sobem para a minha cabeça e começam a brincar com meu cabelo.

— Quero punir você — sussurra ele. — Espancar você até não poder mais.

Meu coração parece saltar pela boca. Porra.

— Eu sei — sussurro, sentindo meu couro cabeludo formigar.

— Talvez eu faça isso.

— Espero que não.