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Ele me abraça mais apertado.

— Ana, Ana, Ana. Até um santo perderia a paciência com você.

— Eu poderia acusá-lo de muitas coisas, Sr. Grey, mas não de ser santo.

Finalmente sou abençoada com sua risada relutante.

— É verdade; sempre usando bons argumentos, Sra. Grey. — Ele beija minha testa e se remexe na cadeira. — Volte para a cama. Você dormiu tarde também. — E, com um movimento rápido, ele me pega e me joga de volta no colchão.

— Deita comigo?

— Não. Tenho umas coisas para fazer. — Ele se inclina e pega o copo. — Volte a dormir. Eu acordo você daqui a algumas horas.

— Ainda está zangado comigo?

— Estou.

— Vou dormir mais, então.

— Ótimo. — Ele me cobre e beija minha testa mais uma vez. — Durma.

E, como ainda estou atordoada pela noite passada, além de aliviada por ele já ter voltado e emocionalmente fatigada pelo nosso reencontro, faço exatamente o que ele manda. Enquanto adormeço, fico curiosa mas aliviada, dado o gosto horroroso na minha boca, em saber por que ele não se utilizou do seu costumeiro mecanismo de lidar com essas situações e não avançou sobre mim com sua típica perversidade.

* * *

— AQUI: SUCO DE LARANJA para você — diz Christian, e meus olhos se abrem de novo.

Tive as duas horas de sono mais repousantes de que me lembro, e acordo renovada, a cabeça não mais latejando. O suco de laranja é uma visão feliz — assim como meu marido. Ele está de moletom. E eu momentaneamente me recordo do Hotel Heathman e da primeira vez que acordei a seu lado. Sua camiseta regata cinza está encharcada de suor. Ou ele andou malhando na academia do porão ou saiu para dar uma corrida, mas ele não deveria ficar tão bonito assim depois de fazer exercícios.

— Vou tomar um banho — murmura ele, e desaparece no banheiro.

Franzo a testa. Ele continua distante. Ou está distraído, com tudo o que aconteceu, ou ainda está com raiva ou… o quê? Ergo o corpo, sentando-me, e pego o suco de laranja, que bebo rápido. Está delicioso, geladinho, tornando a minha boca um lugar muito melhor. Desço da cama, ansiosa para diminuir a distância — real e metafísica — entre meu marido e eu. Dou uma olhada rápida para o relógio. São oito horas. Tiro a camiseta de Christian que eu estava vestindo e vou atrás dele no banheiro. Encontro-o no chuveiro, lavando o cabelo, e não hesito. Coloco-me muito discretamente atrás dele, que se enrijece no momento em que o envolvo em meus braços — a parte da frente do meu corpo contra as suas costas musculosas e molhadas. Ignoro sua reação; continuo segurando-o apertado, e colo a face na sua pele, fechando os olhos. Depois de um momento ele muda de posição, de forma que estamos ambos embaixo do chuveiro de água quente, e continua lavando o cabelo. Deixo a água correr pelo meu corpo enquanto me aninho junto ao homem que amo. Penso em todas as vezes que transamos e em todas as vezes que ele fez amor comigo aqui. Franzo o cenho. Ele nunca ficou tão quieto. Virando a cabeça, começo a traçar uma linha de beijos nas suas costas. Seu corpo se enrijece de novo.

— Ana — diz ele; é um alerta.

— Hmm…

Desço as mãos devagar pelo seu abdômen firme. Ele segura minhas duas mãos, interrompendo-me abruptamente, balançando a cabeça.

— Não. — Mais um alerta.

Eu o solto na mesma hora. Ele está dizendo não? Minha mente entra em queda livre — isso já aconteceu antes? Meu inconsciente balança a cabeça, os lábios apertados, e me encara através dos seus óculos de meia-lua, com aquela sua expressão de você-realmente-abusou-dessa-vez. Eu me sinto como se tivesse levado um tapa, um tapa bem forte. Rejeitada. E uma vida inteira de insegurança produz o pensamento horroroso de que ele não me quer mais. Respiro com dificuldade, pois a dor me queima por dentro. Mas então Christian se vira, e fico aliviada de ver que ele não está completamente imune aos meus encantos. Pegando no meu queixo, ele inclina minha cabeça para trás, e eu me pego fitando seus olhos circunspectos e cinzentos.

— Ainda estou puto da vida com você — diz ele, numa voz baixa e séria.

Merda! Inclinando-se para baixo, ele descansa a testa na minha, fechando os olhos. Acaricio seu rosto.

— Não fique zangado comigo, por favor. Acho que você está exagerando — sussurro.

Ele fica tenso, pálido. Minha mão cai livre ao lado do meu corpo.

— Exagerando? — rosna ele. — Um lunático maldito entra no meu apartamento para sequestrar a minha mulher e você acha que eu estou exagerando! — A ameaça contida na voz dele é aterrorizante, e seus olhos me encaram com uma fúria que é como se eu fosse o lunático maldito.

— Não… hã… não era disso que eu estava falando. Achei que você estivesse assim porque eu dei uma saída.

Ele fecha os olhos mais uma vez, como se estivesse com dor, e balança a cabeça.

— Christian, eu não estava aqui — digo, na tentativa de apaziguá-lo e tranquilizá-lo.

— Eu sei — sussurra ele, abrindo os olhos. — E tudo porque você não consegue atender uma merda de um pedido tão simples. — Seu tom é amargo, e é minha vez de empalidecer. — Não quero discutir isso agora, no banho. Ainda estou puto com você, Anastasia. Você está me fazendo repensar certas coisas.

Ele se vira e sai de supetão do box, pegando uma toalha no caminho para o quarto, deixando-me fria e desolada debaixo da água.

Merda. Merda. Merda.

Então finalmente compreendo o que ele acabou de dizer. Sequestrar? Cacete. Jack queria me sequestrar? Lembro-me então da fita adesiva, e da minha resistência em pensar sobre o motivo para Jack estar carregando aquilo consigo. Será que Christian tem mais informações? Eu me lavo às pressas, depois passo xampu e condicionador no cabelo. Eu quero saber. Eu preciso saber. Não vou permitir que ele me deixe no escuro nessa história.

Christian não está no quarto quando eu saio. Caramba, como ele se arruma rápido. Faço o mesmo, colocando meu vestido preferido, aquele cor de ameixa, e sandálias pretas, e percebo que escolhi essa roupa porque é também uma das preferidas de Christian. Seco o cabelo vigorosamente com a toalha, depois faço um trança e a prendo num coque. Colocando brincos de brilhante nas orelhas, corro até o banheiro para passar um pouco de rímel e me olho no espelho. Estou pálida. Estou sempre pálida. Respiro fundo; tenho que me controlar. Preciso encarar as consequências da minha decisão impetuosa de me divertir um pouco com uma amiga. Suspiro, pois sei que Christian não vai encarar dessa maneira.

Não o encontro na sala. A Sra. Jones está ocupada na cozinha.

— Bom dia, Ana — diz ela, com doçura.

— Bom dia.

Abro um largo sorriso para ela. Voltei a ser Ana!

— Chá?

— Sim, obrigada.

— Alguma coisa para comer?

— Por favor. Eu queria um omelete hoje.

— Com cogumelos e espinafre?

— E queijo.

— Já está saindo.

— Cadê o Christian?

— O Sr. Grey está no escritório.

— Ele já tomou café? — Olho para os dois lugares postos no balcão.

— Não, madame.

— Obrigada.

Christian está ao telefone. Está vestindo uma camisa branca sem gravata, a visão perfeita de um CEO relaxado. Como as aparências enganam! Talvez ele nem vá à empresa hoje. Ele ergue o olhar quando apareço à porta, mas balança a cabeça para mim, indicando que não sou bem-vinda. Merda… Eu me viro e volto cabisbaixa para o balcão da cozinha. Taylor aparece, elegante em um terno escuro, com a aparência de quem desfrutou de oito horas de sono ininterruptos.

— Bom dia, Taylor — murmuro, tentando avaliar seu humor e ver se ele vai me dar alguma dica visual sobre o que aconteceu.

— Bom dia, Sra. Grey — responde ele, e percebo solidariedade nessas quatro palavras.

Retribuo com um sorriso compassivo, sabendo que ele teve que aturar um Christian raivoso e frustrado voltando para Seattle bem antes do previsto.