— Como foi o voo? — ouso perguntar.
— Longo, Sra. Grey. — Sua concisão diz mais do que mil palavras. — Como está a senhora, se me permite a pergunta? — acrescenta ele, num tom mais suave.
— Estou bem.
Ele assente com a cabeça.
— Se me der licença…
E ele vai para o escritório de Christian. Hmm. Taylor pode entrar, mas eu não.
— Aqui está.
A Sra. Jones coloca meu café da manhã na minha frente. Meu apetite já era, mas eu como mesmo assim, pois não quero ofendê-la.
Quando termino de comer o máximo que consigo, Christian ainda não saiu do escritório. Será que ele está me evitando?
— Obrigada, Sra. Jones — murmuro, descendo do banco e indo ao banheiro.
Enquanto escovo os dentes, lembro do mau humor em que Christian ficou por causa dos votos do casamento. Ele também se entocou no escritório na ocasião, só de pirraça. Será que é isso? Pirraça? Então sinto um arrepio ao me lembrar do pesadelo que ele teve logo depois. Será que aquilo vai acontecer de novo? Nós realmente precisamos conversar. Preciso saber sobre Jack e lhe perguntar sobre o reforço da segurança para os Grey — todos os detalhes que foram ocultados de mim, mas não de Kate. Obviamente, Elliot conversa decentemente com ela.
Olho o relógio. São oito e cinquenta — estou atrasada para o trabalho. Termino de escovar os dentes, passo um pouquinho de gloss na boca, pego meu paletó preto superleve e volto para a sala. É um alívio ver que Christian está lá, tomando seu café da manhã.
— Está saindo? — pergunta ele quando me vê.
— Para o trabalho? Sim, claro.
Corajosamente, vou até ele e apoio as mãos na ponta do balcão. Ele me encara sem expressão alguma.
— Christian, nós voltamos não faz nem uma semana. Tenho que ir trabalhar.
— Mas…
Ele para de falar e passa a mão no cabelo. A Sra. Jones sai silenciosamente do recinto. Discrição, Gail, discrição.
— Sei que temos muito o que conversar. Talvez, se você tiver se acalmado, a gente possa fazer isso de noite.
Sua boca se abre em espanto.
— Acalmado? — Sua voz está assustadoramente suave.
Fico vermelha.
— Você sabe o que eu quero dizer.
— Não, Anastasia. Não sei o que você quer dizer.
— Não quero brigar. Só vim perguntar se eu posso ir no meu carro.
— Não. Não pode — responde ele, rispidamente.
— Tudo bem. — Aquiesço de imediato.
Ele me olha desarmado. Estava obviamente esperando que eu criasse caso.
— A Prescott vai acompanhar você. — Seu tom é um pouco menos beligerante.
Droga, a Prescott não. Quero fazer bico e protestar, mas decido acatar o que ele diz. Agora que Jack foi pego, com certeza poderemos amenizar as medidas de segurança.
Recordo-me da conversa ao estilo “palavras de sabedoria” que tive com minha mãe na véspera do meu casamento. Ana, querida, você realmente terá que escolher que batalhas lutar. E vai ser a mesma coisa com os seus filhos quando você os tiver. Bem, pelo menos ele está me deixando ir trabalhar.
— Tudo bem — balbucio.
E como não quero deixá-lo assim com tantas questões não resolvidas e tanta tensão entre nós, eu me aproximo hesitantemente. Seu corpo se tensiona, os olhos quase se arregalam, e por um momento ele parece tão vulnerável que me toca lá no fundo escuro do meu coração. Ah, Christian, eu sinto muito. Dou um beijo casto no canto da sua boca. Ele fecha os olhos como se saboreasse imensamente meu toque.
— Não me odeie — sussurro.
Ele pega minha mão.
— Eu não odeio você.
— Você não me deu nem um beijo — sussurro.
Ele me olha com suspeita.
— Eu sei — murmura.
Quero desesperadamente lhe perguntar por quê, mas não sei se quero ouvir a resposta. Então, bruscamente, ele se levanta e segura meu rosto entre as mãos, e no segundo seguinte sua boca está colada na minha, buscando-me com violência. Solto uma exclamação de surpresa, inadvertidamente concedendo acesso à sua língua. Ele aproveita a chance, invadindo minha boca, clamando por mim, e logo quando estou começando a retribuir o beijo ele me solta, a respiração mais rápida.
— O Taylor vai levar você e a Prescott para a SIP — diz Christian, os olhos ardendo de avidez. — Taylor! — grita ele.
Fico ruborizada, tentando recuperar a compostura.
— Sim, senhor. — Taylor surge à porta.
— Diga à Prescott que a Sra. Grey está indo para o trabalho. Você pode levar as duas, por favor?
— Certamente. — E, virando-se, Taylor desaparece.
— Se você pudesse tentar não se meter em nenhuma confusão hoje, eu agradeceria — balbucia Christian.
— Vou ver o que posso fazer.
Sorrio docemente. Um pequeno e relutante sorriso aparece em seu rosto, mas ele não se deixa entregar.
— Até mais tarde, então — diz friamente.
— Até mais tarde — sussurro.
Prescott e eu pegamos o elevador de serviço até a garagem subterrânea, para evitar a mídia do lado de fora. A prisão de Jack e o fato de que ele foi apreendido no nosso apartamento são agora de conhecimento público. Ao entrar no Audi, pergunto-me se haverá mais paparazzi esperando na SIP, como no dia do anúncio do nosso noivado.
Percorremos algumas ruas em silêncio por um tempo, até eu me lembrar de ligar primeiro para Ray e depois para minha mãe, a fim de tranquilizá-los e dizer que eu e Christian estamos bem. Felizmente, ambos os telefonemas são curtos, e quando desligo estamos justamente chegando à SIP. Como eu temia, há um aglomerado de repórteres e fotógrafos esperando. Eles se viram todos de uma vez, olhando com expectativa para o Audi.
— Tem certeza de que quer fazer isso, Sra. Grey? — pergunta Taylor.
Parte de mim quer ir para casa, mas isso significaria passar o dia com o Sr. Ardendo de Raiva. Espero que, com um pouco de tempo, ele comece a ver as coisas por outra perspectiva. Jack está detido na polícia; logo, Christian deveria estar feliz, mas não está. Parte de mim entende a razão; esse problema está quase totalmente fora do seu controle, inclusive eu, mas não tenho tempo para pensar nisso agora.
— Taylor, dê a volta até o portão para carga e descarga, por favor.
— Sim, madame.
* * *
É UMA HORA da tarde e eu consegui ficar imersa no trabalho a manhã toda. Batem à porta e Elizabeth coloca a cabeça para dentro.
— Posso entrar um momento? — pergunta ela alegremente.
— Claro — murmuro, surpresa pela sua visita não agendada.
Ela entra e se senta, jogando para trás o longo cabelo preto.
— Só queria ver se você está bem. O Roach me pediu para dar uma passada aqui — acrescenta apressadamente, seu rosto ficando vermelho. — Sabe, depois de tudo o que aconteceu ontem à noite…
A prisão de Jack Hyde está em todos os jornais, mas ninguém parece ter feito a conexão com o incêndio na empresa de Christian ainda.
— Estou bem — respondo, tentando não pensar muito profundamente sobre como me sinto.
Jack queria me fazer mal. Bem, isso não é novidade. Ele já havia tentado antes. É com Christian que estou mais preocupada.
Olho rapidamente o meu e-mail. Ainda não há nenhum novo dele. Não sei se eu deveria escrever algo ou se estaria apenas provocando mais ainda o Sr. Ardendo de Raiva.
— Que bom — responde Elizabeth, e, uma vez na vida, seu sorriso parece sincero. — Se eu puder fazer alguma coisa… qualquer coisa que você precise… é só me falar.
— Pode deixar.
Ela se levanta.
— Eu sei como você está ocupada, Ana. Vou deixá-la voltar ao trabalho.
— Hm… Obrigada.
Essa deve ter sido a reunião mais curta e mais sem sentido do hemisfério ocidental no dia de hoje. Por que Roach a mandou aqui? Talvez ele esteja preocupado, já que sou a esposa do seu chefe. Afasto os pensamentos sombrios e pego meu BlackBerry, na esperança de que haja uma mensagem de Christian. Nesse momento, soa o meu e-mail do trabalho.