— Conversei muito com o Sr. Grey esta manhã. Ele parece aliviado. Homem interessante, o seu marido.
O senhor não tem ideia.
— É, acho que sim.
Dirijo-lhe um sorriso educado, e ele sabe que está sendo dispensado.
— Caso se lembre de mais alguma coisa, pode me ligar. Aqui está meu cartão. — Com esforço, ele tira um cartão da carteira e me entrega.
— Obrigada, detetive. Pode deixar.
— Tenha um bom dia, Sra. Grey.
— Bom dia.
Quando ele sai, me pergunto quais exatamente são as acusações contra Hyde. Sem dúvida, Christian não vai me contar. Aperto os lábios, irritada.
* * *
VOLTAMOS EM SILÊNCIO até o Escala. Sawyer é quem dirige dessa vez, Prescott a seu lado, e meu coração fica cada vez mais pesado ao nos aproximamos de casa. Sei que Christian e eu vamos brigar, e não sei se tenho energia para isso.
Enquanto o elevador da garagem leva Prescott e eu à cobertura, tento ordenar meus pensamentos. O que eu quero falar? Acho que disse tudo por e-mail. Talvez ele me dê algumas respostas. Espero que sim. Não consigo não ficar nervosa. Meu coração bate acelerado, minha boca está seca, e minhas mãos suam. Não quero brigar. Mas às vezes ele é difícil demais, e eu preciso fincar o pé.
A porta do elevador se abre, revelando o hall, que está novamente limpo e arrumado. A mesa foi reerguida, e sobre ela há um novo vaso, guarnecido com um lindo arranjo de peônias brancas e cor-de-rosa. Verifico as pinturas ao entrar — as Madonas todas parecem intactas. A porta quebrada já foi consertada e voltou a funcionar; Prescott a abre gentilmente para mim. Ela esteve muito quieta hoje. Acho que prefiro assim.
Largo minha maleta no hall e entro na enorme sala de estar. Paro. Puta merda.
— Boa noite, Sra. Grey — diz Christian suavemente.
Ele está de pé ao lado do piano, vestindo uma camiseta preta justa e uma calça jeans… Aquela calça — a que ele usava no quarto de jogos. Ai, meu Deus. É uma calça de um azul-claro lavado e desbotado, rasgada no joelho — justa e excitante. Ele vem calmamente até mim, os pés descalços, o botão da calça aberto, os olhos ardentes fixos nos meus.
— Que bom que você chegou. Eu estava à sua espera.
CAPÍTULO ONZE
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—Estava, é? — sussurro.
Minha boca fica ainda mais seca, meu coração batendo forte no peito. Por que Christian está vestido assim? O que isso significa? Ele ainda está bravo?
— Sim. — Sua voz é muito suave, mas ele sorri maliciosamente ao vir em minha direção.
Ele está muito gato — a calça jeans caindo no quadril bem daquele jeito. Ah, não, não vou me distrair pelo Sr. Tesão Ambulante. Tento descobrir seu estado de espírito enquanto ele se aproxima aos poucos. Zangado? Brincalhão? Excitado? Grrr! Impossível dizer.
— Gostei da sua calça — murmuro.
Ele abre um sorriso feroz e irresistível, mas seus olhos permanecem sérios. Merda — ele ainda está bravo. Está usando esses artifícios para me distrair. Christian para na minha frente e eu me sinto queimar sob a intensidade de seu olhar. Ele me fita, os olhos bem abertos e ilegíveis ardendo nos meus. Engulo em seco.
— Parece que você tem algumas questões para resolver, Sra. Grey — diz ele delicadamente, e puxa algo do bolso traseiro da calça.
Não consigo desviar o olhar do dele, mas o ouço desdobrar um pedaço de papel. Ele o ergue, e, dando uma olhada rápida naquela direção, reconheço meu e-mail. Volto a fitá-lo; seus olhos ardem de raiva.
— Sim, eu tenho algumas questões para resolver — sussurro, sem fôlego.
Preciso de distância se vamos discutir isso. Mas antes que eu possa dar um passo para trás, ele se inclina e encosta o nariz no meu. Meus olhos quase se fecham, e eu saboreio esse toque leve e inesperado.
— Eu também tenho — sussurra ele contra a minha pele, e abro os olhos ao ouvir essas palavras. Ele empertiga o corpo e me encara intensamente mais uma vez.
— Acho que já conheço bem as suas questões, Christian.
Minha voz soa ácida, e ele aperta os olhos, reprimindo o ar divertido que surge neles momentaneamente. Vamos brigar? Dou um passo para trás por precaução. Preciso me distanciar fisicamente dele — do seu cheiro, do seu olhar, do seu corpo nessa calça jeans sensual que me distrai. Ele franze o cenho quando eu me afasto.
— Por que você voltou de Nova York? — pergunto, num sussurro. Vamos acabar logo com isso.
— Você sabe por quê. — Seu tom carrega um sinal de advertência.
— Por que eu saí com Kate?
— Porque você não cumpriu sua palavra e me desafiou, correndo um risco desnecessário.
— Não cumpri minha palavra? É assim que você vê? — digo, ofegante, ignorando o resto da sua frase.
— É.
Droga. Isso é que é exagero! Começo a revirar os olhos em reprovação, mas paro quando ele me olha de cara feia.
— Christian, eu mudei de ideia — explico devagar, pacientemente, como se ele fosse uma criança. — Sou uma mulher. Somos conhecidas por mudar de ideia o tempo todo. É o que fazemos.
Ele pisca como se não compreendesse.
— Se eu tivesse pensado, por um minuto que fosse, que você cancelaria sua viagem…
As palavras me faltam. Percebo que não sei o que dizer. Sou momentaneamente catapultada de volta à discussão sobre nossos votos. Eu nunca prometi obedecer você, Christian. Mas seguro a língua, porque no fundo estou feliz que ele tenha voltado. Apesar de sua fúria, estou feliz de vê-lo aqui, inteiro, zangado e supersexy à minha frente.
— Quer dizer que você mudou de ideia? — Ele não consegue conter a incredulidade e o desdém.
— Isso.
— E por que não me ligou? — Ele me encara com censura, incrédulo, antes de continuar: — Além do mais, você deixou a equipe de segurança em falta aqui, colocando o Ryan em risco.
Bem, eu não tinha pensado nisso.
— Eu deveria ter ligado, mas não queria preocupar você. Se eu ligasse, você com certeza me proibiria de ir, e eu estava com saudades de Kate. Queria me encontrar com ela. Além disso, estando no bar, acabei ficando fora do caminho de Jack. Ryan não deveria tê-lo deixado entrar.
Isso é tão confuso… Se Ryan não tivesse feito isso, Jack ainda estaria solto.
Seus olhos brilham selvagemente e depois se fecham, o rosto se enrugando como se ele estivesse sentindo dor. Ah, não. Ele balança a cabeça e, antes que eu me dê conta, ele já me abraçou, puxando-me forte contra si.
— Ah, Ana — sussurra ele ao me apertar mais, de forma que mal consigo respirar. — Se alguma coisa acontecesse com você… — Sua voz mal passa de um sussurro.
— Não aconteceu nada — consigo dizer.
— Mas poderia ter acontecido. Eu morri mil vezes hoje pensando o que poderia ter acontecido. Eu estava furioso, Ana. Furioso com você. Furioso comigo mesmo. Com todo mundo. Não consigo me lembrar de já ter sentido tanta raiva assim… exceto… — Ele para de novo.
— Exceto?
— Uma vez no seu antigo apartamento. Quando Leila estava lá.
Ah. Não quero pensar nisso.
— Você estava tão frio hoje de manhã — murmuro.
Minha voz falha na última palavra, quando me lembro do terrível sentimento de rejeição no banho. Suas mãos sobem para a minha nuca, deixando-me mais solta, e eu respiro profundamente. Ele puxa minha cabeça para trás.
— Não sei como lidar com essa raiva. Acho que eu não quero machucar você — diz ele, os olhos bem abertos e atentos. — Hoje de manhã eu queria punir você, punir mesmo, e… — Ele para, provavelmente perdido nas palavras ou com muito medo de proferi-las.