— Eu sei quando você está revirando os olhos… e você sabe como eu me sinto em relação a isso.
Aperto os lábios.
— Podemos acabar logo com isso? — falo rispidamente.
— Quanta impaciência, Sra. Grey. Tão ansiosa para conversar. — Seu tom é brincalhão.
— Isso mesmo!
— Preciso alimentá-la antes — diz ele, e esfrega os lábios na minha têmpora, acalmando-me instantaneamente.
Tudo bem… Como você quiser. Eu me conformo com meu destino e fico ouvindo seus movimentos pela cozinha. A porta da geladeira se abre e Christian coloca vários pratos no balcão atrás de mim. Depois vai até o micro-ondas, põe alguma coisa lá dentro e o liga. Minha curiosidade fica aguçada. Ouço o barulho da torradeira, o controle sendo girado e o som baixo do timer. Hmm… torrada?
— Isso aí. Estou doida para conversar — murmuro, distraída.
Uma variedade de aromas picantes e exóticos enche a cozinha e eu me mexo ansiosa na cadeira.
— Fique parada, Anastasia. — Ele está perto de mim de novo. — Quero que você se comporte… — sussurra.
Ai, meu Deus.
— E não morda o lábio.
Delicadamente, ele puxa meu lábio inferior, tirando-o dos meus dentes, e não consigo evitar um sorriso.
Depois, ouço o estouro nítido de uma rolha de cortiça saindo de uma garrafa e o som suave de vinho sendo servido em uma taça. Então um momento de silêncio, seguido por um estalido e pelo suave ruído branco das caixas de som surround quando elas ganham vida. O som alto e metálico de um violão começa uma música que eu não conheço. Christian abaixa o volume para manter um som ambiente. Um homem começa a cantar, uma voz grave, baixa e sensual.
— Um drinque primeiro, eu acho — sussurra Christian, tirando minha atenção da música. — Cabeça para trás. — Inclino a cabeça ligeiramente. — Mais — ordena ele.
Obedeço, e seus lábios estão nos meus. Um vinho fresco e seco escorre para dentro da minha boca. Engulo por reflexo. Nossa. Lembranças de não muito tempo atrás me vêm à mente — eu amarrada na minha cama em Vancouver, antes de me formar, com um Christian sexy e bravo por causa do meu e-mail. Hmm… Os tempos mudaram? Não muito. Exceto que agora eu reconheço o vinho, o preferido de Christian — um Sancerre.
— Hmm — murmuro em aprovação.
— Gostou do vinho? — sussurra ele, a respiração quente contra a minha face.
Estou inebriada com sua proximidade, sua vitalidade, o calor irradiando do seu corpo, embora ele não me toque.
— Gostei — balbucio.
— Mais?
— Eu sempre quero mais com você.
Quase ouço-o sorrir. O que faz com que eu sorria também.
— Sra. Grey, está flertando comigo?
— Estou.
Ouço sua aliança tinindo contra a taça quando ele toma mais um gole de vinho. Que som sensual… Dessa vez ele puxa minha cabeça bem para trás e me ampara. Ele me beija novamente e, com avidez, engulo o vinho que me oferece. Ele sorri e me beija de novo.
— Está com fome?
— Achei que já tivéssemos definido isso, Sr. Grey.
O trovador no iPod está cantando sobre jogos perversos. Hmm… que adequado.
O micro-ondas apita e Christian me solta. Empertigo-me no banco. A comida tem um cheiro picante: alho, menta, orégano, alecrim e cordeiro, acho. A porta do micro-ondas se abre e o cheiro apetitoso fica ainda mais forte.
— Merda! Droga! — pragueja Christian, e um prato cai com estrondo sobre o balcão.
Ah, meu Cinquenta Tons!
— Tudo bem aí?
— Sim! — responde ele, rispidamente, a voz contida. Um instante depois, ele está de pé ao meu lado mais uma vez.
— Acabei de me queimar. Aqui. — Ele coloca o dedo indicador dentro da minha boca. — Por que não dá um beijo para passar?
— Opa. — Pegando sua mão, puxo seu dedo devagar de dentro da minha boca. — Pronto, pronto — conforto-o, e, inclinando-me para a frente, sopro, esfriando sua pele, e então o beijo duas vezes, delicadamente.
Ele para de respirar. Engulo seu dedo de novo e chupo suavemente. Ele inspira com força, e o som vai até a minha virilha. Seu gosto é delicioso como sempre, e eu percebo que este é o seu jogo: seduzir a esposa lentamente. Pensei que ele estivesse zangado, mas agora…? Este homem, meu marido, me confunde. Mas é assim que eu gosto dele. Brincalhão. Divertido. Sexy de doer. Ele me deu algumas respostas, mas sou gananciosa. Quero mais, mas também quero brincar. Depois da ansiedade e da tensão de hoje, além do pesadelo de ontem à noite, com Jack, essa é uma distração bem-vinda.
— Em que está pensando? — murmura Christian, interrompendo meus pensamentos ao puxar o dedo da minha boca.
— Em como você é inconstante.
Ele fica parado ao meu lado.
— Cinquenta Tons, baby — diz ele finalmente, e me dá um beijo terno no canto da boca.
— Meu Cinquenta Tons — sussurro. E, agarrando-o pela camiseta, puxo-o para mim.
— Ah, não faça isso, Sra. Grey. Sem contato físico… ainda não.
Ele pega minha mão, tira-a da sua camiseta e beija um dedo de cada vez.
— Sente-se direito — ordena ele.
Faço um beicinho.
— Vou bater em você se fizer beicinho. Agora abra bem a boca.
Ah, merda. Abro a boca e ele enfia um garfo cheio de cordeiro picante coberto com um molho refrescante, de menta e iogurte. Hmm. Mastigo.
— Gostou?
— Gostei.
Ele faz um barulho de quem saboreia algo, e sei que também está comendo e gostando.
— Mais?
Aquiesço. Ele me dá outra garfada e mastigo entusiasmadamente. Então ele abaixa o garfo e corta… pão, eu acho.
— Abra — ordena ele.
Dessa vez é pão pita com homus. Percebo que a Sra. Jones — ou talvez até Christian — andou fazendo compras na delicatessen que eu descobri há cerca de cinco semanas a apenas dois quarteirões do Escala. Mastigo aliviada. Christian brincalhão aumenta meu apetite.
— Mais? — pergunta ele.
Faço que sim com a cabeça.
— Mais de tudo. Por favor. Estou morrendo de fome.
Ouço-o sorrir com deleite. Lenta e pacientemente ele me alimenta, de vez em quando beijando uma migalha no canto da minha boca ou limpando com os dedos. E ocasionalmente me oferecendo um gole de vinho à sua maneira singular.
— Abra bem a boca, depois dê uma mordida — murmura ele.
Sigo seu comando. Hmm… Adoro isso, charuto de uva. Mesmo frio é delicioso, embora eu prefira quente, mas não quero que Christian se queime de novo. Ele me dá aos poucos, e, quando acabo, lambo seus dedos.
— Mais? — pergunta ele, a voz baixa e rouca.
Nego com a cabeça. Estou satisfeita.
— Que bom — sussurra ele no meu ouvido —, porque está na hora do meu prato preferido. Você.
Ele me levanta nos braços, surpreendendo-me tanto que dou um gritinho agudo.
— Posso tirar a venda?
— Não.
Quase faço beicinho, mas me lembro da ameaça e penso melhor.
— Quarto de jogos — murmura ele.
Oh. Não sei se é uma boa ideia.
— Que tal um desafio? — pergunta ele.
E como ele usou a palavra desafio, não posso dizer não.
— Manda ver — digo, sentindo meu corpo ser atravessado pelo desejo e por algo cujo nome não quero mencionar. Ele passa pela porta me carregando, e então sobe as escadas para o segundo andar.
— Acho que você emagreceu — balbucia ele, em desaprovação.
Será? Ótimo. Eu me recordo do seu comentário quando voltamos da lua de mel e de como aquilo me magoou. Nossa — faz só uma semana?
Antes de entrar no quarto de jogos ele me faz deslizar pelo seu corpo e me coloca de pé, mas mantém o braço em volta da minha cintura. Rapidamente ele destranca a porta.