— Bem, então pare de me tratar como se eu fosse uma submissa. Lamento por não ter ligado. Não vou mais ser tão egoísta. Sei que você se preocupa comigo.
Ele me fita, me examinando de perto, os olhos tristes e ansiosos.
— Tudo bem. Está certo — diz finalmente.
Ele se inclina para baixo, mas para antes que seus lábios toquem os meus, silenciosamente pedindo permissão. Levanto a cabeça para ele, que me beija ternamente.
— Sua boca fica sempre tão macia depois que você chora — murmura ele.
— Eu nunca prometi obedecer você, Christian — sussurro.
— Eu sei.
— Aprenda a lidar com isso, por favor. Para o nosso bem. E eu vou tentar ter mais consideração com as suas… tendências controladoras.
Ele parece perdido e vulnerável, completamente desnorteado.
— Vou tentar — balbucia ele, sua voz transbordando sinceridade.
Deixo escapar um suspiro, um longo e trêmulo suspiro.
— Por favor, tente. Além disso, se eu estivesse aqui…
— Eu sei — diz ele, e empalidece.
Deitando-se para trás, Christian cobre o rosto com o braço livre. Eu me enrosco nele e coloco a cabeça no seu peito. Ficamos deitados por alguns momentos em silêncio. Sua mão se move para a ponta da minha trança e ele tira o elástico, soltando meu cabelo. Delicada e ritmadamente, começa a penteá-lo com os dedos. Então a questão toda é esta: seu medo… seu medo irracional quanto à minha segurança. Uma imagem de Jack Hyde estirado no chão do nosso apartamento com uma Glock me vem à cabeça… Bem, talvez não tão irracional, o que me lembra…
— O que você quis dizer mais cedo quando falou ou? — pergunto.
— Ou?
— Alguma coisa sobre o Jack.
Ele me fita.
— Você não desiste, não é?
Repouso o queixo no seu esterno, aproveitando o carinho tranquilizador dos seus dedos no meu cabelo.
— Desistir? Nunca. Quero que me diga. Não gosto que escondam as coisas de mim. A sua noção quanto à minha necessidade de proteção é muito exagerada. Você nem sabe atirar; e eu sei. Você acha que eu não vou conseguir enfrentar isso que você não quer me contar, seja lá o que for? A sua ex-submissa obcecada já apontou uma arma para mim, sua ex-amante pedófila já me atormentou; e não me olhe dessa maneira — falo rispidamente quando ele me olha de cara feia. — Sua mãe tem a mesma opinião em relação a ela.
— Você conversou com a minha mãe sobre Elena? — sua voz sobe algumas oitavas.
— Sim, Grace e eu conversamos sobre ela.
Ele me olha embasbacado.
— Ela ficou muito aborrecida com tudo aquilo. Sua mãe se culpa pelo que aconteceu.
— Não acredito que você falou com a minha mãe. Merda! — Ele se deita e coloca o braço sobre o rosto de novo.
— Não falei nada específico.
— Espero que não. A Grace não precisa saber de todos os detalhes sórdidos. Por Deus, Ana. Meu pai também?
— Não! — Balanço a cabeça veementemente. Não tenho esse tipo de relacionamento com Carrick. Seus comentários sobre o acordo pré-nupcial ainda me incomodam. — Mas você está tentando me distrair; de novo. O Jack. O que tem ele?
Christian levanta o braço por uns instantes e me encara, sua expressão indecifrável. Suspirando, ele cobre o rosto novamente.
— O Hyde está envolvido na sabotagem do Charlie Tango. Os investigadores acharam parte de uma impressão digital; apenas parte, então não conseguiram fazer uma comparação exata. Mas então você o reconheceu na sala do servidor. Ele tem algumas condenações de quando era menor, em Detroit, e as impressões correspondiam com a dele.
Minha mente repassa os fatos enquanto tento absorver essa informação. Jack derrubou o Charlie Tango? Mas Christian não para por aí:
— Hoje de manhã, uma van de carga foi encontrada aqui na garagem. Quem dirigia era o Hyde. Ontem ele entregou alguma merda para aquele vizinho novo, o que acabou de se mudar. O sujeito que encontramos no elevador.
— Não me lembro do nome dele.
— Eu também não — diz Christian. — Mas foi assim que Hyde conseguiu entrar no edifício legitimamente. Estava trabalhando para uma empresa de entregas…
— E…? O que tem de tão importante com a van?
Ele não fala nada.
— Christian, me conte.
— Os policiais encontraram… umas coisas na van. — Ele para de novo, e me aperta ainda mais em seus braços.
— Que coisas?
Ele fica quieto por alguns instantes, e eu abro a boca para pressioná-lo, mas ele fala:
— Um colchão, tranquilizante de cavalo em quantidade suficiente para apagar uma dúzia de cavalos e um bilhete. — Sua voz diminuiu ao ponto de tornar-se quase um sussurro, o horror e a repulsa tomando conta dele.
Puta merda.
— Bilhete? — Minha voz soa igual à dele.
— Endereçado a mim.
— O que dizia?
Christian balança a cabeça, indicando que não sabe ou que não vai mencionar o conteúdo.
Oh.
— Ele veio aqui ontem à noite com a intenção de sequestrar você.
Christian congela, o rosto rígido de tensão. Quando ele fala essas palavras, me recordo da fita adesiva, e um arrepio me percorre, embora no fundo isso não seja novidade para mim.
— Merda — balbucio.
— Pois é — diz Christian, tenso.
Tento me lembrar de Jack no trabalho. Ele sempre foi louco? Como ele pôde pensar que se sairia bem dessa? Quer dizer, ele era bem esquisito, mas tão desvairado assim?
— Não entendo por quê — murmuro. — Não faz sentido para mim.
— Eu sei. A polícia está investigando mais a fundo, e o Welch também. Mas achamos que Detroit é a conexão.
— Detroit? — Eu o encaro, confusa.
— Sim. Tem alguma coisa lá.
— Ainda não entendo.
Christian levanta o rosto e me olha fixamente, a expressão indecifrável.
— Ana, eu nasci em Detroit.
CAPÍTULO DOZE
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—Pensei que você tivesse nascido aqui em Seattle — murmuro.
Minha mente está a mil. O que isso tem a ver com Jack? Christian levanta o braço que lhe cobria o rosto, estende-o para trás e pega um dos travesseiros. Colocando-o sob a cabeça, ele se acomoda e me fita com uma expressão de cautela. Depois de um momento, ele balança a cabeça.
— Não. Tanto Elliot quanto eu fomos adotados em Detroit. Viemos para cá logo depois da minha adoção. Grace queria morar na Costa Oeste, longe da expansão urbana, e arranjou um trabalho no hospital Northwest. Tenho poucas lembranças dessa época. Mia foi adotada aqui.
— Então o Jack é de Detroit?
— É.
Puxa…
— Como você sabe?
— Fiz um levantamento do passado do Jack quando você foi trabalhar com ele.
Mas é claro.
— Você também tem um arquivo com informações sobre ele, num envelope de papel pardo e tudo? — Abro um sorriso irônico.
Ele torce a boca, achando graça mas disfarçando.
— Acho que é uma pasta azul-clara.
Seus dedos continuam a afagar meu cabelo; é tranquilizador.
— O que consta no arquivo dele?
Christian apenas pisca. Inclinando-se para baixo, ele acaricia minha bochecha.
— Quer realmente saber?
— É tão ruim assim?
Ele dá de ombros.
— Já vi piores.
Não! Será que ele está se referindo a si mesmo? E a imagem que tenho de Christian como um garotinho perdido, amedrontado e sujo me vem à mente. Eu me aconchego nele, apertando-o, puxando o lençol por cima do seu corpo, e deito o rosto em seu peito.
— O que foi? — pergunta ele, intrigado com a minha reação.
— Nada — murmuro.
— Não, não. Isso serve para os dois lados, Ana. O que foi?