— Tudo bem com você? — pergunta Kate agudamente. — Quer dizer, depois de toda essa história com o Hyde?
Faço que sim com a cabeça. Não quero pensar ou falar em Hyde, mas as intenções de Kate parecem ser diferentes das minhas.
— E então, por que ele enlouqueceu? — pergunta ela, indo direto ao ponto, no seu estilo inimitável. Ela joga o cabelo para trás, preparando-se para investigar a história mais a fundo.
Olhando-a friamente, Christian dá de ombros.
— Eu botei aquele filho da puta no olho da rua — diz ele, sem rodeios.
— Ah, é? Por quê? — Kate inclina a cabeça para o lado, e eu sei que ela está incorporando totalmente Nancy Drew.
— Ele deu em cima de mim — murmuro.
Tento chutar a canela de Kate por baixo da mesa, mas não acerto. Merda!
— Quando? — Kate me encara com avidez.
— Já faz séculos.
— Você nunca me contou que ele deu em cima de você! — solta ela.
Dou de ombros como que me desculpando.
— Não pode ser só ressentimento por conta disso, ah, mas não mesmo. Afinal, foi uma reação muito extremada — continua Kate, e agora ela direciona as perguntas a Christian: — Ele é mentalmente instável? E quanto a toda a informação que ele tem sobre vocês, os Grey?
Vê-la interrogando Christian dessa maneira faz meus pelos se eriçarem, mas ela já estabeleceu para si mesma que eu não sei de nada, então não pode me fazer mais perguntas. Pensar nisso me irrita.
— Achamos que tem alguma relação com Detroit — diz Christian calmamente. Calmamente demais. Ah, não, Kate, desista disso por enquanto.
— O Hyde também é de Detroit?
Christian aquiesce.
O avião acelera, e eu aperto a mão de Christian com mais força. Ele me lança um olhar tranquilizador. Christian sabe que eu detesto pousos e decolagens. Ele aperta minha mão e, com o polegar, afaga os nós dos meus dedos, acalmando-me.
— O que você realmente sabe sobre ele? — pergunta Elliot, ignorando o fato de que estamos nos movendo rapidamente pela pista em um jatinho prestes a se lançar ao ar, e ignorando igualmente a crescente irritação de Christian com Kate. Ela se inclina para a frente, ouvindo atentamente.
— O que eu vou dizer é confidencial — diz Christian, dirigindo-se diretamente a ela. A boca de Kate vira uma linha fina mas sutil. Engulo em seco. Ah, merda.
— Sabemos um pouco sobre Jack — continua Christian. — O pai dele morreu numa briga de bar. A mãe bebeu até perder a consciência. Ele passou a infância pulando de orfanato em orfanato… e de confusão em confusão também. A maioria por roubo de carros. Passou um tempo no reformatório. A mãe superou o alcoolismo com a ajuda de algum programa de reabilitação, e o Hyde deu a volta por cima. Ganhou uma bolsa de estudos em Princeton.
— Princeton? — A curiosidade de Kate se aguça.
— Isso. Um rapaz inteligente. — Christian dá de ombros.
— Não tanto. Ele foi pego — murmura Elliot.
— Mas com certeza ele não armou isso tudo sozinho, não é? — pergunta Kate.
Christian se enrijece ao meu lado.
— Não sabemos ainda.
Sua voz é muito baixa. Droga. Será que poderia ter alguém nisso junto com ele? Eu me viro e fito Christian horrorizada. Ele aperta minha mão mais uma vez, mas não me olha nos olhos. O avião decola suavemente e eu sinto na barriga a terrível sensação de estar afundando.
— Quantos anos ele tem? — pergunto a Christian, aproximando-me dele de forma que os outros não me ouçam. Por mais que eu queira saber o que está acontecendo, não quero encorajar as perguntas de Kate. Sei que ela o está irritando, e tenho certeza de que ela está na sua lista negra desde o Escândalo dos Drinques.
— Trinta e dois. Por quê?
— Curiosidade, só isso.
Ele contrai o maxilar.
— Não fique curiosa em saber mais sobre o Hyde. Só estou feliz porque aquele babaca está preso. — É quase uma reprimenda, mas resolvo ignorar seu tom.
— Você acha que ele tem um cúmplice?
A ideia de que mais alguém possa estar envolvido nisso faz meu estômago embrulhar. Significaria que ainda não acabou.
— Não sei — responde Christian, e contrai o maxilar mais uma vez.
— Talvez alguém que tenha algum rancor contra você, será? — sugiro. Merda. Espero que não seja a monstra filha da mãe. — Elena, por exemplo — sussurro.
Percebo que mencionei seu nome alto, mas só ele pode me ouvir. Olho preocupada para Kate, mas ela está entretida na sua conversa com Elliot, que olha irritado para ela. Hmm.
— Você gosta mesmo de demonizar a Elena, hein? — Christian revira os olhos e balança a cabeça em desdém. — Ela pode até ter ressentimento, mas não faria uma coisa desse tipo. — Ele me fita com seu inflexível olhar cinza. — Não vamos falar dela. Sei que não é o seu assunto preferido.
— Você a confrontou? — sussurro, mas não sei se realmente quero saber.
— Ana, eu não falo com Elena desde a minha festa de aniversário. Por favor, esqueça isso. Não quero falar dela.
Ele levanta a minha mão e roça a boca com os nós dos meus dedos. Seus olhos ardem nos meus, e sei que não devo insistir nesse interrogatório agora.
— Por que vocês não vão procurar um quarto? — provoca Elliot. — Ah, é… Vocês já têm um, mas não precisaram ficar por lá muito tempo.
Christian ergue o olhar e encara Elliot friamente.
— Vai se foder, Elliot — diz ele, sem maldade.
— Cara, só estou dando umas dicas. — Seus olhos se acendem de bom humor.
— Como se você soubesse — murmura Christian ironicamente, erguendo uma sobrancelha.
Elliot sorri, gostando da brincadeira.
— Você se casou com a sua primeira namorada. — Elliot aponta para mim.
Ah, merda. Aonde isso vai dar? Fico vermelha.
— E eu tinha como resistir? — Christian beija minha mão de novo.
— Não. — Elliot ri e balança a cabeça.
Fico vermelha; Kate bate na coxa de Elliot.
— Pare com essa babaquice — ela o repreende.
— Ouça a sua namorada — aconselha-o Christian, sorrindo, e sua preocupação de antes parece ter desaparecido.
Meus ouvidos estalam à medida que ganhamos altitude, e a tensão na cabine se dissipa durante o voo. Kate faz uma careta para Elliot. Hmm… Tem alguma coisa errada entre eles? Não sei dizer.
Elliot tem razão. Suspiro ao pensar na ironia. Eu sou — era — a primeira namorada de Christian, e agora sou sua esposa. As quinze e a maldita Mrs. Robinson não contam. Mas Elliot não sabe da existência delas, e ficou claro que Kate não contou a ele. Eu sorrio para ela, que me responde com uma piscadela conspiratória. Meus segredos estão a salvo com Kate.
— Muito bem, senhoras e senhores, vamos viajar a uma altitude de aproximadamente trinta e dois mil pés e o tempo estimado de viagem é de uma hora e cinquenta e seis minutos — anuncia Stephan. — Os passageiros agora podem transitar pela cabine.
Natalia surge abruptamente da cozinha.
— Alguém aceita um café? — pergunta ela.
CAPÍTULO TREZE
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Aterrissamos suavemente em Sardy Field ao meio-dia e vinte e cinco, hora local. Stephan para o avião bem perto do terminal principal, e pela janela vejo uma grande minivan VW nos esperando.
— Belo pouso.
Christian sorri e aperta a mão de Stephan quando estamos nos preparando para deixar a aeronave.
— É tudo uma questão de altitude e densidade, senhor. — Stephan retribui o sorriso. — Beighley é muito eficiente nos cálculos.