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Kate faz cara feia para ele. Sem dúvida, tem alguma coisa esquisita entre os dois. Eles têm agido naturalmente com todos em volta, mas não um com o outro.

— Podíamos ir até o centro — intervém Mia.

Ethan lança um sorriso amarelo para ela.

— Clima perfeito para pescar — sugere Christian.

— Eu fico com a pescaria — diz Ethan.

— Vamos nos dividir. — Mia bate palmas. — Meninas, compras; rapazes, programas chatos ao ar livre.

Olho de relance para Kate, que observa Mia com ar tolerante. Pescar ou fazer compras? Puxa, que escolha.

— Ana, o que você quer fazer? — pergunta Christian.

— Qualquer coisa — minto.

Kate captura meu olhar e mexe os lábios: “compras”. Talvez ela queira conversar.

— Mas eu ficaria feliz em sair para as compras.

Dou um sorriso torto para Kate e Mia. Christian sorri amarelo. Ele sabe que eu detesto fazer compras.

— Posso ficar aqui com você, se quiser — murmura ele, e alguma coisa sombria se contorce em meu ventre devido ao seu tom de voz.

— Não, pode ir pescar — respondo.

Christian precisa de um tempo com os rapazes.

— Bem, então vai ser isso — fala Kate, deixando a mesa.

— Taylor vai acompanhar vocês — diz Christian, e é um fato: sem espaço para discussão.

— Não precisamos de babá — retruca Kate, com audácia; sempre direta.

Coloco a mão no braço dela.

— Kate, é melhor o Taylor ir conosco.

Ela franze a testa e depois dá de ombros. Pela primeira vez na vida, consegue segurar a língua.

Sorrio timidamente para Christian, mas sua expressão permanece impassível. Ai, espero que ele não esteja com raiva de Kate.

Elliot franze o cenho.

— Preciso buscar uma bateria para o meu relógio no centro.

Ele olha de relance para Kate, e percebo que fica levemente vermelho. Ela não nota porque está deliberadamente ignorando-o.

— Vá no Audi, Elliot. Quando você voltar a gente vai pescar — diz Christian.

— Tudo bem — murmura Elliot, mas parece distraído. — Boa ideia.

* * *

— AQUI.

Pegando minha mão, Mia me puxa para dentro de uma butique toda decorada com seda cor-de-rosa e mobília rústica em decapê, ao estilo francês. Kate entra atrás de nós e Taylor fica esperando do lado de fora, protegendo-se da chuva sob a marquise. No sistema de som da loja, Aretha canta “Say a Little Prayer” a plenos pulmões. Adoro essa música. Acho que vou colocar no iPod de Christian.

— Vai ficar incrível em você, Ana. — Mia está segurando um vestido de tecido metalizado. — Tome, experimente.

— Hmm… é curto demais.

— Vai ficar fantástico em você. Christian vai amar.

— Você acha?

Mia abre um largo sorriso.

— Ana, suas pernas são de dar inveja, e se a gente sair para dançar hoje à noite — ela sorri, farejando uma presa fácil —, você vai ficar sexy para o seu marido.

Pisco os olhos várias vezes seguidas, ligeiramente chocada. Vamos sair para dançar? Eu não saio para dançar.

Kate ri da expressão no meu rosto. Ela parece mais relaxada agora que está longe de Elliot.

— Podíamos treinar uns passinhos para hoje à noite — diz ela.

— Vá experimentar — ordena Mia.

E eu me encaminho relutante para a cabine de prova.

* * *

ENQUANTO ESPERO KATE e Mia saírem dos provadores, passeio pela loja; vou até a vitrine e fico olhando para a rua lá fora, distraidamente. O pot-pourri de música soul continua: agora Dionne Warwick está cantando “Walk on By”. Outra música maravilhosa — uma das preferidas da minha mãe. Olho rapidamente para o vestido em minhas mãos. Vestido talvez seja um exagero. É muito curto e de costas nuas, mas um achado, segundo Mia, perfeito para passar a noite toda dançando. Supostamente, também preciso de sapatos novos e um grande e volumoso colar, e é isso que vamos procurar agora. Revirando os olhos em desdém, penso novamente que sou muito sortuda por ter Caroline Acton como minha personal shopper.

Algo lá fora me chama a atenção: Elliot. Ele apareceu do outro lado da arborizada rua principal, saindo de um vistoso Audi, e agora corre para dentro de uma loja parecendo que vai se abrigar da chuva. Acho que é uma joalheria… talvez ele esteja procurando a tal bateria para relógio. Ele ressurge alguns minutos depois, mas não sozinho: com uma mulher.

Puta merda! Ele está conversando com a Gia! O que ela está fazendo aqui?

Enquanto assisto à cena, eles se abraçam rapidamente e ela joga a cabeça para trás, rindo animadamente de algo que ele diz. Ele a beija no rosto e corre de volta para o carro. Ela se vira e segue pela rua, e eu fico olhando-a boquiaberta. O que foi isso? Viro-me, inquieta, na direção dos provadores, mas ainda não há nenhum sinal de Kate ou Mia.

Dou uma olhada para Taylor, que ainda está à espera lá fora. Ele encontra meu olhar e dá de ombros. Mais um que testemunhou o rápido encontro de Elliot. Fico vermelha, constrangida por ter sido flagrada bisbilhotando. Virando-me, vejo Mia e Kate voltando, ambas rindo. Kate me olha intrigada.

— O que aconteceu, Ana? — pergunta ela. — Desistiu do vestido? Ficou sensacional em você.

— Hmmm… não.

— Está tudo bem? — Ela arregala os olhos.

— Tudo ótimo. Vamos pagar? — E me dirijo para o caixa junto com Mia, que escolheu duas saias.

— Boa tarde, madame. — A jovem vendedora, com a maior quantidade de brilho nos lábios que já vi em toda a minha vida, sorri para mim. — São oitocentos e cinquenta dólares.

O quê? Por este pedacinho de pano?! Fico um instante absorvendo a informação, e depois entrego obedientemente meu cartão Amex preto.

— Sra. Grey — ronrona a Srta. Brilho Labial.

Durante as duas horas seguintes, acompanho Kate e Mia em um estado de torpor, brigando internamente comigo mesma. Será que devo contar para Kate? Meu inconsciente balança a cabeça em negativa com firmeza. Sim, devo contar. Não, não devo. Pode ter sido apenas um encontro inocente. Merda. O que eu faço agora?

* * *

— E AÍ, GOSTOU do sapato, Ana? — pergunta Mia, as mãos na cintura.

— Hum… gostei, claro.

Acabo comprando um par de sapatos Manolo Blahnik incrivelmente altos com tiras que parecem feitas de espelhos. Combinam admiravelmente bem com o vestido e deixam Christian menos rico em pouco mais que mil dólares. Tenho mais sorte com o longo colar de prata que Kate insiste que eu compre; apenas oitenta e quatro dólares, uma pechincha.

— Já se acostumou a ter dinheiro? — pergunta Kate, sem soar indelicada, quando voltamos para o carro. Mia já está bem à nossa frente.

— Você sabe que não sou assim, Kate. Fico um pouco desconfortável com tudo isso. Mas pelo que me dizem, faz parte do pacote. — Contraio os lábios, e ela passa o braço em volta de mim.

— Você vai se acostumar, Ana — diz ela, solidária. — Vai ficar linda.

— Kate, como vai a sua relação com o Elliot? — pergunto.

Seus grandes olhos azuis se viram de súbito para mim.

Ah, não.

Ela balança a cabeça.

— Não quero falar sobre isso agora. — Kate aponta para Mia com a cabeça. — Mas as coisas estão… — Ela não termina a frase.

É um comportamento nada típico da tenaz Kate. Merda. Eu sabia que tinha alguma coisa errada. Será que conto para ela o que eu vi? Mas o que foi que eu vi, afinal? Elliot e a Srta. Predadora-Sexual-Bem-Produzida conversando e se abraçando, e um beijo no rosto. São apenas velhos amigos, não são? Não, não vou contar nada para ela. Não agora. Faço um gesto afirmativo com a cabeça, como quem diz “eu compreendo perfeitamente e vou respeitar sua privacidade”. Ela pega a minha mão e a aperta, agradecida, e lá está: um breve lampejo de dor e mágoa nos seus olhos, mas que ela rapidamente afasta com uma piscadela. Sinto uma vontade repentina de proteger minha querida amiga. O que será que Elliot Mulherengo Grey está aprontando?