O fulminante olhar cinzento de Christian se volta primeiro para mim, depois para Leila. Sua atitude é de calma determinação, mas eu sei que é só fachada, e suspeito de que Leila também saiba. O brilho frio e ameaçador nos seus olhos revela a verdade: Christian está exalando raiva, embora a esconda bem. De terno cinza, com a gravata escura afrouxada e o primeiro botão da camisa branca aberto, ele exibe um ar tanto profissional como informal… e sensual. Seu cabelo está desalinhado — sem dúvida passou as mãos por ele várias vezes, em sua irritação.
Leila baixa os olhos nervosamente para a mesa e mais uma vez passa o dedo indicador pela borda; o olhar de Christian vai de mim para ela, e depois para Prescott.
— Você — diz ele para Prescott, em um tom suave. — Está despedida. Saia.
Fico branca. Ah, não — isso não é justo.
— Christian… — Faço menção de me erguer.
Ele ergue o dedo indicador em alerta.
— Não — diz ele, numa voz tão ameaçadoramente baixa que na mesma hora faz com que eu me cale e fique grudada na cadeira.
Curvando a cabeça, Prescott sai rápido da sala para se juntar a Taylor. Christian fecha a porta depois que ela sai e vai até a ponta da mesa. Droga! Droga! Droga! Foi culpa minha. Christian se põe em frente a Leila e, pousando as mãos sobre a superfície de madeira, inclina-se para a frente.
— O que é que você quer aqui? — rosna ele para ela.
— Christian! — exclamo. Ele me ignora.
— E então? — insiste ele.
Leila ergue um olhar temeroso, ainda de cabeça baixa, os olhos bem abertos, o rosto pálido — o brilho rosado se foi.
— Eu queria vê-la, mas você não deixava — sussurra ela.
— E aí você veio aqui assediar a minha esposa? — Sua voz é calma. Calma demais.
Leila baixa os olhos para a mesa de novo.
Ele se levanta, olhando furioso para ela.
— Leila, se você chegar perto da minha mulher mais uma vez, vou cortar toda a assistência que eu lhe dou. Médicos, aulas de artes, seguro-saúde: tudo. Pode dar adeus. Você entendeu?
— Christian… — tento de novo.
Mas ele me silencia com um olhar gelado. Por que está sendo tão irracional? Minha compaixão por essa triste mulher aumenta.
— Entendi — responde ela, a voz quase inaudível.
— O que a Susannah está fazendo na recepção?
— Ela veio comigo.
Ele passa a mão pelo cabelo, fulminando-a com o olhar.
— Christian, por favor — imploro. — A Leila só veio agradecer. Só isso.
Ele me ignora, concentrando toda a sua ira em Leila.
— Você ficou na casa da Susannah enquanto estava doente?
— Fiquei.
— Ela sabia o que você estava fazendo na época?
— Não. Ela estava de férias, viajando.
Ele passa o dedo indicador pelo lábio inferior.
— Por que precisava me ver? Você sabe que qualquer pedido deve ser encaminhado ao Flynn. Está precisando de alguma coisa? — Seu tom ficou mais ameno, talvez por uma fração de segundo.
Leila passa o dedo pela borda da mesa mais uma vez.
Pare de atormentá-la, Christian!
— Eu precisava saber. — E pela primeira vez ela olha diretamente para ele.
— Precisava saber o quê? — pergunta ele, ríspido.
— Que você estava bem.
Ele a olha pasmo.
— Que eu estava bem? — debocha ele, sem acreditar.
— É.
— Estou ótimo. Pronto, pergunta respondida. Agora Taylor vai levá-la até o aeroporto para que você volte para a Costa Leste. E se você der um passo a oeste do Mississippi, está tudo acabado. Entendeu?
Puta merda… Christian! Olho-o boquiaberta. O que foi que deu nesse homem, cacete? Ele não pode confiná-la a um lado do país.
— Entendi — responde Leila calmamente.
— Ótimo. — Seu tom de voz agora é mais conciliatório.
— Talvez não seja conveniente para a Leila voltar agora. Ela tem outros planos — oponho-me, tomando as dores dela.
Christian me encara com raiva.
— Anastasia — avisa ele, a voz gelada —, isso não é da sua conta.
Olho para ele de cara feia. Claro que é da minha conta. Ela veio ao meu trabalho. Deve haver algo mais que eu não saiba. Ele não está sendo racional.
Cinquenta Tons, meu inconsciente sussurra acidamente para mim.
— A Leila veio ver a mim, não a você — murmuro petulante.
Ela se vira na minha direção, os olhos mais arregalados que nunca.
— Eu recebi instruções, Sra. Grey. E desobedeci. — Ela olha de soslaio para o meu marido, e depois para mim de novo. — Esse é o Christian Grey que eu conheço — diz ela, num tom de voz triste e melancólico.
Christian franze o cenho para ela, e todo o ar evapora dos meus pulmões. Não consigo respirar. Christian era assim com ela o tempo todo? Ele era assim comigo no princípio? Não consigo me lembrar. Dirigindo-me um sorriso desolado, Leila se levanta da mesa.
— Eu gostaria de ficar até amanhã. Meu voo é ao meio-dia — diz ela calmamente a Christian.
— Vou pedir para alguém pegar você às dez para levá-la ao aeroporto.
— Obrigada.
— Você está na casa da Susannah?
— Estou.
— Ok.
Lanço um olhar de reprimenda para Christian. Ele não pode dar ordens assim para ela… e como ele sabe onde a Susannah mora?
— Tchau, Sra. Grey. Obrigada por me receber.
Eu me levanto e estendo a mão. Ela aceita agradecida e nos cumprimentamos.
— Hã… tchau. Boa sorte — murmuro, porque não sei direito qual é o protocolo para me despedir da ex-submissa do meu marido.
Ela acena com a cabeça e se vira para ele.
— Tchau, Christian.
Os olhos dele se desanuviam um pouco.
— Tchau, Leila. — Sua voz é baixa. — Dr. Flynn, lembre-se.
— Sim, senhor.
Ele abre a porta para fazê-la sair logo, mas ela para na frente dele e o encara. Ele permanece imóvel, observando-a com cautela.
— Fico contente por vê-lo feliz. Você merece — diz ela, e sai antes que ele possa responder.
Christian franze o cenho e então faz um gesto de cabeça para Taylor, que acompanha Leila até a recepção. Fechando a porta, Christian me encara hesitante.
— Nem pense em ficar bravo comigo — sibilo. — Chame o Claude Bastille e arranque o couro dele ou marque uma consulta com o Flynn.
Ele fica boquiaberto, surpreso com o meu rompante, e sua sobrancelha se franze mais uma vez.
— Você prometeu que não faria isso. — Agora seu tom é acusatório.
— Isso o quê?
— Me desafiar.
— Não prometi. Eu disse que teria mais consideração. Avisei a você que ela estava aqui. A Prescott a revistou, e revistou também aquela sua outra amiguinha. Além disso, Prescott ficou aqui comigo o tempo todo. E agora você demitiu a pobre coitada, quando ela só estava fazendo o que eu pedi. Eu falei para você não se preocupar, e veja só você. Não me lembro de ter recebido uma bula papal sua decretando que eu não podia ver a Leila. Não sabia que as minhas visitas estavam sujeitas a uma lista de proibições. — Minha voz aumenta de indignação à medida que eu me empolgo, advogando pela minha causa. Christian perscruta meu rosto, sua expressão indecifrável. Depois de um momento, sua boca se contorce.
— Bula papal? — repete ele, achando engraçado, e relaxa visivelmente.
Não era minha intenção amenizar o tom da nossa conversa; no entanto, Christian está sorrindo ironicamente para mim, o que me deixa com ainda mais raiva. Testemunhar a troca de palavras entre ele e sua ex foi penoso. Como ele pôde ser tão frio com ela?