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— O que foi? — pergunta ele, irritado, ao ver que meu rosto permanece completamente sério.

— Você. Por que foi tão duro com ela?

Ele suspira e dá um passo na minha direção, apoiando-se na mesa.

— Anastasia — diz, como se falasse com uma criança —, você não entende. A Leila, a Susannah, todas elas eram só um passatempo divertido, prazeroso. Mas só isso. Você é o centro do meu universo. E da última vez que vocês estiveram juntas em um mesmo cômodo, ela estava apontando uma arma para você. Não quero que ela chegue nem perto de você.

— Mas, Christian, ela estava doente.

— Eu sei disso, e sei que está melhor agora, mas não quero mais dar a ela o benefício da dúvida. O que a Leila fez foi imperdoável.

— Mas você fez exatamente o jogo dela. Ela queria vê-lo de novo, e sabia que você viria correndo se ela viesse até mim.

Christian dá de ombros, como se não se importasse.

— Não quero que você seja maculada pela minha antiga vida.

O quê?

Christian… você é quem você é por causa da sua antiga vida, sua nova vida, o que for. O que afeta você me afeta também. Eu aceitei isso quando aceitei seu pedido de casamento, porque eu amo você.

Christian fica imóvel. Sei que ele tem dificuldade de ouvir isso.

— Ela não queria me machucar. Ela também ama você.

— Não dou a mínima.

Olho para ele boquiaberta devido ao choque. E me sinto surpresa também ao constatar que ele ainda consegue me chocar. Esse é o Christian Grey que eu conheço. As palavras de Leila ficam martelando na minha cabeça. A atitude de Christian com ela foi tão fria, tão em desacordo com o homem que eu conheço e amo… É estranho, pois me recordo do remorso que ele sentiu quando Leila sofreu aquele colapso nervoso, quando ele pensou que talvez fosse, de alguma maneira, responsável pela dor dela. Engulo em seco, lembrando-me também de que ele lhe deu banho. Meu estômago se retorce de dor com essa lembrança, e a bile sobe até a minha garganta. Como ele pode dizer que não se importa com ela? Ele se importava naquele momento. O que mudou? Às vezes, como agora, eu simplesmente não o entendo. Ele opera em um nível muito, muito distante do meu.

— Por que de repente você resolveu tomar as dores dela? — pergunta ele, confuso e irritado.

— Escute, Christian, não é que eu vá trocar receitas com a Leila, nem vamos tricotar juntas. Mas eu também não imaginei que você seria tão insensível com ela.

Seus olhos ficam gelados.

— Eu já lhe disse que não tenho coração — murmura ele.

Reviro os olhos. Ah, agora ele está agindo como um adolescente.

— Isso não é verdade, Christian. Você está sendo ridículo. Você se importa com ela, sim. Não estaria pagando pelas aulas de artes e pelas outras coisas se não se importasse.

De repente, minha maior ambição na vida é fazê-lo perceber isso. É absurdamente óbvio que ele se importa. Por que, então, ele nega? É a mesma coisa quanto aos seus sentimentos pela sua mãe biológica. Ah, merdamas é claro. Os sentimentos de Christian por Leila e pelas suas outras submissas estão entrelaçados com os sentimentos que ele tem pela mãe. Eu gosto de chicotear garotas morenas feito você porque todas vocês se parecem com a prostituta viciada. Não é de admirar que ele esteja tão zangado. Suspiro e balanço a cabeça em lamentação. Alguém chame o Dr. Flynn, por favor. Como é que ele consegue não ver isso?

Imediatamente meu coração se enche de amor por ele. Meu garotinho perdido… Por que é tão difícil para ele recuperar a bondade, a compaixão que demonstrou em relação a Leila quando ela teve aquele surto?

Ele me encara, os olhos fumegando de raiva.

— Essa discussão acabou. Vamos para casa.

Olho para o relógio. São quatro e vinte e três. Tenho trabalho a fazer.

— Ainda está cedo — balbucio.

— Vamos — insiste ele.

— Christian. — Minha voz denota cansaço. — Estou cansada de discutir sempre a mesma coisa com você.

Ele franze a testa como se não entendesse.

— Você sabe — esclareço —, eu faço algo que o desagrada, e você pensa em alguma maneira de se vingar. Geralmente envolve alguma das suas sacanagens, que podem ser magníficas ou cruéis. — Dou de ombros, resignada. Isso é exaustivo e confuso.

— Magníficas? — repete ele.

Hã?

Geralmente sim.

— O quê, por exemplo? — pergunta, os olhos agora brilhando de divertida e sensual curiosidade. E sei que ele está tentando me distrair.

Droga! Não quero discutir isso na sala de reuniões da SIP. Meu inconsciente examina suas unhas bem-feitas com desdém. Então não deveria ter começado.

Você sabe.

Fico vermelha, irritada tanto comigo quanto com ele.

— Posso adivinhar — sussurra ele.

Mas que saco. Estou tentando repreendê-lo e ele está me confundindo.

— Christian, eu…

— Eu gosto de satisfazer você.

Ele delicadamente passa o polegar pelo meu lábio inferior.

— É o que você faz — admito, minha voz é um suspiro.

— Eu sei — diz ele suavemente. Então curva-se para a frente e sussurra no meu ouvido: — É a única coisa que eu realmente sei fazer.

Ah, como seu cheiro é bom. Ele se inclina para trás e me encara, os lábios retorcidos em um sorriso arrogante, do tipo você-é-tão-minha.

Apertando os lábios, tento com muito esforço não demonstrar como ele mexe comigo. Ele é tão hábil em me desviar de qualquer assunto doloroso ou qualquer assunto que não lhe interesse discutir… E você deixa, intromete-se em vão meu inconsciente, erguendo os olhos de seu exemplar de Jane Eyre.

— O que foi magnífico, Anastasia? — instiga-me Christian, com um brilho malicioso no olhar.

— Você quer uma lista? — pergunto.

— Existe uma lista? — Ele está se deliciando.

Ah, esse homem é exaustivo.

— Bem, as algemas — murmuro, minha mente me levando de volta para a nossa lua de mel.

Ele franze o cenho e pega minha mão, passando o polegar no meu pulso.

— Eu não quero deixar você marcada.

Ah…

Seus lábios se curvam em um sorriso lascivo que se abre lentamente.

— Vamos para casa. — Seu tom é sedutor.

— Preciso trabalhar.

— Vamos — repete ele, mais insistente.

Fitamos um ao outro, cinza-chumbo em azul desconcertado, um testando o outro, testando nossos limites e nossas vontades. Procuro algum esclarecimento em seus olhos, tentando decifrar como este homem pode ir do maníaco por controle irado para o amante sedutor em um segundo. Seus olhos se arregalam e escurecem: sua intenção é clara. Ele acaricia meu rosto suavemente.

— Podíamos ficar aqui. — Sua voz é baixa e rouca.

Ah, não. Não. Não. Não. Não no meu trabalho.

— Christian, eu não quero fazer sexo aqui. Sua amante acabou de sair desta sala.

— Ela nunca foi minha amante — resmunga ele, sua boca se apertando.

— É só forma de falar, Christian.

Ele franze o cenho, a expressão confusa. O Christian sedutor foi embora.

— Não pense muito nisso, Ana. Ela é passado — diz com desdém.

Suspiro… Talvez ele tenha razão. Só quero que ele admita para si mesmo que se importa com ela. Um frio toma meu coração. Ah, não. Já sei por que isso é tão importante para mim. E se eu fizer algo imperdoável? E se eu não me ajustar? Vou virar passado também? Se ele pode se transformar assim, apesar de ter ficado tão preocupado e aborrecido quando Leila esteve doente… será que ele poderia se virar contra mim também? Solto uma exclamação, lembrando-me de fragmentos de um sonho: espelhos dourados e o som dos seus calcanhares soando no chão de mármore enquanto ele vai embora, deixando-me sozinha em um esplendor de opulência.