Выбрать главу

— Ele sofreu um acidente de carro.

— Ok, estou indo… já estou indo.

A adrenalina invade minha corrente sanguínea, deixando um rastro de pânico. Não consigo respirar direito.

— Ele foi transferido para Portland.

Portland? O que ele está fazendo em Portland?

Ele foi transportado via aérea, Ana. Estou indo para lá agora. Para o hospital universitário. Ah, Ana, eu não vi o carro. Simplesmente não consegui ver… — Sua voz falha.

Sr. Rodrigueznão!

Vejo você lá. — O Sr. Rodriguez reprime um soluço e a ligação é encerrada.

Uma sensação sombria de terror aperta meu pescoço, deixando-me sem ar. Ray. Não. Não. Respiro fundo para me acalmar, apanho o telefone e ligo para Roach. Ele atende no segundo toque.

— Ana?

— Jerry. É o meu pai.

— Ana, o que aconteceu?

Explico, mal conseguindo parar para respirar.

— Vá, sim. Claro, você deve ir. Espero que o seu pai esteja bem.

— Obrigada. Eu mando notícias.

Sem querer, bato o telefone na cara dele, mas, no momento, essa é a última das minhas preocupações.

— Hannah! — grito, consciente da ansiedade em minha voz.

Minutos depois ela enfia a cabeça pela porta e me encontra arrumando a bolsa e apanhando alguns papéis para colocar na pasta.

— Sim? — Ela franze o cenho.

— Meu pai sofreu um acidente. Tenho que ir.

— Ah, meu Deus…

— Cancele todos os meus compromissos de hoje. E de segunda-feira. Você vai ter que terminar de preparar a apresentação sobre o livro digital; minhas anotações estão no arquivo da rede. Peça ajuda a Courtney, se precisar.

— Claro — murmura Hannah. — Tomara que ele esteja bem. Não se preocupe com nada aqui. A gente se vira.

— Estou com o BlackBerry.

A inquietação estampada em seu rosto pálido e aflito quase me deixa devastada.

Meu pai.

Apanho o casaco, a bolsa e a pasta.

— Eu ligo se precisar de alguma coisa.

— Claro, ligue mesmo. Boa sorte, Ana. Espero que ele esteja bem.

Dou-lhe um sorriso breve e tenso, lutando para manter a compostura, e deixo a minha sala. Tenho que me segurar para não sair correndo. Sawyer fica de pé num salto quando me vê.

— Sra. Grey? — pergunta ele, intrigado por eu surgir tão de repente.

— Vamos para Portland. Agora.

— Certo, madame — diz ele, franzindo o cenho, mas abre a porta.

Faz bem me movimentar.

— Sra. Grey — pergunta Sawyer enquanto corremos em direção ao estacionamento —, importa-se se eu perguntar por que vamos fazer essa viagem imprevista?

— Meu pai. Ele sofreu um acidente.

— Entendo. O Sr. Grey já sabe?

— Vou ligar para ele do carro.

Sawyer faz um gesto de concordância e abre a porta traseira do Audi SUV para que eu possa entrar. Com dedos trêmulos, pego o BlackBerry e disco o número do celular de Christian.

— Sra. Grey. — A voz de Andrea soa clara e eficiente.

— O Christian está por aí? — murmuro.

— Hmm… Ele está em algum lugar da empresa, madame. Deixou o BlackBerry aqui para carregar.

Resmungo por dentro, frustrada.

— Você pode lhe dizer que eu liguei e que preciso falar com ele? É urgente.

— Eu posso tentar descobrir onde ele se encontra. Ele tem esse costume de andar por aí às vezes.

— Por favor, basta pedir que ele retorne minha ligação — imploro, lutando contra as lágrimas.

— Claro, Sra. Grey. — Ela hesita. — Está tudo bem?

— Não — sussurro, insegura quanto à minha própria voz. — Por favor, peça para ele me ligar.

— Sim, senhora.

Desligo. Não consigo mais conter minha angústia. Puxando os joelhos para o peito, eu me encolho toda no banco traseiro e as indesejáveis lágrimas descem pela minha face.

— Para onde vamos em Portland, Sra. Grey? — pergunta Sawyer, com delicadeza.

— Hospital universitário — falo entre um soluço e outro. — Aquele grande.

Sawyer pega a rua e rumamos para a Interestadual 5. No banco traseiro, fico choramingando baixinho, balbuciando orações. Por favor, que ele esteja bem. Por favor, que ele esteja bem.

Meu celular toca, e “Your Love Is King” interrompe bruscamente meu mantra.

— Christian — exclamo, sem ar.

— Por Deus, Ana. O que aconteceu?

— Foi o Ray… ele sofreu um acidente.

— Merda!

— É. Estou indo para Portland.

— Portland? Por favor, me diga que o Sawyer está com você.

— Sim, ele está dirigindo.

— Onde está o Ray?

— No hospital universitário.

Ouço uma voz abafada ao fundo.

— Sim, Ros — diz Christian, ríspido. — Eu sei! Desculpe, querida: só poderei estar lá daqui a umas três horas. Tenho um assunto a resolver aqui. Posso ir voando.

Ah, merda. O Charlie Tango está de volta, e a última vez que Christian voou nele…

— Tenho uma reunião com uns caras de Taiwan. Não posso cancelar agora. É uma transação que estamos negociando há meses.

Como é que eu não sei nada sobre isso?

— Assim que puder eu vou.

— Certo — sussurro. E quero dizer que não tem problema, fique aqui em Seattle e conclua essa negociação, mas a verdade é que eu o quero ao meu lado.

— Ah, baby — diz ele, baixinho.

— Vou ficar bem, Christian. Vá quando puder. Não corra. Não quero me preocupar com você também. E faça uma boa viagem.

— Pode deixar.

— Amo você.

— Também amo você, baby. Vou encontrá-la assim que der. Mantenha o Luke por perto.

— Está bem.

— Até mais tarde.

— Tchau.

Depois de desligar, abraço novamente os joelhos. Não sei nada sobre o trabalho de Christian. Que diabo ele está fazendo com esse pessoal de Taiwan? Olho pela janela quando passamos pelo Aeroporto Internacional de King County. Ele precisa viajar em segurança. Meu estômago dá um nó e começo a ficar enjoada. Ray e Christian. Acho que meu coração não aguentaria. Eu me recosto e recomeço meu mantra: Por favor, que ele esteja bem. Por favor, que ele esteja bem.

* * *

— SRA. GREY — a voz de Sawyer me desperta —, já chegamos ao hospital. Agora tenho que encontrar a Emergência.

— Eu sei onde é.

Minha mente me leva de volta à minha última visita ao hospital universitário. Foi no meu segundo dia de trabalho na Clayton’s, quando caí de uma escada de mão e torci o tornozelo. Lembro-me de Paul Clayton se inclinando sobre mim e estremeço com a recordação desagradável.

Sawyer para no local de desembarque de passageiros e salta para abrir a porta para mim.

— Vou estacionar, madame, e volto para encontrar a senhora. Pode deixar que eu levo a sua pasta, deixe no carro.

— Obrigada, Luke.

Ele aquiesce, e eu caminho resoluta até à barulhenta recepção da Emergência. A recepcionista no balcão sorri polidamente; após alguns minutos, ela localiza Ray e me encaminha para o centro cirúrgico, no terceiro andar.

Centro cirúrgico? Droga!

Obrigada — balbucio, tentando me concentrar no caminho indicado por ela para os elevadores. Sinto um frio na barriga e quase bato com a cara na porta de um deles.

Por favor, que ele esteja bem. Por favor, que ele esteja bem.

É uma agonia a lentidão do elevador, parando em todos os andares. Anda logo… Anda logo! Fico torcendo para que vá mais rápido e fecho a cara para as pessoas que entram e saem, impedindo-me de chegar até o meu pai.

Finalmente as portas se abrem no terceiro andar, e corro para mais um balcão de recepção. Neste, as enfermeiras trajam uniformes azul-marinho.