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Christian aquiesce; depois, pegando na minha mão, me faz sentar e se instala ao meu lado.

— Você já comeu? — pergunta ele.

Nego com a cabeça.

— Está com fome?

Balanço a cabeça novamente.

— Mas está com frio? — continua ele, olhando para a jaqueta de José.

Admito que sim. Ele se mexe desconfortável na cadeira, mas, sensatamente, não diz nada.

A porta se abre mais uma vez, e entra um jovem médico de uniforme azul-claro. Ele parece exausto e aflito.

Todo o sangue se esvai da minha cabeça quando me levanto, cambaleante.

— Ray Steele — sussurro. Christian está ao meu lado, com o braço em volta da minha cintura.

— É parente próxima? — pergunta o médico.

Seus olhos azuis brilhantes são quase da mesma cor do jaleco, e, em outras circunstâncias, eu o teria achado atraente.

— Sou Ana, filha dele.

— Srta. Steele…

— Sra. Grey — corrige Christian.

— Perdão — gagueja o médico, e por um minuto tenho vontade de dar um chute em Christian. — Sou o Dr. Crowe. Seu pai está estável, mas em condição crítica.

O que isso significa? Meus joelhos vacilam sob o peso do meu corpo, e só o braço de Christian em volta de mim me impede de cair no chão.

— Ele sofreu diversos traumas internos — explica o Dr. Crowe —, principalmente no diafragma, mas conseguimos reconstituir os tecidos e também salvar o baço. Infelizmente, ele sofreu um ataque cardíaco durante a cirurgia por causa da perda de sangue. Reestabilizamos o coração, mas isso ainda nos preocupa. Nossa maior preocupação, porém, é com a cabeça, que teve contusões graves, e a ressonância magnética mostra inchaço no cérebro. Ele está em coma induzido para permanecer imóvel enquanto controlamos o edema no cérebro.

Dano cerebral? Não.

— Trata-se do procedimento padrão nesses casos. Por enquanto, só nos resta esperar e ver como a condição dele progride.

— Qual é o prognóstico? — pergunta Christian friamente.

— Sr. Grey, é difícil dizer no momento. É possível que ele consiga se recuperar por completo, mas isso agora está nas mãos de Deus.

— Quanto tempo ele vai ser mantido em coma?

— Depende de como o cérebro vai reagir. Em geral, são de setenta e duas a noventa e seis horas.

Ai, tanto tempo!

Eu posso ver o meu pai? — murmuro.

— Pode, sim. Dentro de mais ou menos meia hora. Ele foi levado para a UTI, no sexto andar.

— Obrigada, doutor.

O Dr. Crowe faz um cumprimento com a cabeça, dá meia-volta e vai embora.

— Bom, ele está vivo — sussurro para Christian. E as lágrimas começam a rolar novamente pelo meu rosto.

— Sente-se — ordena Christian, com gentileza.

— Papá, acho que devemos ir embora. Você precisa descansar. Não vamos ter outra notícia tão cedo — murmura José para o Sr. Rodriguez, que olha para o filho com uma expressão vazia no rosto. — Podemos voltar de noite, depois que você descansar. Tudo bem por você, Ana? — pergunta ele em tom suplicante, virando-se para mim.

— É claro.

— Vocês vão ficar em Portland? — pergunta Christian.

José confirma.

— Querem uma carona para casa?

José franze o cenho.

— Eu ia chamar um táxi.

— O Luke pode levar vocês.

Sawyer se levanta, e José parece confuso.

— Luke Sawyer — esclareço.

— Ah… Claro. Acho que seria bom mesmo. Obrigado, Christian.

Levantando-me, abraço rapidamente pai e filho.

— Seja forte, Ana — sussurra José em meu ouvido. — O Ray é um homem saudável e que se cuida. Isso conta a favor dele.

— Espero que sim.

Dou-lhe um abraço apertado. Depois, tiro a sua jaqueta e a devolvo a ele.

— Pode ficar, você ainda está com frio.

— Não, já estou bem. Obrigada.

Olhando nervosa para Christian, vejo que ele nos observa impassível. Christian pega minha mão.

— Se houver alguma mudança no quadro dele, eu aviso vocês na hora — digo para José, que empurra a cadeira de rodas do pai até a porta que Sawyer mantém aberta.

O Sr. Rodriguez levanta a mão, e os dois param à porta.

— Vou incluir seu pai nas minhas orações, Ana — diz ele, a voz vacilante. — Foi tão bom retomar o contato com o Ray depois de todos esses anos… Ele se tornou um bom amigo.

— Eu sei.

E então eles vão embora. Christian e eu ficamos sozinhos. Ele acaricia meu rosto.

— Você está pálida. Venha cá.

Ele senta-se na cadeira e me coloca no colo, abraçando-me mais uma vez, e eu me deixo levar de boa vontade; aconchego-me nele, sentindo-me aflita com o infortúnio do meu padrasto mas grata por ter meu marido aqui, para me consolar. Ele faz um suave carinho no meu cabelo e segura minha mão.

— Como estava o Charlie Tango? — pergunto.

Ele sorri.

— Ah, ele estava yar — responde ele, com certo orgulho na voz, o que me faz rir pela primeira vez em muitas horas. Eu o fito, intrigada.

Yar?

— É um trecho de Núpcias de escândalo. O filme favorito da Grace.

— Não conheço.

— Acho que eu tenho em casa, em blu-ray. Podemos assistir e dar uns amassos. — Ele beija meu cabelo e eu sorrio novamente.

— Será que eu consigo convencer você a comer alguma coisa? — pergunta ele.

Meu sorriso desaparece.

— Agora não. Quero ver o Ray primeiro.

Seus ombros se curvam em desânimo, mas ele não insiste.

— E os taiwaneses?

— Foram afáveis — responde ele.

— Afáveis como?

— Aceitaram me vender o estaleiro deles por menos do que eu estava disposto a pagar.

Ele comprou um estaleiro?

E isso é bom?

— É bom, sim.

— Mas eu pensei que você já tivesse um estaleiro. Aqui na cidade.

— Eu tenho. Vamos usar o daqui para o acabamento. E construir os cascos no Extremo Oriente. Sai mais barato.

Ah.

— E quanto aos funcionários do estaleiro daqui?

— Vamos realocar. Acho que conseguiremos fazer com que o número de demissões seja mínimo. — Ele beija meu cabelo. — Vamos ver como está o Ray? — pergunta, em voz baixa e suave.

* * *

A UTI, NO SEXTO ANDAR, é uma ala austera, estéril e funcional, com vozes sussurradas e sons estridentes dos equipamentos. Quatro pacientes estão internados, cada um em uma área high-tech separada. Ray está na última.

Papai.

Ele parece tão pequeno na imensa cama, cercado por toda aquela aparelhagem. É um choque. Meu pai nunca me pareceu tão diminuído. Há um tubo na sua boca, e em cada braço uma agulha recebe as gotas vindas de diversas ramificações. Uma espécie de pinça está presa a um dos seus dedos. Fico me perguntando vagamente para que será que serve. A perna dele está apoiada em travesseiros, envolta em uma bota azul. Um monitor mostra o batimento cardíaco: bip, bip, bip. É um ritmo forte e regular. Isso eu posso perceber. Eu me aproximo lentamente. Seu peito está coberto por uma enorme e recente atadura, que desaparece por baixo do fino lençol que protege seu corpo.

Percebo que o tubo que sai do canto direito de sua boca segue até um respirador mecânico, cujo barulho se combina com o bip, bip, bip do monitor cardíaco e forma uma batida percussiva rítmica. Sugando, expelindo, sugando, expelindo, sugando, expelindo no tempo marcado pelos bips. Há quatro linhas na tela do monitor cardíaco, cada uma delas se movendo de um lado ao outro, demonstrando claramente que Ray ainda está conosco.

Ah, papai.

Mesmo com a boca repuxada pelo tubo do respirador, sua aparência é tranquila, como se ele estivesse dormindo.

Uma enfermeira jovem e baixinha está de pé ao lado da cama, verificando os monitores.