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— Posso tocá-lo? — pergunto, buscando hesitante a mão dele.

— Pode.

Ela sorri amigavelmente. O crachá diz “ENFERMEIRA KELLIE”. Ela é loura e tem olhos muito, muito escuros; deve estar na casa dos vinte anos.

Christian está aos pés da cama, observando-me com atenção. Ao pegar a mão de Ray, sinto-a surpreendentemente quente, e isso me faz desabar. Afundo na cadeira próxima da cama, encosto a cabeça de leve no braço de Ray e começo a chorar.

— Ah, pai. Por favor, melhore logo — sussurro. — Por favor.

Christian coloca a mão no meu ombro e aperta ligeiramente, com a intenção de me tranquilizar.

— Todos os sinais vitais do Sr. Steele estão se mantendo bons — diz a enfermeira Kellie, baixinho.

— Obrigado — murmura Christian.

Ergo o olhar para ela a tempo de vê-la ficar boquiaberta. Finalmente ela deu uma boa olhada no meu marido. Não ligo. Pode admirá-lo o quanto quiser, contanto que faça meu pai melhorar.

— Ele consegue me ouvir? — pergunto.

— Está em um sono profundo. Mas nunca se sabe…

— Posso ficar aqui por um instante?

— Claro.

A enfermeira sorri para mim, suas faces rosadas denunciando-a. Incongruentemente, me pego pensando que ela deve ser loura falsa.

Christian se vira para mim, ignorando-a.

— Preciso dar um telefonema. Vou estar aqui fora. Fique um tempo a sós com o seu pai.

Faço que sim com a cabeça, ele beija meu cabelo e sai da sala. Pego a mão de Ray, impressionada com a ironia de que só agora que ele está inconsciente e não pode me ouvir é que eu realmente quero lhe dizer o quanto o amo. Esse homem tem sido um porto seguro para mim. Minha rocha. E eu nunca tinha pensado nisso até agora. Não sou sangue do seu sangue, mas ele é o meu pai e eu o amo muito. As lágrimas escorrem pelas minhas faces. Por favor, por favor, fique bom.

Bem baixinho, para não perturbar ninguém, conto para ele sobre o fim de semana em Aspen e sobre o fim de semana anterior, quando velejamos e viajamos a bordo do Grace. Conto também sobre a casa nova, os projetos, nossa expectativa de torná-la ecologicamente sustentável. Prometo que vamos levá-lo conosco para Aspen, para que ele possa pescar com Christian, e garanto-lhe que o Sr. Rodriguez e José também serão bem-vindos. Por favor, esteja aqui para fazer tudo isso, pai. Por favor.

Ray permanece imóvel, o sugar e expelir do respirador mecânico e o monótono mas tranquilizador bip, bip, bip do monitor cardíaco são sua única resposta.

Quando levanto o olhar, vejo Christian sentado quieto ao pé da cama. Não sei há quanto tempo ele está ali.

— Oi — diz ele, seus olhos transbordando compaixão e preocupação.

— Oi.

— Quer dizer que eu vou pescar com o seu pai, o Sr. Rodriguez e o José? — pergunta ele.

Confirmo com a cabeça.

— Tudo bem. Vamos comer. Deixe o Ray dormir.

Franzo o cenho. Não quero deixá-lo.

— Ana, ele está em coma. Eu dei os números dos nossos celulares para as enfermeiras daqui. Se alguma coisa mudar no quadro dele, elas ligam. Vamos comer, arranjar um hotel, descansar um pouco, e à noite voltamos para cá.

* * *

A SUÍTE NO HEATHMAN está exatamente como eu me lembro. Quantas vezes eu já pensei naquela primeira noite e naquela manhã que passei com Christian Grey? Paro na entrada do quarto, paralisada. Nossa, tudo começou aqui.

— O lar quando estamos longe do lar — diz Christian, a voz suave, colocando minha pasta no chão ao lado de um dos sofás confortáveis. — Quer tomar um banho? Ficar um pouco na banheira? Do que você precisa, Ana?

Christian me fita, e eu sei que ele está desnorteado: meu garotinho perdido lidando com acontecimentos que estão além do seu controle. Ele ficou fechado e contemplativo a tarde toda. Trata-se de uma situação que ele não pode manipular nem prever. Essa é a vida real em sua essência, e ele se manteve por tanto tempo afastado dela que agora se sente vulnerável e impotente. Meu querido e protegido Cinquenta Tons.

— Um banho de banheira. É o que eu quero agora — murmuro, ciente de que lhe dar uma ocupação vai fazê-lo se sentir melhor, até mesmo útil. Ah, Christian… estou entorpecida e sinto frio e medo, mas que bom que você está aqui comigo.

— Banheira. Ótimo. Tudo bem.

Ele cruza o quarto a passos largos e desaparece no suntuoso banheiro. Alguns momentos depois, ecoa na sala o barulho da água correndo para encher a banheira.

Finalmente, reúno minhas forças ante de ir para o quarto. Fico espantada ao ver diversas sacolas da Nordstrom em cima da cama. Christian volta ao quarto, sem gravata nem paletó, as mangas da camisa arregaçadas.

— Mandei o Taylor fazer umas compras. Camisola, essas coisas — diz ele, me observando com certo temor.

Mas é claro que ele fez isso. Sinalizo minha aprovação de modo a fazê-lo sentir-se melhor. Cadê o Taylor?

— Ah, Ana — murmura Christian. — Nunca vi você assim. Normalmente você é tão forte e corajosa…

Não sei o que dizer. Apenas olho para ele, com os olhos bem abertos. Não tenho nada a lhe oferecer no momento. Acho que estou em choque. Abraço a mim mesma, tentando controlar o frio insistente, mas sei que é em vão, já que o frio vem de dentro de mim. Christian me envolve em seus braços.

— Baby, ele está vivo. Os sinais vitais estão bons. Só temos que ser pacientes — murmura. — Venha.

E, pegando-me pela mão, ele me leva até o banheiro. Com delicadeza, faz meu casaco deslizar pelos ombros e o coloca na cadeira do banheiro; depois, vira-se de novo e desabotoa minha camisa.

* * *

A ÁGUA ESTÁ deliciosamente morna e perfumada, o aroma de flor de lótus invadindo o ar quente e abafado do banheiro. Estou recostada entre as pernas de Christian, minhas costas de encontro ao seu corpo, meus pés descansando sobre os dele. Estamos ambos calados e introspectivos, e finalmente sinto-me mais aquecida. Christian, com o braço ao redor dos meus ombros, beija meu cabelo de vez em quando; eu apenas estouro as bolhas de espuma, sem pensar em nada.

— Você não ficava na banheira com a Leila, ficava? Naquela época você dava banho nela? — pergunto.

Ele se retesa, solta um barulho rouco, e a mão que descansa no meu ombro se contrai.

— Hmm… não. — Seu tom de voz indica surpresa.

— Imaginei. Que bom.

Ele puxa de leve meu cabelo, preso em um coque improvisado, fazendo minha cabeça se inclinar para trás de forma a poder ver meu rosto.

— Por que a pergunta?

Dou de ombros.

— Curiosidade mórbida. Não sei… ver a Leila essa semana…

A expressão em seu rosto endurece.

— Entendo. Menos dessa morbidez, por favor. — Seu tom de voz transmite uma reprimenda.

— Até quando você vai sustentá-la?

— Até ela conseguir andar com as próprias pernas. Não sei. — Ele dá de ombros. — Por quê?

— Existem outras?

— Outras?

— Alguma outra ex que você sustente.

— Havia outra, sim. Mas acabou.

— Ah, é?

— Ela estava estudando medicina. Já se formou e arranjou outra pessoa.

— Outro Dominador ?

— É.

— A Leila disse que você tem dois quadros dela — murmuro.

— Eu tinha, mas não gostava muito. Apresentavam certa qualidade técnica, mas eram muito coloridos para o meu gosto. Acho que estão com o Elliot. Como você bem sabe, ele não tem bom gosto.

Dou uma risadinha, e ele passa o outro braço ao redor do meu corpo, entornando água pela lateral da banheira.

— Assim está melhor — sussurra ele, e me dá um beijo na têmpora.

— Ele vai se casar com a minha melhor amiga.

— Então é melhor eu calar a boca.

* * *

SINTO-ME MAIS RELAXADA depois do banho. Enrolada no roupão macio do Heathman, dou uma olhada nas várias sacolas em cima da cama. Nossa, deve ter muito mais do que roupa de dormir aí. Hesitante, espreito uma delas. Uma calça jeans e um suéter azul-claro, com capuz, do meu tamanho. Caramba… Taylor comprou um enxoval completo para um fim de semana — e ele conhece o meu gosto. Sorrio, lembrando que não foi a primeira vez que ele comprou roupas para mim enquanto eu estava hospedada no Heathman.