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— Tirando aquela vez que você foi me assediar na Clayton’s, algum dia você efetivamente entrou em uma loja para comprar alguma coisa?

— Assediar você?

— Exato, me assediar.

— Você ficou toda nervosa, se bem me lembro. E aquele rapaz estava sempre rodeando você. Como era mesmo o nome dele?

— Paul.

— Um dos seus muitos admiradores.

Reviro os olhos, e ele sorri — um sorriso genuíno, aliviado — e me beija.

— Essa é a minha garota — sussurra ele. — Vá se vestir. Não quero que fique com frio de novo.

* * *

— ESTOU PRONTA — MURMURO.

Christian está trabalhando no seu Mac. Ele veste uma calça jeans preta e um suéter cinza de tricô; eu coloquei a calça, o casaco com capuz e camiseta branca.

— Você parece tão jovem — diz Christian, baixinho, os olhos brilhando ao me fitar. — E pensar que vai ficar um ano inteiro mais velha amanhã.

Sua voz soa melancólica. Abro um sorriso triste.

— Não estou muito a fim de celebrações. Podemos ir ver o Ray agora?

— Claro. Eu queria que você comesse alguma coisa. Você mal tocou na comida.

— Christian, por favor. Não estou com fome. Talvez depois de ver o Ray. Quero dar boa-noite a ele.

* * *

QUANDO CHEGAMOS À UTI, encontramos José saindo. Ele está sozinho.

— Ana, Christian, oi.

— Cadê seu pai?

— Estava cansado demais para vir. Afinal de contas, ele também sofreu um acidente de carro hoje de manhã. — José força um sorriso triste. — E os analgésicos contribuíram. Ele capotou. Tive que brigar para poder entrar e ver o Ray, já que eu não sou da família.

— E aí? — pergunto, ansiosa.

— Ele está bem, Ana. Na mesma… mas bem.

Sinto uma onda de alívio. Falta de notícia é boa notícia.

— Vejo você amanhã, aniversariante?

— Claro. Vamos ficar por aqui.

José olha Christian de esguelha rapidamente e depois me dá um breve abraço.

Mañana.

— Boa noite, José.

— Boa noite, José — repete Christian.

José acena e segue pelo corredor.

— Ele ainda é louco por você — diz Christian calmamente.

— Não é não. E mesmo que fosse… — Dou de ombros, porque, no momento, não me importo nem um pouco.

Christian me dá um sorriso contido, e meu coração se derrete.

— Meus parabéns — murmuro.

Ele franze a testa.

— Por não espumar pela boca.

Ele me olha boquiaberto, e vejo que ficou magoado — mas também achou graça.

— Eu nunca fiz isso. Vamos ver o seu pai. Tenho uma surpresa para você.

— Surpresa? — Arregalo os olhos, temerosa.

— Venha.

Christian me pega pela mão, e juntos abrimos as portas duplas da UTI.

Ao pé da cama está Grace, entretida numa conversa com Crowe e uma mulher que eu ainda não tinha visto, também médica. Ao nos ver, Grace sorri.

Ah, graças a Deus.

— Christian.

Ela o beija no rosto, depois se volta para mim e me envolve em um abraço afetuoso.

— Ana. Como você está se aguentando?

— Estou bem. É com o meu pai que eu estou preocupada.

— Ele está em boas mãos. A Dra. Sluder é especialista nessa área. Estudamos juntas em Yale.

Ah…

— Sra. Grey — cumprimenta muito formalmente a Dra. Sluder. Ela tem um porte franzino, cabelo curto, um sorriso tímido e um leve sotaque do sul. — Como a principal médica do seu pai nesse momento, fico feliz em dizer que tudo está correndo conforme o previsto. Os sinais vitais dele estão fortes e estáveis. Temos muita fé em que ele vai se recuperar plenamente. O edema cerebral cessou e mostra sinais de que está diminuindo. Isso é muito promissor depois de tão pouco tempo.

— Que boa notícia — murmuro.

Ela sorri afetuosamente.

— É mesmo, Sra. Grey. Estamos cuidando muito bem dele. — Ela se volta para Grace. — Foi bom ver você de novo.

Grace sorri.

— Digo o mesmo, Lorraina.

— Dr. Crowe, vamos deixar a família fazer uma visita ao Sr. Steele. — E Crowe segue junto com a Dra. Sluder até a saída.

Volto minhas atenções para Ray, e pela primeira vez desde o acidente me sinto mais esperançosa. As palavras gentis de Grace e da Dra. Sluder renovaram minha fé.

Grace pega minha mão e a aperta ligeiramente.

— Ana, querida, fique sentada ao lado dele. Fale com ele. Isso só faz bem. Ficarei com o Christian na sala de espera.

Aquiesço, e Christian sorri, transmitindo tranquilidade. Ele e a mãe me deixam com meu querido pai dormindo em paz ao som da canção de ninar do respirador mecânico e do monitor cardíaco.

* * *

VISTO A CAMISETA branca de Christian e me enfio na cama.

— Você parece mais animada — diz ele cautelosamente ao vestir o pijama.

— É verdade. Acho que conversar com a Dra. Sluder e com a sua mãe fez uma grande diferença. Foi você que pediu à Grace para vir até aqui?

Christian desliza para debaixo dos lençóis e me puxa para seus braços, virando-me de costas para si.

— Não. Ela quis vir e verificar pessoalmente como estava o seu pai.

— Como ela soube?

— Liguei para ela hoje de manhã.

Ah.

— Baby, você está exausta. Durma um pouco.

— Aham — murmuro.

Ele tem razão. Estou tão cansada! Foi um dia cheio de emoções. Viro a cabeça e o observo por um breve momento. Não vamos fazer amor? E fico aliviada. Na verdade, durante todo o dia ele se comportou como se não devesse me tocar muito. Fico pensando se devo ficar preocupada com isso; porém, como a minha deusa interior deu uma saída, levando minha libido consigo, resolvo pensar no assunto amanhã de manhã. Eu me viro e me aconchego em Christian, enroscando minha perna na dele.

— Quero que me prometa uma coisa — diz ele suavemente.

— Hmm? — É uma pergunta, já que estou cansada demais para articular qualquer palavra.

— Prometa que vai se alimentar amanhã. Posso até tolerar ver você usando a jaqueta de outro homem sem espumar pela boca, mas, Ana… você tem que comer. Por favor.

— Hmm — concordo. Ele beija meu cabelo. — Obrigada por estar aqui — balbucio, e, já meio dormindo, beijo seu peito.

— E onde mais eu estaria? Quero estar onde você estiver, Ana. Estar aqui me faz pensar em como chegamos tão longe. E na primeira noite que dormimos juntos. Que noite! Fiquei observando você por horas e horas. Você era simplesmente… yar — sussurra ele.

Abro um sorriso com o rosto encostado em seu peito.

— Durma — murmura ele, e é uma ordem.

Fecho os olhos e me entrego.

CAPÍTULO DEZOITO

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Eu me mexo, abrindo os olhos para uma clara manhã de setembro. Quente e confortável sob lençóis novos e limpos, levo um tempo para me orientar e me surpreendo com uma sensação de déjà vu. É claro, estou no Heathman.

— Merda! Meu pai! — exclamo alto, e, sentindo uma crise de aflição que faz meu coração se apertar e começar a bater acelerado, recordo o motivo que me trouxe a Portland.

— Ei. — Christian está sentado na beira da cama. Ele afaga minha face com os nós dos dedos, o que me acalma instantaneamente. — Liguei para a UTI agora de manhã. Ray passou bem a noite. Está tudo certo — diz ele, para me tranquilizar.

— Ah, que bom. Obrigada — murmuro, me sentando.