— Está tudo bem?
— Sim.
— É o lance dos taiwaneses?
— É.
Christian muda de posição embaixo de mim, desconfortável.
— Estou muito pesada?
Ele emite um som de desdém.
— Não, baby.
— Está preocupado com o lance dos taiwaneses?
— Não.
— Pensei que fosse importante.
— E é. O estaleiro daqui depende disso. Tem muitos empregos em jogo.
Ah!
— Só temos que vender a ideia para os sindicatos. É aí que entram Sam e Ros. Mas pelo rumo que está tomando a economia, nenhum de nós tem muitas opções.
Bocejo.
— Estou aborrecendo você, Sra. Grey? — Ele roça o nariz no meu cabelo de novo, achando graça.
— Não! De jeito nenhum… É só que está muito confortável aqui no seu colo. Eu gosto de ouvir sobre o seu trabalho.
— Ah, é? — Ele parece surpreso.
— Claro. — Eu me inclino para trás, para poder fitá-lo melhor. — Gosto de ouvir qualquer informação que você se digne a compartilhar comigo. — Forço um sorriso, ao que ele me observa com ar divertido e balança a cabeça.
— Sempre ávida por mais informação, Sra. Grey.
— Conte para mim — peço, aconchegando-me mais no peito dele.
— Contar o quê?
— Por que você faz isso.
— Isso o quê?
— Por que você trabalha desse jeito.
— Todo mundo tem que ganhar o seu sustento. — Ele está achando graça no meu comentário.
— Christian, o que você ganha é mais do que o seu sustento — retruco, minha voz cheia de ironia.
Ele franze a testa e fica quieto por um momento. Penso que ele não vai revelar nenhum segredo, mas ele me surpreende:
— Não quero ficar pobre — diz, em voz baixa. — Já passei por isso. Não vou passar de novo. Além do mais… é um jogo — murmura ele. — O objetivo é ganhar. Um jogo que eu sempre achei muito fácil.
— Ao contrário da vida — murmuro para mim mesma. Depois percebo que pensei em voz alta.
— É, acho que sim. — Ele franze o cenho. — Embora seja mais fácil estando com você.
Mais fácil comigo? Eu o abraço forte.
— Não pode ser só um jogo. Você é tão filantrópico!
Ele dá de ombros, e sei que está ficando pouco à vontade.
— Em relação a algumas coisas, talvez — diz ele, com tranquilidade.
— Eu adoro o Christian filantrópico — murmuro.
— Só ele?
— Ah, adoro o Christian megalomaníaco também, e o Christian maníaco por controle, o Christian especialista em sexo, o Christian pervertido, o Christian romântico, o Christian tímido… a lista é interminável.
— É uma porção de Christians.
— Eu diria que são pelo menos cinquenta.
Ele ri.
— Cinquenta tons — murmura ele, o rosto enfiado no meu cabelo.
— Meu Cinquenta Tons.
Ele muda de posição, puxa minha cabeça para trás e me beija.
— Bem, Sra. Tons, vamos ver como está seu pai.
— Isso mesmo.
* * *
— PODEMOS DAR uma volta?
Christian e eu retornamos ao R8, e me sinto andando nas nuvens. O cérebro de Ray voltou ao normaclass="underline" todo o inchaço regrediu. A Dra. Sluder decidiu despertá-lo do coma amanhã. Ela diz estar satisfeita com o progresso dele.
— Claro. — Christian abre um enorme sorriso. — É seu aniversário… podemos fazer o que você quiser.
Opa! Seu tom de voz me faz virar para fitá-lo. Seus olhos estão escuros.
— Qualquer coisa?
— Qualquer coisa.
Como duas palavras podem carregar tantas promessas?
— Bom, eu quero dirigir.
— Então dirija, baby. — Ele sorri novamente, e eu retribuo o sorriso.
É um sonho dirigir um carro como esse, e, quando atingimos a Interestadual 5, piso sutilmente mais fundo no acelerador, jogando nossas costas contra o encosto dos assentos.
— Devagar — aconselha Christian.
* * *
ESTAMOS VOLTANDO PARA Portland quando eu tenho uma ideia.
— Tem alguma coisa em mente para o almoço? — pergunto, hesitante.
— Não. Está com fome? — Ele parece torcer por um sim.
— Estou.
— Aonde você quer ir? Hoje é o seu dia, Ana.
— Conheço um lugar perfeito.
Paro o carro perto da galeria onde José expôs seu trabalho e estaciono em frente ao restaurante Le Picotin, aonde fomos após a exposição do meu amigo.
Christian abre um sorriso.
— Por um minuto eu pensei que você ia me levar para aquele bar horroroso de onde você me ligou bêbada.
— Por que eu faria isso?
— Para ver se as azaleias ainda estão vivas. — Ele arqueia uma sobrancelha, cheio de ironia.
Fico ruborizada.
— Nem me lembre! Além do mais… você depois me levou para o seu quarto de hotel. — Dou um sorriso.
— A melhor decisão que eu já tomei — diz ele, os olhos cálidos e afetuosos.
— É. Foi sim. — Eu me inclino e o beijo.
— Você acha que aquele filho da puta arrogante ainda é garçom lá? — pergunta Christian.
— Arrogante? Achei ele simpático.
— Ele estava tentando impressionar você.
— Bom, ele conseguiu.
De brincadeira, Christian retorce a boca em desprezo.
— Vamos entrar? — digo.
— Primeiro as damas.
* * *
DEPOIS DO ALMOÇO e de um rápido desvio até o hotel para pegar o notebook de Christian, voltamos ao hospital. Passo a tarde com Ray, lendo em voz alta um original que recebi. Meu único companheiro é o som dos aparelhos que o mantêm vivo, que o mantêm comigo. Agora que sei que ele está evoluindo bem, posso relaxar. Estou esperançosa. Ele só precisa de tempo para se recuperar. Tempo, eu tenho; posso dar a ele. Fico pensando distraidamente se não deveria ligar para a minha mãe de novo, mas resolvo adiar isso. Seguro a mão de Ray de leve enquanto leio para ele. De vez em quando aperto sua mão, desejando que fique bom logo. Sinto seus dedos macios e quentes. O anular ainda tem uma depressão no lugar onde ele usava a aliança — mesmo depois de tanto tempo.
Uma ou duas horas depois, não sei bem quanto tempo, ergo o olhar e vejo Christian, laptop na mão, junto com a enfermeira Kellie ao pé da cama de Ray.
— Hora de ir, Ana.
Ah. Aperto com força a mão de Ray. Não quero deixá-lo.
— Você precisa comer. Venha. Já é tarde. — Christian parece insistente.
— Agora vou fazer a higiene do Sr. Steele — diz a enfermeira Kellie.
— Está bem — consinto. — A gente volta amanhã de manhã.
Dou um beijo no rosto de Ray, sentindo uma barba por fazer que não lhe é habitual. Não gostei disso. Continue melhorando, papai. Eu amo você.
* * *
— ACHEI QUE PODÍAMOS jantar lá embaixo. Numa mesa isolada — diz Christian, com um brilho nos olhos, ao abrir a porta da nossa suíte.
— Sério? Terminar o que você começou meses atrás?
Ele sorri.
— Só se você tiver muita sorte, Sra. Grey.
Dou uma risada.
— Christian, eu não tenho nada mais arrumado para vestir.
Ele sorri, estende a mão e me conduz até o quarto, onde abre o guarda-roupa para me mostrar uma enorme capa branca para roupas pendurada.
— Taylor? — pergunto.
— Christian — responde ele, veemente e magoado ao mesmo tempo.
Seu tom de voz me faz rir. Abro a capa e tiro um vestido de cetim azul-marinho. É deslumbrante — justo, com alças finas. Parece pequeno.
— É lindo. Obrigada. Espero que caiba.
— Vai caber — diz ele, confiante. — E tem isso aqui — ele pega uma caixa de sapatos —, para usar com o vestido. — E me dá um sorriso malicioso.