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— As sentinelas comunicaram ter visto um soldado humano, com cabelo preto e comprido, vestindo roupagens das trevas, percorrendo a estrada principal, em direção a Consolação. E, Caramon — Tanis estreitou o braço do grandalhão — vem acompanhado por um mago de vestes brancas. Um mago jovem.

— Palin! — disse Caramon de imediato. — E o outro? Está pensando o que eu estou pensando?

— A descrição ajusta-se a Steel.

— Mas, o que trouxe o Steel até aqui? Está sozinho?

— Excetuando o Palin, parece que sim.

— Então, em nome de todos os deuses, o que fazem os dois juntos aqui? Por que se encontram juntos aqui?

Tanis não se referiu ao resto do comunicado, ao fato do paladino das trevas arrastar consigo um trenó que transportava o que parecia ser os corpos de dois cavaleiros. Nem que o invadira o mau pressentimento de conhecer a resposta a tais perguntas. No entanto, podia muito bem estar enganado. Esperou e rezou a Paladino para que estivesse enganado.

Porthios já começara a dar ordens. Todo o contingente dos elfos se encontrava já de pé, munindo-se de arcos e flechas e de espadas em riste.

Caramon observou, alarmado, toda aquela agitação.

— O que eles estão fazendo, Tanis? Pode muito bem ser o Palin que vem aí!

— Eu sei. Vou tratar do assunto. — Tanis atravessou o quarto, encaminhou-se para Porthios e interrompeu-o: — Perdão, Irmão, mas a descrição do jovem mago leva-me a supor tratar-se do filho de Caramon Majere, o teu anfitrião. — acrescentou, dando ênfase à palavra. — O jovem é um Veste Branca. Com certeza não está pensando em atacá-lo.

— Não vamos atacá-lo, Irmão — respondeu Porthios em tom incisivo, impaciente com a interrupção. — Vamos lhes pedir que se rendam. Depois serão ambos interrogados. — Dardejou Caramon com um olhar sinistro e acrescentou em idioma comum. — O filho do teu amigo pode ser um Veste Branca, mas vem acompanhado de um soldado do Mal.

O rosto de Caramon afogueou-se de raiva.

— O que está querendo insinuar? — inquiriu.

— Porthios — interveio Tanis —, sabe perfeitamente que o paladino das trevas não se renderá. Vai lutar, a tua gente lutará e...

— Se fizer mal ao meu filho — disse Caramon com frieza, cerrando os punhos —, se arrependerá!

Dizendo isto deu um passo em frente.

Soldados elfos — os que eram Qualinesti — precipitaram-se para junto de Porthios, formando uma barreira. Ouviu-se o tinir das espadas, do aço brotaram faíscas.

— O que vocês, homens, pensam que estão fazendo?

Com o rosto pálido de fúria, a voz embargada de escárnio, Tika foi dando encontrões até chegar junto do marido e olhou-o, assim como a todos os que se encontravam na sala. Dirigindo-se ao bar, sacou da velha caçarola de ferro com a qual atingira outrora tantos draconianos na cabeça.

Avançando para o elfo mais próximo, ameaçou-o com a caçarola.

— Ficaram todos doidos? — exclamou num murmúrio sibilante. — Você, ó senhor! — A caçarola apontada para Porthios. — A tua mulher está tendo o teu filho! E se quer saber, está passando um mau bocado! Por ser elfa, ter ancas estreitas e tudo isso! E vocês, homens — acrescentou, descrevendo um arco com a caçarola —, aqui armados de espadas e a se comportarem pior do que crianças! Não admito! Ouviram? Não admito!

A caçarola abateu-se sobre uma das mesas e ouviu-se um bang.

Os elfos, parecendo, a um tempo, apalermados e ameaçadoramente determinados, mantiveram-se firmes nas suas posições. Caramon tão pouco se demoveu. Tika segurou com mais firmeza no cabo da caçarola.

Tanis esgueirara-se e encontrava-se postado junto de Porthios. Em voz baixa, falou-lhe em elfo, para que nem Tika nem Caramon percebessem:

— As tuas sentinelas citaram que o paladino das trevas puxava um trenó contendo dois corpos. Trata-se, possivelmente, dos filhos de Caramon e Tika. Iria perturbar o repouso dos mortos?

Era o único argumento susceptível de convencer Porthios a mudar de idéia. Dada a sua esperança de vida inusitadamente longa, os Elfos reverenciavam e honravam a morte.

Porthios olhou de relance para Caramon, parecendo indeciso.

Percebendo que ganhava terreno, Tanis insistiu:

— Pode ser que me engane, mas acho que conheço este paladino das trevas. Permita que fale a sós com ele e com o jovem mago. Se as minhas suspeitas se confirmarem, então o paladino, seja ou não servo da Rainha das Trevas, está procedendo de uma maneira honrosa e nobre, pondo em risco a vida. Deixe-me apurar a verdade antes que haja derramamento de sangue e a honra seja conspurcada.

Porthios ponderou o assunto.

— Os meus guardas te acompanharão — disse.

— Não é necessário, Irmão. Olha, o pior que pode acontecer é eu ser morto — acrescentou Tanis secamente.

Um dos lados do rosto carrancudo do elfo contorceu-se. Porthios exibia um genuíno sorriso.

— Acredite ou não, Meio Elfo, isso me deixaria pesaroso. Embora possa supor o contrário, sempre gostei de ti. Houve até mesmo épocas em que cheguei a admirá-lo. Apenas te considero um companheiro inadequado para a minha irmã.

O sorriso desapareceu, dando lugar a rugas de sofrimento, cansaço da fadiga que era avassaladora. Olhando na direção do quarto onde Alhana jazia, possivelmente se debatendo entre a vida e a morte, pela vida do filho dele.

— Vá, Meio Elfo — disse Porthios com voz suave, exausta. — Vá e fale com o venerável descendente do Mal. Faça as coisas à tua maneira. Sempre o fez. — Olhou para trás, com os olhos a cintilar. — Mas os meus guardas te acompanham.

Imperava a disposição reinante e Tanis sabia quão arriscado era tentar ganhar mais terreno. Vencera esta batalha apenas porque Porthios se sentia muito cansado e preocupado para argumentar.

No final das contas, refletiu Tanis enquanto afivelava a espada em volta da cintura, talvez este elfo carrancudo e obstinado ame a mulher. Tanis interrogou-se sobre o que pensaria Alhana, a Rainha elfa dos Silvanesti, a respeito do homem com quem casara por motivos políticos. Será que ela também acabara por se apaixonar?

— Não há problema — disse Tanis a Caramon e Tika, voltando ao idioma comum. — O Porthios concordou em me deixar tratar da situação. Tika, volte para junto de Alhana.

Sem compreender mas aliviada por ver a contenda resolvida, Tika fungou, pigarreou, voltou a arrumar a caçarola e subiu apressadamente as escadas.

Tanis encaminhava-se para a porta quando reparou que Caramon desatava cuidadosamente o avental que lhe cingia a rotundidade da cintura. Era óbvio que se preparava para acompanhar o amigo. Em passo rápido, Tanis encaminhou-se para Caramon e pousou a mão no braço do grandalhão.

— Deixe-me resolver o assunto, Caramon. A tua presença aqui pode ser necessária.

Caramon sacudiu a cabeça.

— Aquele homem pode ser o Palin. Se for, é porque alguma coisa lhe aconteceu.

Tanis tentou uma outra abordagem:

— Tem que ficar aqui, de olho nos elfos. O Porthios está desesperado, encurralado. Pode desencadear as hostilidades. E nós não queremos um banho de sangue.

Hesitando, Caramon relanceou o olhar pelo rei elfo proscrito.

— Se for o Palin, ficará sob meus cuidados — prosseguiu Tanis. — Como se fosse o meu próprio filho. — Ao recordar-se do adorado filho, que não via e de quem não recebia notícias há meses, a voz embargou-se um pouco.

Caramon pousou os olhos em Tanis, examinando-o com inabalável intensidade.

— Há qualquer coisa que você sabe e que não me disse.