Выбрать главу

Homem perigoso, pensou Tanis. Se todos os paladinos forem como este, estamos mesmo metidos em confusão.

— Kalamar está sofrendo alguma investida? — inquiriu, olhando para Steel.

— Irá sofrer — replicou o cavaleiro. — Neste momento é o Baluarte do Norte que está sob fogo. Não estou traindo nenhum segredo. Lorde Ariakan quer que os Solâmnicos saibam que foram desbaratados.

Tanis olhou para Steel guardando um lúgubre silêncio, depois virou-se para Palin, que parecia à beira de sucumbir.

— Mais tarde discutiremos isso tudo. Primeiro, temos de te levar para casa. Ajudarei a comunicar aos teus pais a notícia da morte dos teus irmãos. Palin, lembre-se, os teus pais foram soldados. Decerto ficarão penalizados, mas...

— Há outra coisa, Tanis — interrompeu-o Palin. Tanis já calculava o que fosse.

— Fizeram-te prisioneiro por causa do resgate — disse.

— Sim. E se o resgate não for satisfeito, pago com a vida.

— E a quanto ascende o resgate? Não interessa! — apressou-se Tanis a acrescentar. — Qualquer que seja o montante, conseguiremos o dinheiro. Contribuirei de bom grado. De modo que...

— Não é dinheiro que eles querem, Tanis — interrompeu-o Palin com alguma impaciência. — Afinal de contas, sou um fazedor de magia.

— Um aprendiz — disse Tanis, fingindo uma despreocupação que não sentia. Invadiu-o o terrível pressentimento de saber do que se tratava e esperou estar enganado. Batendo no ombro de Palin, acrescentou: — Olha, rapazinho, deixe de manias.

E olhando para Steel, observou:

— Como estava dizendo, este jovem mago é um aprendiz. Só recentemente passou no Teste. Os feiticeiros terão possivelmente cedido uns objetozinhos arcanos, mas nada que tenha valor. Vocês, cavaleiros, fariam melhor em exigir dinheiro...

— Palin Majere pode não passar de um aprendiz de mago. Mas Raistlin Majere, o tio, não era — replicou secamente Steel. — Concedeu ao sobrinho uma dádiva preciosa. — O cavaleiro apontou para o Bastão de Magius. — Ia asseverar que, se soubesse que a vida do jovem corria perigo, concederia mais.

— Será que o mundo inteiro endoidou? — inquiriu Tanis. — Raistlin Majere morreu! Morreu há 20 ou mais anos! Não foi ele quem deu a Palin o bastão, mas sim Dalamar o Sinistro.

Steel fitou-o com aqueles olhos escuros, impassíveis.

— Estou desperdiçando saliva! Qual é o resgate? — perguntou Tanis.

— Querem a abertura do Portal — respondeu Palin baixinho. — Os Cavaleiros Cinzentos pretendem descobrir o acesso para o Abismo.

— Quando o Portal for aberto — disse Steel —, a nossa Rainha franqueará o mundo. E deporemos esse mundo aos seus pés.

11

O resgate.

O quarto de Raistlin.

O plano de Palin.

Steel passou pela porta que dava para a Estalagem da Última Casa e logo se deteve. Ali permaneceu, à distância, frio, orgulhoso, sem se mover nem trair as suas emoções, enquanto Tanis, da forma mais branda possível, comunicava a Tika e a Caramon a morte dos dois filhos mais velhos.

— Eu sabia! — foi a resposta inicial de Tika. E, enclavinhando as mãos no peito, acrescentou: — Que Paladino me valha, eu sabia! Senti aqui! Oh, santos deuses, por quê? Por quê? — prosseguiu, balançando-se na cadeira, com as mãos crispadas.

Palin cingiu os braços em volta da mãe.

— Lamento — disse, com voz entrecortada. — Lamento...

Caramon mostrou-se atordoado.

— Os meus meninos — murmurou. — Os meus meninos. — Depois, com um grande soluço, estreitou Palin contra si. — Pelo menos você está em segurança.

Tanis mantinha-se afastado, à espera de ver acalmados os primeiros acessos de dor, a fim de transmitir aos destroçados pais notícias ainda piores.. Palin, não se encontrava a salvo, corria um perigo muito maior do que eles imaginavam.

Por fim, limpando as lágrimas, Palin olhou para Tanis.

— Conte-lhes — disse baixinho.

— Contar? Contar o quê? — inquiriu Caramon com a cabeça inclinada, tenso, a tremer.

— Palin é prisioneiro dos cavaleiros das trevas — disse Tanis. — Exigem um resgate.

— Ora, é claro que pagaremos, não importa a soma! — respondeu Caramon. — Se for preciso, vendemos tudo o que possuímos...

— Caramon, não é dinheiro que eles pretendem — respondeu Tanis, procurando encontrar uma maneira fácil de comunicar a notícia e sem descobrir. — Querem que os feiticeiros abram o Portal que dá para o Abismo. Querem utilizar Palin para libertar a Rainha das Trevas.

Caramon levantou o rosto dilacerado pela dor e olhou sucessivamente para Tanis, Palin, e Steel.

— Mas... é uma farsa! — exclamou. — Devem estar brincando! Os feiticeiros nunca abrirão o Portal! Equivale a uma sentença de morte! Não vai levá-lo! Não vai!

Antes que alguém na sala pudesse detê-lo, Caramon levantou-se de um pulo da cadeira e investiu contra Steel. O peso e o ímpeto do grandalhão fizeram com que ambos fossem bater violentamente contra a parede.

— Caramon, pára! — Tanis e Palin esbracejaram para afastar Caramon do cavaleiro das trevas, pois aquele tentava pôr as mãos na garganta de Steel. — Não vai remediar nada com isso!

Steel não sacou as armas. Segurando nos braços de Caramon, tentou quebrar o abraço do grandalhão, e em seguida arremessou-o para os braços do filho e do amigo. Arquejante, esgotado e vigilante, Steel ficou à espera, na defensiva.

— Atendendo ao seu desgosto, desta vez, passa — disse com frieza. — Mas, não o farei de novo!

— Que o inferno te engula, leve a mim antes! — exigiu Caramon, desenvencilhando-se do terno abraço de Tika. — A minha vida em troca da do meu filho! Pode me manter prisioneiro até saber a resposta dos feiticeiros!

— Fala como um pai deve falar — replicou Steel —, mas decerto sabe que se trata de um pedido impossível de satisfazer. Os nossos feiticeiros conhecem o valor do sobrinho de Raistlin Majere. Previram que o próprio arquimago pudesse revelar algum interesse quanto à sorte do jovem.

— O meu irmão! — Caramon mostrou-se estupefato. — O meu irmão morreu! Que pode ele fazer?

— Pai — disse Palin em voz baixa —, preciso falar contigo...

— Caramon! Meu adorado marido! — Tika cingiu-se a ele, procurando reconfortá-lo. — Haveremos de resolver o assunto! O Tanis se encontra aqui e vai nos ajudar. Não permitirá que levem Palin de volta. Não é, Tanis?

Os seus olhos mostravam uma expressão assustada, suplicante. Tanis desejou, do fundo do coração, poder dizer-lhe o que tão desesperadamente ela queria ouvir. Não sendo possível, limitou-se a abanar a cabeça.

Tika afundou-se na cadeira, com as mãos enclavinhadas no avental, a retorcê-lo convulsivamente. Não derramou lágrimas. Ainda não chegara o momento. A ferida era profunda e sangrava muito. Não a sentia ainda, apenas um frio entorpecimento. De modo que ficou ali sentada, olhando para o chão, à espera que a dor chegasse.

— Pai! — murmurou Palin em tom insistente, puxando o pai pela manga. — Por favor! Precisamos falar!

Caramon não lhe prestou atenção.

Steel esboçou um sorriso escarninho e encolheu os ombros.

— Senhor, esperemos que ele possa fazer algo — respondeu, e o seu sorriso endureceu. — Caso contrário, perde o terceiro filho.

Arquejando, gemendo, Tika enfiou o punho cerrado na boca. Tanis encontrava-se ao lado dela, mas Dezra, que descia as escadas, afastou-o. Murmurando palavras de conforto, cingiu os braços em volta de Tika.

— Venha. Venha comigo, minha querida. Vamos lá para cima descansar.

Tika olhou para a amiga como se não a reconhecesse. Depois, cerrou os olhos, pousou a cabeça no regaço de Dezra e pôs-se a soluçar. Com os olhos marejados de lágrimas, Dezra olhou para Tanis.