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— Mesmo os que salvam sua vida? — inquiriu Palin mansamente. Steel olhou para Tas com ar carrancudo, e por fim esboçou uma vênia rígida.

— Steel Montante Luzente.

— Eu o conheço! Tanis me falou de você! É o filho de Sturm! Eu e Sturm fomos grandes amigos! — Tas atirou-se para frente, a fim de receber um abraço.

Foi detido por Steel que, pousando a mão na cabeça do kender, manteve-o à distância de um braço.

— É provável, embora não muito verosímil, que lhe deva a vida, kender — disse Steel com frieza. — Sou um homem de palavra e gosto de saldar as minhas dívidas, mas não sou obrigado a te aturar perto de mim. Portanto, fica desde já avisado que deve se manter longe de mim. — Dito isto, empurrou Tas para trás.

Palin segurou-o.

— Me esqueci — replicou Tas num murmúrio que todos ouviram — que é filho de Kitiara também!

Palin ia avisar Tas de que seria mais benéfico para sua saúde manter-se afastado do cavaleiro quando, do interior da torre, lhes chegou uma voz de mulher:

— Tasslehoff! Onde você está? Tas? Onde se meteu?

Palin ergueu a cabeça e olhou na direção da porta. Deu um suave suspiro. Os espectros quase lhe haviam gelado o coração. Agora, o sentia em fogo.

Uma mulher, como nenhuma outra que conhecera na vida, encontrava-se postada à soleira. Madeixas de cabelo prateado emolduravam-lhe o rosto fascinante e misterioso. Contudo, os olhos, grandes, ansiosos e dourados, pareciam convidar os outros a confiar-lhe todos os seus segredos. As roupas que vestia, feitas de seda macia, de cores vivas, eram requintadas, não havia nenhuma mulher de linhagem daquela região que usasse vestimentas assim. Contudo, ficavam-lhe bem. Era tão exótica e fascinante que mais parecia ter caído de uma estrela.

— Tas! — exclamou, com uma entoação de alívio, correndo pelas escadas. — Louvados sejam os deuses, te encontrei! Agora já podemos sair daqui...

Calou-se e olhou fixamente para Palin e Steel.

— Oh! — exclamou. Olhando de esguelha para Tas, aproximou-se dele e inquiriu: — Quem são estes cavalheiros?

— Amigos meus! — respondeu Tas com entusiasmo. — Este é Steel Montante Luzente, o filho de Sturm. Sturm era um Cavaleiro da Solamnia e um dos meus melhores amigos. Também é filho de Kitiara, mas essa não foi cavaleira, mas sim uma Eminência Draconiana e não era propriamente amiga, antes conhecida. Esta é Usha.

— Senhora — disse Palin com voz meiga, olhando, fascinado, para a mulher. Mas ficou desapontado ao ver que ela fitava o cavaleiro e lhe dirigia um tímido sorriso.

Steel nem se dignou a olhá-la. Os seus olhos perscrutavam as janelas da torre, procurando sinais de perigo.

Usha olhou-o com mais atenção, em especial para a armadura, cujos contornos o luar realçava. O sorriso desapareceu, os olhos da jovem ensombraram-se e sua voz tremeu de fúria.

— Eles eram como você... os que apareceram! Nos trataram como se fôssemos a terra que pisavam. Por que apareceram para destruir nossas vidas? — gritou de repente. — Que foi que fizemos? Não constituíamos nenhuma ameaça!

Steel virou-se para fitá-la e examinou-a com interesse.

— Senhora, de que cidade você vêm? De Kalaman? Então é verdade que caiu em nossas mãos?

Usha abriu a boca, disposta a responder, mas sentiu dificuldade em fazê-lo. Por fim, disse:

— Não, não sou de Kalaman. Fica perto... — Por um momento a sua voz tornou-se sumida, mas ganhou alento de novo. — Não tinham o direito de invadir a nossa terra natal!

— Senhora, seja qual for o mal que supõe que lhe infligiram, aconteceu em nome do progrosso — replicou Steel. — Não é obrigada a compreender, de modo que não tentarei explicar. — De novo os seus olhos se detiveram na torre. Ainda empunhava a espada. — Majere, não se esqueça que temos assuntos a tratar ali — acrescentou.

— Não me esqueci — respondeu Palin, embora a contragosto. Usha pousara nele os lindos olhos.

— Senhor, como se chama? — perguntou, sentindo-se corar sob o olhar de franca admiração do mago.

— Palin Majere — respondeu este em tom meigo. — E você? Eu... Eu não entendi muito bem.

— Usha — respondeu ela com malícia.

— Usha Majere. — exclamou Tas, dando pulinhos de excitação. — Não é espantoso? A Usha é filha de Raistlin! Encontrei a filha de Raistlin!

— Não! — exclamou Palin, como que fulminado.

— O que foi? — Assustada com a sua veemência, Usha recuou um passo. — Que mal tem?

— Eu... Eu sou o sobrinho de Raistlin! Caramon Majere é o meu pai e o teu tio. Somos primos — respondeu Palin, desgostoso. — Primos-irmãos!

— Só isso? — Usha deu um suspiro de alívio. — Pronto, somos primos-irmãos. Não me importo com isso — rematou, dirigindo-lhe um sorriso.

O sorriso dela pairava em volta de Palin como um manto de pó de estrelas. Este sentia-se tão deslumbrado que mal conseguia enxergar.

— Os pais deles são irmãos gêmeos — explicou Tas.

— Agora que a questão da genealogia se encontra esclarecida — interveio Steel em tom casual — Será, Majere, que posso recordá-lo uma vez mais que o tempo está escoando e que temos importantes coisas a fazer no interior da torre?

— No interior? — repetiu Usha, olhando, receosa, para a torre, e virando-se para Palin. — Tencionam entrar lá dentro?

— Nós acabamos de sair! — informou-os Tas, acrescentando, com orgulho: — Dalamar nos mantinha prisioneiros.

Palin mostrou-se duvidoso.

— Por que Dalamar haveria de mantê-la prisioneira?

— E o que interessa isso? Vocês atravessaram o bosque — respondeu Usha falando rapidamente e não dando a Tas ensejo de responder. Pegou na mão de Palin e fitou-o nos olhos. — O Veste Vermelha que está lá dentro afirmou que, para conseguir uma façanha destas, deve ser um feiticeiro muitíssimo poderoso. — Inclinando-se para ele, murmurou-lhe ao ouvido: — Você e o cavaleiro poderiam nos levar de volta através do bosque e deste modo sairíamos deste lugar horrível!

A sua mão era macia, suave. Quando o tocou, foi como se o cintilante véu de poeira de estrelas lhe invadisse o sangue.

— Menina, não posso — respondeu Palin, segurando-lhe a mão ainda. — Há um assunto que preciso tratar aqui. E não deve tentar fugir tomando o percurso da Clareira de Shoikan. Por pouco não escapávamos com vida.

Virando-se para Tasslehoff, acrescentou:

— Não entendo. Por que Dalamar haveria de mantê-los prisioneiros?

— Porque ela é filha de Raistlin, ora essa — respondeu Tas em tom prosaico.

Claro. Mesmo antes de formular a pergunta, Palin já adivinhara a resposta. Que grande alegria para Dalamar poder por as mãos na filha de Raistlin Majere! Foi quando ocorreu a Palin que possivelmente seria ela o motivo que fizera a voz conduzi-lo até ali. Sentiu um aperto no coração. Talvez o tio só necessitasse de um guia que o levasse até à pessoa por quem se interessava de verdade — a filha.

Palin retirou a mão. Os ciúmes avassalaram-no, sentiu os dentes venenosos enterrarem-se profundamente no seu espírito. Sentia-se atraído por aquela mulher e ao mesmo tempo cioso dela e finalmente compreendeu a relação amor-ódio que existira entre o pai e o irmão gêmeo dele.

Sentindo a inesperada frieza da parte do mago, mais fria do que os espectros, Usha fitou-o por longo tempo com uma expressão confusa e desiludida e, num gesto involuntário, afastou-se dele.

— Não vai nos ajudar a fugir? Muito bem. Atravessarei o bosque sozinha — declarou com altivez.

— Não, Usha, receio que não — respondeu Palin em tom ferido. — Há um motivo para se encontrar aqui...

— Que é? Raistlin anda à procura dela? — Tas interrogou-se alegremente. — Achei que Raistlin tivesse morrido. Palin, acha que ele morreu? Malandro, acha que não! Por isso está aqui! — A excitação do kender o pôs frenético.