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— Não faço idéia. Não me disse. Procura ver no tanque.

Os Que Vivem puseram-se a uivar de excitação. Vários deles arrastaram o corpo até à borda e, com os seus apêndices disformes, apontaram para a água. Steel olhou desconfiado para as criaturas, para o elfo das trevas e para o tanque.

— Aproxime-se da borda — explicou-lhe Dalamar, impaciente —, e olhe para a água. Não te acontecerá nenhuma calamidade. Apresse-se, Senhor Cavaleiro, porque não é só o teu comandante que está perdendo tempo. Ocorrem neste mundo acontecimentos graves, acho que está prestes a constatá-lo.

Ainda duvidoso, mas habituado a acatar ordens, Steel encaminhou-se para a beira do tanque, tomando a precaução de, no percurso, não tropeçar em nenhum Dos Que Vivem. Perscrutou a água escura, e de início apenas viu o reflexo da chama azul. Depois, a chama e a água misturaram-se e ondularam. Invadido pela terrível sensação de que ia tombar no tanque, estendeu as mãos para se conter e quase tocou no subcomandante Trevalin.

Este encontrava-se nos escombros calcinados de um castelo, com as paredes chamuscadas, as traves do teto desabadas no chão, o céu como telhado.

Ao que parece, o subcomandante presidia a uma reunião com o estado-maior, pois se viam, numa sala ampla, reunidos inúmeros cavaleiros sob o seu comando. No extremo mais recuado da mesma, encontrava-se sentado outro cavaleiro, este envergando a armadura dos Cavaleiros de Solamnia. Steel podia tê-lo considerado um prisioneiro, não fosse a armadura se encontrar chamuscada e enegrecida como as paredes calcinadas do castelo. Olhos avermelhados como chamas chispavam através das fissuras do elmo de metal. Steel soube então o nome deste terrível cavaleiro e onde se encontrava o comandante.

No Baluarte de Dargaard, residência de Lorde Soth, o cavaleiro da morte.

— Subcomandante Trevalin — saudou Steel. O subcomandante virou-se.

— Ah, Montante Luzente! — disse. — Vejo que continua hóspede do meu senhor Dalamar. — O cavaleiro esboçou uma saudação. — Senhor, agradeço-lhe por transmitir a minha mensagem.

Dalamar executou uma vênia, a boca retorcida numa expressão que era um misto de sorriso e de troça. Encontrava-se numa posição bastante embaraçosa. Não sentia nenhuma simpatia pelos feiticeiros Vestes Cinzentas de Takhisis e, no entanto, assumira o compromisso — pelo menos para salvaguardar as aparências — de fazer tudo ao seu alcance para servir a causa da sua Rainha das Trevas.

— Montante Luzente, como decorre a tua missão? — prosseguiu Trevalin. — Os Cavaleiros Cinzentos estão ansiosos para ouvir as novas. — A sobrancelha erguida exprimia com rigor o que pensava dos Cavaleiros Cinzentos e da ansiedade destes.

Sem pestanejar, Steel encarou o seu superior com ar resoluto.

— Meu subcomandante, falhei a missão — respondeu. — Palin Majere, O Veste Branca, escapou.

Trevalin assumiu uma expressão grave.

— Muitíssimo lamentável, Montante Luzente. Há alguma possibilidade de recuperar o prisioneiro?

Steel olhou de esguelha para Dalamar. O elfo das trevas abanou a cabeça.

— Atendendo ao lugar onde se encontra, não — disse baixinho.

— Não, meu subcomandante — respondeu Steel.

— Que pena. — A voz de Trevalin adquiriu uma frieza repentina. — O Majere foi condenado à morte. Empenhou a tua palavra de que regressaria. Visto que o deixou escapar, será você a ocupar o lugar do prisioneiro.

— Estou a par disso, meu subcomandante.

— É evidente que concederão o direito de defender a sua causa na presença do Juiz. Neste caso, será o próprio Lorde Ariakan, na qualidade de seu padrinho. — Trevalin parecia aliviado. — Felizmente para você. Montante Luzente, e para mim, Lorde Ariakan encontra-se bastante ocupado no momento. Pelo que, por força das circunstâncias, o seu julgamento ficará adiado. É um soldado conhecedor e valente. Lamentaria perdê-lo agora que a guerra vai eclodir. O que leva a outra questão. Recebeu ordens para regressar ao seu batalhão.

— Sim, meu subcomandante. Quando?

— Já. Imediatamente. Não há tempo a perder. Já enviei Fulgor para apanhá-lo.

— Obrigado, meu subcomandante. Reúno-me ao batalhão no Baluarte de Dargaard?

— Não, Montante Luzente. Nessa altura já não estaremos lá. Encontre-se conosco nas Montanhas de Vingaard. Amanhã, pela alvorada, atacaremos a torre do Sumo Sacerdócio. Não terá dificuldade em nos descobrir — acrescentou Trevalin, e o seu vaticínio arrancou um coro de gargalhadas por parte dos cavaleiros reunidos. — Os próprios deuses se dignarão olhar para esse vasto exército e ficarão estupefatos. Mas receberá instruções minhas.

Dalamar observava e escutava esta conversa em silêncio. No início, Jenna entrara na câmara e fizera-lhe um sinal de que precisava lhe falar. Ele acenara-lhe para que esperasse. Depois de ouvir o que precisava ouvir, Dalamar encaminhou-se para a parte da frente da câmara e postou-se ao lado de Jenna.

— O que é? Fale baixo.

Jenna inclinou-se para o elfo.

— A garota foi embora!

Dalamar ergueu o cenho.

— Embora? Como?

Jenna encolheu os ombros.

— Através da magia. Que mais haveria de ser? Tirou um frasquinho, quebrou o bujão de cera e começou a sair fumaça dele. Antes que pudesse detê-la, já o cheirava e se transformava em fumaça. Não houve maneira de conseguir regredir a magia, pois desconhecia que encantamento os Irdas utilizaram.

— Fosse como fosse, seria incapaz de detê-la — observou Dalamar. — De modo que, desapareceu?

— A nuvem de fumaça desvaneceu-se, e com ela a Usha.

— Interessante. Agora pergunto eu, se possuía tal capacidade, porque não foi embora mais cedo?

— Porque, conforme disse, talvez os Irdas a enviaram para nos espionar. Pelo menos isto o convence de que em parte ela é Irda?

— Não, não convence. Um duende dos esgotos conseguiria utilizar aqueles objetos encantados se mostrassem como se faz. Tal não responde a nenhuma das nossas perguntas a respeito da garota. Bom, desapareceu e, quanto a isso, não há nada a fazer. Temos preocupações mais urgentes. Os Cavaleiros de Takhisis planejam atacar a Torre do Sumo Sacerdócio ao alvorecer.

— Bendito seja Gileano! — exclamou Jenna, com os olhos arregalados de espanto.

— E vão vencer — respondeu Dalamar, olhando, de cenho franzido, para Steel.

Jenna olhou calmamente para Dalamar.

— Será que tais novidades te desagradam? — inquiriu. — Não está do lado da tua rainha?

— Se Takhisis estivesse do meu lado, eu estaria do dela — respondeu Dalamar em tom amargo. — Mas não está. A minha rainha considerou vantajoso utilizar os seus próprios feiticeiros para executar o trabalho dele. Se a Torre do Sumo Sacerdócio cair nas mãos dos cavaleiros dela, com toda a certeza que a cidade de Palanthas se renderá. Estaremos atentos às ordens e chamaremos os Feiticeiros Cinzentos.

Jenna ficou chocada.

— Por certo não imagina que eles se atrevessem a tentar retirá-lo do domínio da Torre da Feiticeira Suprema, não é?

— Num abrir e fechar de olhos, minha querida! Claro que o Conclave lutará contra eles, mas já constatamos como trabalham bem quando atacamos o Baluarte da Tempestade.

Pálida e silenciosa, Jenna aquiesceu com a cabeça. Justanius, o pai, morrera nessa catástrofe.

— Nuitari deve achar difícil chegar a um consenso com a mãe — prosseguiu Dalamar em tom duro e referindo-se ao deus da magia negra, filho de Takhisis. — Reparei que ultimamente o poder dele tem vindo a declinar.

— Não é o único — observou Jenna. — A Lunitari tem andado estranhamente impotente e, de acordo com um Veste Branca com quem falei ontem em Wayreth, a Solinari também se distanciou do seu povo.

— Minha querida, acho que vou efetuar uma pequena viagem — disse Dalamar aquiescendo com a cabeça.