Выбрать главу

— Até à Torre do Sumo Sacerdócio — disse Jenna, entendendo. — Que farão com o cavaleiro?

— O dragão azul dele vem buscá-lo. Leve-o até o Passeio dos Mortos. Removerei o escudo mágico que protege a torre o tempo suficiente para permitir ao dragão descer e apanhar o dono.

— O deixaremos partir? Poderíamos torná-lo prisioneiro.

Dalamar ponderou o assunto.

— Não — respondeu. — O devolveremos ao seu exército. Não é um cavaleiro a mais ou a menos que contribuirá para o desfecho da batalha.

— Podemos usá-lo como refém ...

— Os Cavaleiros de Takhisis não fariam nada para salvá-lo. Com efeito, se voltar, será condenado à morte. Perdeu o prisioneiro, entende?

— Então, não voltará. Para quê?

Est Sularus oth Mithasit. A minha honra é a minha vida. Foram os Cavaleiros da Solamnia os primeiros a declará-lo, mas os Cavaleiros de Takhisis regem-se pelo mesmo código estúpido. Experimente fazer com que o desonre. Estou certo que considerará a resposta dele muito interessante.

— Por outro lado — acrescentou Dalamar, em tom pensativo —, não posso garantir, mas podemos estar prestando um mau serviço a Sua Majestade das Trevas devolvendo-lhe este cavaleiro em particular, não se encontra inteiramente sob o seu comando.

Jenna abanou a cabeça.

— Meu amor, fala por metáforas. A mim parece-me estar bem vinculado a Takhisis. Que faria eu depois de me livrar dele?

Dalamar fixou o tanque escuro. Os seu olhos refletiam o fulgor da chama azul.

— Jenna, se eu fosse você, começaria a embalar as minhas coisas.

Steel acabou a conversa com o superior. O feitiço terminou e o encantamento dissipou-se.

O cavaleiro encontrava-se de novo postado à beira do tanque de água escura. Vários Dos Que Vivem amontoavam-se à sua volta, tocando-o e cutucando-o com interesse a armadura. Reprimindo um calafrio, saltou rapidamente para trás, quase batendo em Jenna.

— Senhor Cavaleiro, ouvi dizer que vai nos deixar.

— É verdade, Senhora — replicou Steel. — O meu dragão está chegando. — Olhando ao redor perguntou: — Onde foi Lorde Dalamar?

— O meu senhor foi afastar o escudo mágico que envolve este lugar. Vou levá-lo até o Passeio da Morte. Ele o encontrará lá com o teu dragão. Ou prefere atravessar de novo a Clareira de Shoikan? — acrescentou com malícia.

Sentindo que estava sendo alvo de chacota, Steel guardou um silêncio gélido.

— Senhor Cavaleiro, acompanhe-me por favor. — Jenna dirigiu-se para a porta. — Iremos pelo corredor. Não quero subir os mil degraus e prefiro não lançar nenhum feitiço sobre esta câmara. Os encantamentos não combinam bem.

Steel seguiu Jenna e abandonou, sem o mínimo desgosto, a Câmara Dos Que Vêem. Ao chegar ao lado de fora do patamar, soltou um profundo suspiro. O ar da torre estava úmido e cheirava a ervas e especiarias bolorentas e putrefatas, mas pelo menos servia para afastar o fedor pavoroso da câmara.

Jenna mirou-o com curiosidade.

— Senhor Cavaleiro — disse —, antes de mais nada devo perguntar se tem certeza mesmo de que pretende nos deixar.

— Porque não? — retrucou Steel, olhando-a circunspecto. — Há alguma hipótese de eu encontrar o Majere?

Nesta vida não — replicou Jenna com um sorriso. — Não foi o que pretendi dizer. Dalamar me contou que, se voltar para o teu exército, será executado.

— Falhei o meu dever. O castigo é a morte — respondeu Steel com voz serena.

Jenna olhou-o com ar espantado.

— Então, porque regressa? Fuja enquanto pode! — E aproximando-se dele, acrescentou com meiguice: — Mando-o para onde você quiser. Enterre essa armadura e se tornará um novo homem. Ninguém saberá.

— Mas eu sim, Senhora — replicou Steel.

— Então, muito bem — respondeu Jenna, encolhendo os ombros. — O funeral é seu. Feche os olhos. Ajuda a afastar as tonturas.

Fechando os olhos, Steel ouviu a feiticeira começar a rir.

— Dalamar tinha razão! Muito interessante!

25

O duende bem-vestido.

O dobro ou nada.

Usha encontrava-se perto de uma carroça cheia de faita, sem saber muito bem onde estava nem como conseguira chegar ali. O corpo zunia da cabeça aos pés, parecia ter a cabeça cheia de tênue e fumegante nevoeiro e sentia comichão no nariz.

Lembrava-se vagamente de ter pegado no frasquinho e que, ao cheirá-lo, inalara um perfume bastante agradável. Era tudo o que conseguia recordar até aquele momento, em que dava consigo no que parecia ser um mercado ao ar livre apinhado de gente. Por ter aparecido assim, de nenhum lugar, Usha estava à espera que todos se pusessem a examiná-la. Mas ninguém lhe prestou a mínima atenção.

As pessoas andavam muito ocupadas com as suas próprias ralações. No mercado ninguém vendia nada, a não ser boatos.

As pessoas juntavam-se em grupinhos, falando em voz baixa e urgênte. De vez em quando, alguém saía do grupo para se dirigir a outro, indagar as novidades. Usha ouviu várias vezes as palavras: “Kalaman caiu!”, pronunciadas em tom de medo e alarme. Usha nada podia fazer a este respeito. O que ouviu foi suficiente para se convencer de que se encontrava de novo em Palanthas.

Suspirou. A perspectiva de se encontrar de novo em Palanthas, próximo da terrível torre, não lhe agradava muito. Contudo, abandonar Palanthas e desistir de toda a esperança de rever Palin também a entristecia. Disse para consigo que, mesmo sendo remota, continuaria a acalentá-la. Já não se sentia só e sem amigos. Havia alguém que se preocupava com ela. E tinha alguém com quem se preocupava.

Do lugar onde se encontrava, não conseguia avistar a torre, mas também não conseguia enxergar os telhados dos edifícios altos que a rodeavam. Desejou poder esquivar-se, e antes que alguém começasse a importuná-la desapareceu na multidão. Tinha que fazer alguma coisa para ganhar aquelas peças de aço que os Palancianos consideravam tão valiosas. Refletia ela no assunto, interrogando-se o que poderia fazer, quando a fumaça que ainda sentia no nariz começou a irritá-la.

Tentou resistir, mas não conseguiu evitar um sonoro espirro. Alarmado, um duende de roupas coloridas que se encontrava perto dela deu um pulo, fazendo ressoar as botas no pavimento.

— Pelas barbas de Reorx, menina, pregou-me um susto! — arquejou o duende que, procurando recuperar o alento, levou a mão ao coração.

— Desculpe, senhor — começou Usha, mas um espirro obrigou-a a calar-se.

— Está constipada, não está menina? Ou muito afeita a constipações. — Olhando-a com nervosismo, o duende retrocedeu um passo.

Usha abanou a cabeça, e a iminência de um terceiro espirro impediu-a de explicar a situação. O duende recuou ainda mais, protegendo o rosto com o chapéu.

— Saúde! — disse.

Usha agradeceu, fungou e começou a remexer o alforje, à procura de um lenço. O duende estendeu-lhe o seu. Era branco, feito de renda e num dos cantos ostentava as iniciais DMV, bordadas com cuidado. O lenço parecia tão lindo e elegante que Usha, envergonhada, se assoou a uma das pontas e, corando, o devolveu.

O duende meteu-o numa algibeira e examinou Usha com uns olhos vivos e penetrantes.

— Menina, como se chama?

— Usha, meu senhor — replicou Usha em tom cortês, julgando, a avaliar pelas roupas, que aquele duende devia ser alguém importante, quem sabe o senhor de Palanthas em pessoa.

— Menina, não me trate por “meu senhor” — replicou o duende, embora cofiasse, com ar orgulhoso, a barba espessa e lustrosa. — Dougan Martelo Vermelho, ao seu dispor.

Usha sabia que os duendes eram artesãos qualificados, ótimos para trabalhar o metal e a pedra, mas desconhecia a sua supremacia na moda. A beleza lendária das muralhas da grande cidade-caverna de Thorbardin não era nada comparada com o colete de veludo encarnado com botões dourados do duende. A magnificência dos portões imensos de Pax Tharkas, quando comparada com a camisa de seda, com punhos de renda de Dougan ficava reduzida a uma insignificância.