Выбрать главу

— Meio Elfo, fala realmente a verdade quando se refere à necessidade de espadas — observou Dalamar, enquanto percorriam as ameias em direção aos aposentos interiores. — Embora eu ache que o que precisa mesmo é de um milagre...

— No passado, Paladino nos providenciou — respondeu Tanis. Dalamar relanceou o olhar pela torre.

— Sim, mas não vejo nenhum feiticeiro meio tonto murmurando rezas de encantamento para bolas de fogo e interrogar-se onde pôs o chapéu.

Detendo-se, o elfo das trevas virou-se para Tanis.

— Épocas sombrias se aproximam — disse. — Não devia encontrá-lo aqui, meu amigo. Deveria partir, voltar para casa, para junto da tua mulher. Se quiser, ajudo-o. Diga a palavra e envio-te imediatamente.

Tanis olhou para o elfo das trevas.

— As notícias que traz são tão más assim?

— É verdade, Meio Elfo — respondeu Dalamar com voz tranqüila. Tanis pôs-se a coçar a barba e respondeu:

— Primeiro ouvirei as notícias e depois decidirei.

— Faça como quiser — retorquiu Dalamar com um encolher de ombros. Recomeçou a andar, agora em passos rápidos, fazendo rodopiar as vestes negras em torno dos tornozelos. Os poucos cavaleiros por quem passaram, olharam o feiticeiro com uma expressão sinistra, afastando-se apressadamente.

Tanis entrou na sala do conselho. Uma escolta armada de cavaleiros foi ao encontro deles.

— Procuro Sir Thomas — anunciou Tanis.

— E ele quer falar contigo, meu senhor — respondeu o comandante da escolta. — Fui incumbido de transmitir que convocaram um Conselho de Cavaleiros para lidar com esta crise. Comunicaram a Sir Thomas que Lorde Dalamar chegou e traz notícias.

— De índole muito urgente — declarou Dalamar. O cavaleiro dirigiu-lhe uma vênia rígida e fria.

— Meu senhor Dalamar, Sir Thomas apresenta os seus agradecimentos pela sua vinda. Se quiser me transmitir as notícias, ou, caso prefira, ao meu senhor Tanis Meio Elfo, não o reteremos por mais tempo.

— Não podem reter-me — replicou Dalamar. — Não existem meios para me reter. Vim de livre vontade e desse modo partirei, depois de ter falado com Thomas de Thalgaard.

— Meu senhor. — O cavaleiro hesitou, debatendo-se entre a polidez e a política. — Colocas-nos numa situação muito difícil. Posso falar sem rodeios?

— Se isso abreviar o assunto, pode — respondeu Dalamar, cada vez mais impaciente.

— Meu senhor, como bem sabe, representa o inimigo e portanto...

Dalamar abanou a cabeça.

— Senhor cavaleiro — disse —, é certo que os seus inimigos estão perto, mas não me incluo entre eles.

— Talvez. — O cavaleiro não se mostrou convencido. — Mas foram as ordens que recebi. Pode se tratar de uma armadilha da sua Rainha soberana para enfeitiçar os nossos comandantes.

O rosto de Dalamar empalideceu de fúria.

— Senhor cavaleiro, se eu quisesse “enfeitiçar” os seus comandantes, o faria no conforto e segurança da minha casa! — respondeu. — Neste exato momento eu poderia...

— Mas não o fará — interveio rapidamente Tanis. — Lorde Dalamar veio de boa-fé. Garanto-o. Se for necessário, responderei com a vida.

— E eu também — ouviu-se uma voz calma, vinda de outro corredor.

Lady Crysania, conduzida pelo tigre branco e escoltada por um pequeno destacamento de cavaleiros, fez a sua entrada na sala do conselho. O tigre examinou intensamente cada presente, não com a expressão rápida e desconfiada de um animal, mas com o olhar veemente, pensativo e inteligente de um homem. E, talvez fosse produto da imaginação de Tanis, mas poderia jurar que Dalamar e o tigre trocaram, de esguelha, um sinal de aprovação.

O comandante e os seus homens caíram de joelhos, com a cabeça inclinada.

A Venerada Filha de Paladino obrigou-os a se levantarem e depois virou os olhos vazios na direção de Dalamar. O elfo das trevas curvara a cabeça, num gesto respeitoso, mas sem executar a vênia. Obedecendo à ordem que a dona lhe deu em voz meiga, o tigre conduziu-a até Dalamar, não sem antes interpor o seu corpo maciço entre os dois. Crysania estendeu a mão.

Dalamar aflorou-a com a ponta dos dedos.

— Agradeço o seu apoio, Venerada Filha — disse, embora com um leve sarcasmo.

Crysania virou-se para os cavaleiros.

— Agora, querem fazer o favor de nos escoltar, aos três, à presença de Sir Thomas de Thalgaard?

Embora fosse óbvia a relutância dos cavaleiros em escoltar Dalamar para outro lado que não as masmorras, não tiveram outra hipótese senão aquiescer. Os Cavaleiros da Solamnia serviam o deus Paladino, e a Venerada Filha era a representante suprema da igreja que se dedicava à adoração desse deus.

— Por aqui, meus senhores, Venerada Filha — disse o comandante, ordenando aos seus homens que formassem fileiras atrás deles.

— Venerada Filha, como sabia que me encontrava aqui? — perguntou Dalamar em voz baixa, não parecendo lá muito agradado. — Será que a igreja anda vigiando os meus movimentos?

— Meu senhor, Paladino observa todos os seus filhos, tal como o pastor o seu rebanho, sem esquecer as ovelhas negras — acrescentou, com um sorriso. — Mas não, Senhor Feiticeiro, desconhecia que se encontrava aqui. Circulam por Palanthas estranhos boatos. Ninguém soube me dar qualquer informação, de modo que decidi averiguar o que se passava.

A sacerdotisa realçou a palavra “ninguém”, acompanhando-a de um sorriso, o que levou Dalamar a examiná-la com mais atenção. Deu um passo em frente. O tigre imitou-o, com extrema dignidade, guiando os passos da dona e mantendo-se vigilante.

— Venerada Filha, pelo que afirma, deduzo que o seu deus não lhe contou nada do que se passa no mundo, é isso?

Crysania não respondeu, mas o seu rosto pálido e perturbado deixou transparecer o que pensava.

— Venerada Filha, não o pergunto movido por sentimentos de vingança triunfante — prosseguiu Dalamar. — Ultimamente, Nuitari, o meu próprio deus, tem guardado um estranho silêncio, tal como todos os deuses da magia. Quanto à minha Rainha — acrescentou Dalamar, encolhendo os ombros —, o poder de Nuitari está se desvanecendo, afetando, como conseqüência, o meu. O mesmo se passa com Lunitari e Solinari. Todos os magos são unânimes. É como se os deuses estivessem preocupados...

Crysania virou-se para ele.

— Meu senhor, tem razão. Quando ouvi aqueles boatos, comuniquei-os em oração ao deus. Está vendo o amuleto que uso em volta do pescoço? — perguntou, indicando um medalhão de prata, adornado com a imagem de um dragão feito em folha de ouro. — No passado, sempre que rezava a Paladino, sentia o seu amor me envolver. Este medalhão — acrescentou, tocando-o com ar reverente — começava a emanar uma luz suave. Sentia a alma apaziguada e a minha perturbação e receios desapareciam.

Manteve-se por um momento em silêncio e depois acrescentou, com voz doce:

— Ultimamente, este medalhão tem permanecido obscuro. Sei que Paladino escuta as minhas orações, sinto que pretende me reconfortar. Mas, receio que não tenha conforto para me oferecer. Receio que isso se deva à ameaça feita por Lorde Ariakan.

— Talvez — aquiesceu Dalamar, mas era evidente que isso não o convencia em absoluto. — É possível que logo o descubramos. Palin Majere atravessou o Portal.

— É verdade? — perguntou Crysania, consternada.

— Receio que sim.

— Como conseguiu entrar, se trancou o laboratório? Até colocou guardas para vigiá-lo!

— Senhora, foi convidado — respondeu Dalamar com secura. — Acho que adivinha por quem.

A cor fugiu do rosto de Crysania, que se tornou pálido. Os seus passos vacilaram. O tigre encostou-se a ela, oferecendo-lhe amparo e conforto.