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Tanis precipitou-se para ajudá-la e segurou-lhe o braço. Sentindo-a tremer, olhou para Dalamar com ar zangado.

— Deixou Palin entrar? — inquiriu. — Devia tê-lo impedido!

— Meio Elfo, não tive outro remédio — replicou Dalamar, e os seus olhos escuros faiscavam. — Todos nós aqui experimentamos na pele o poder de Raistlin.

— Raistlin morreu — declarou Crysania com voz firme. A fraqueza momentânea passara rapidamente. Endireitando-se, libertou-se do abraço de Tanis. — Através do seu sacrifício conquistou a paz. Se Palin Majere foi atraído para o Abismo — acrescentou, e a sua voz suave traía a comiseração —, alguma outra força o arrastou.

Dalamar abriu a boca, mas o cenho carregado de Tanis, como que a adverti-lo, calou-o, embora os seus lábios esboçassem um trejeito irônico.

Os três fizeram o resto do percurso em silêncio, cada um ocupado com os seus próprios pensamentos e, a avaliar pela expressão sombria, nenhum se sentia lá muito satisfeito. O comandante os conduziu até a um longo corredor, decorado com bandeiras. Cada uma destas ostentava o brasão dos que se encontravam alistados.

O ar estava quente e parado e as bandeiras pendiam, imóveis. Examinando a longa fila, Tanis descobriu o brasão da família Majere, recentemente incluído pela admissão dos dois irmãos na cavalaria.

A bandeira ostentava um botão de rosa — símbolo de Majere, o deus responsável pelo nome da família — submerso numa caneca de cerveja espumosa. Tanis pensara sempre que o brasão se assemelhava mais à tabuleta de uma estalagem do que a um estandarte de cavalaria, mas fora Caramon quem o desenhara e orgulhava-se muito dele. Tanis amava demais o amigo para proferir uma palavra contra ele. Enquanto o examinava, dois pagens, montados em escadas de mão, envolveram a bandeira num pano preto.

— Meus senhores, Venerada Filha, queiram entrar por favor.

O comandante escancarou as portas que davam para uma sala ampla e convidou os três a falar perante o Conselho dos Cavaleiros.

Este reunia-se apenas em certas ocasiões, acordadas pela Medida Legislativa. Incluía medidas como a decisão quanto a estratégias bélicas, a transferência de ordens, a seleção prévia de lordes guerreiros para batalhas, a audiência de acusações de comportamento conforme o grau de cavaleiro, a distinção dos que executavam atos de bravura e a resolução de questões relacionadas com a Medida Legislativa.

O Conselho era constituído por três cavaleiros, representantes das três ordens: a Rosa, a Espada e a Coroa. Os mesmos presidiam a uma grande mesa, esculpida com os símbolos das ordens, que se encontrava do lado oposto à entrada para a sala do conselho. Durante as reuniões de conselho podiam estar presentes os cavaleiros cujos deveres assim o permitissem. Os que desejassem tomar a palavra perante o Conselho, permaneciam numa área desocupada, bem defronte da mesa.

Depois de recitado o Código dos Cavaleiros, Est Sularus oth Mithas, por todos os cavaleiros presentes no salão, por vezes, quando a ocasião era de júbilo, entoava-se o Hino dos Cavaleiros.

Nesta reunião, os três cavaleiros presentes recitaram o código, e sentaram-se sem entoar o hino.

— Devo declarar que se trata de uma ocasião histórica — comentou Sir Thomas depois de efetuadas as apresentações e de trazerem cadeiras para os visitantes. — E, me perdoem por dizer, não me agrada particularmente. Para falar sem rodeios, este encontro de vocês três, nesta altura... — Abanou a cabeça. — Cheira-me a calamidade.

— Meu senhor, diga antes que aqui nos fizeram comparecer para evitarmos a calamidade — disse Lady Crysania em voz gentil.

— Venerada Filha, rezo a Paladino para que tenha razão — replicou Sir Thomas. — Senhor Feiticeiro, vejo-te agitado, impaciente. Que notícias assim tão urgentes nos traz que justifiquem a presença de um Veste Negra diante do Conselho... algo que nunca aconteceu em todos os anais da cavalaria?

— Senhor — interveio vivamente Dalamar, determinado em não perder mais tempo —, soube, de fonte digna, que os Cavaleiros de Takhisis atacarão amanhã, pelo entardecer, esta fortificação.

— Amanhã? — perguntou Lady Crysania com um profundo arquejo. Ao seu lado, o tigre rugiu suavemente. Acalmou-o sussurrando-lhe palavras e afagando-lhe a cabeça. — Tão depressa? Como pode ser?

Tanis disfarçou um suspiro. Então era isso que Dalamar queria dizer quando me avisou para sair daqui, Se ficar, me envolverei na batalha. Tem razão. Devo partir, voltar para casa.

Estupefato, Sir Thomas de Thalgaard passeou o olhar por Dalamar, Tanis e Lady Crysania, voltando a fixá-lo em Dalamar. Os outros dois membros do Conselho, um Cavaleiro da Espada e um Cavaleiro da Coroa, permaneceram sentados, com um semblante carregado que não deixava transparecer o que pensavam. Ao cavaleiro de mais elevado estatuto coube a tarefa de falar primeiro.

Sir Thomas cofiou os longos bigodes, apanágio da cavalaria.

— Meu Excelentíssimo Dalamar, espero que não leve a mal se te perguntar por que motivo nos trouxeste tais notícias.

— Meu senhor, não vejo necessidade de te explicar a razão que me levou a fazê-lo — replicou Dalamar com frieza. — Basta dizer que vim aqui para avisá-los no sentido de efetuarem os preparativos possíveis para enfrentar a investida. Embora não possa responder pelos motivos que me moveram, Tanis Meio Elfo pode responder pela minha veracidade.

— Acho que posso responder pelos motivos dele — acrescentou Lady Crysania em voz baixa.

— Mas, se quiser saber como me inteirei, posso satisfazer facilmente tal pedido — prosseguiu Dalamar, indiferente à interrupção. — Encontrei-me há pouco na companhia de um Cavaleiro de Takhisis, um homem de nome Steel Montante Luzente.

— Filho de Sturm Montante Luzente — lembrou-lhe Tanis.

O rosto dos três cavaleiros ensombrou-se e franziram o cenho.

— O violador do túmulo do próprio pai — disse um deles.

— Diga antes o bafejado pela bênção do próprio pai — corrigiu Tanis, acrescentando, irritado: — Com mil raios, já compareci perante este conselho para explicar o que aconteceu!

Os três cavaleiros trocaram olhares de esguelha, mas guardaram silêncio. Tanis Meio Elfo era, na Solamnia, uma figura lendária. Herói de renome, exercia, nesta parte do mundo, uma poderosa influência. Após o referido incidente com Steel Montante Luzente no túmulo sagrado dos cavaleiros, fora solicitado a Tanis que comparecesse perante o Conselho dos Cavaleiros a fim de explicar porque motivo escoltara pessoalmente até à Torre do Sumo-Sacerdócio um mancebo que se conhecia ser leal à Rainha das Trevas, e o conduzira à sepultura, onde o jovem cometera o terrível sacrilégio de perturbar o repouso do heróico pai. Steel Montante Luzente destruíra o corpo, roubara a espada sagrada do progenitor e ferira vários cavaleiros enquanto tentava abrir caminho até à saída. Ainda por cima, Tanis Meio Elfo e o seu amigo Caramon Majere tinham ajudado e instigado o cavaleiro do Mal na sua fuga.

Tanis expusera a sua opinião a respeito do incidente. Segundo ele, Steel comparecera ali para prestar homenagem ao pai. Este presenteara-o com a espada, possivelmente na tentativa de desviar o jovem dos maus caminhos pelos quais enveredara. Quanto à ajuda prestada por Tanis e Caramon, ambos haviam jurado ao mancebo protegê-lo à custa da própria vida.

O Conselho dos Cavaleiros ouvira outros testemunhos, nomeadamente o da Venerada Filha Crysania, que falara em abono de ambos, acrescentando ter a firme convicção de que o próprio Paladino lhes guiara os passos até à torre, pois, embora o cavaleiro envergasse a armadura ornamentada com o lírio da morte, os fatos evidenciavam que, ao longo do percurso, até o fim, os Cavaleiros da Solamnia com quem deparara haviam tomado Steel Montante Luzente por um dos camaradas de armas.