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Steel conduziu os homens por cima dos escombros do portão, pela lama viscosa e pelo corredor que desembocava no pátio central da Torre do Sacerdócio Supremo. Chegando ao fim deste, mandou as tropas pararem.

O pátio encontrava-se vazio.

Steel sentiu-se inquieto. Esperava resistência.

No interior das pesadas muralhas da torre, tudo estava calmo, calmo demais.

Tratava-se de uma cilada.

Pouco habituados a atacar fortificações, os brutos teriam arremetido à toa contra o espaço aberto. Em voz gutural, Steel emitiu uma ordem, sendo obrigado a repeti-la duas vezes antes dos brutos compreenderem que deviam aguardar o seu sinal para avançar.

Steel pôs-se a estudar cuidadosamente a situação.

O pátio fora construído em cruz. À direita de Steel, erguiam-se duas portas de ferro, assinaladas com o símbolo de Paladino, que desembocavam nas profundezas da torre. No extremo oposto da cruz, havia outra ponte levadiça, mas Steel não tencionava deixar-se enganar. O corredor conduzia às armadilhas contra dragões — que para os Cavaleiros de Takhisis, já haviam passado para a História.

De cada lado da ponte levadiça viam-se dois lances de escadas, que começavam nas ameias. Steel olhou-as fixamente. Ordenando aos brutos que guardassem silêncio, pôs-se à escuta e julgou ouvir um roçar, como se fosse uma armadura raspando a pedra. Com que então, era ali que se escondiam! Iria rechaçá-los dali e sabia como proceder.

Apontando para as portas de ferro que ficavam à direita, as assinaladas com o pica-peixe e a rosa, Steel, em voz alta, emitiu as suas ordens.

— Arrombem aquelas portas. Ao fundo das escadas encontra-se um sepulcro que encerra os corpos de Cavaleiros da Solamnia amaldiçoados. Recebemos ordens para saqueá-lo.

Vários brutos lançaram-se à tarefa, arremessando os corpos maciços contra a porta e desferindo golpes na fechadura com as espadas. Senhor indiscutível da torre, Steel entrou no pátio com ares arrogantes. Retirando o elmo, pediu um odre e bebeu um longo trago de água. Os brutos restantes treparam atrás dele, rindo e tagarelando. Arrancando as tochas das paredes, escarneciam, impacientes, os camaradas, cuja tarefa de arrombar a porta se revelava difícil.

Steel tampouco esperava que conseguissem. Não recebera ordem nenhuma para saquear o túmulo nem tencionava permitir que os bárbaros invadissem o átrio santificado. Mas o estratagema funcionara. Aproximando-se lentamente das escadas, conseguia ouvir agora com nitidez o retinir de metal contra metal e até um murmúrio de raiva, prontamente abafado.

Mantendo-se impassível e fingindo que nada ouvira, voltou para junto dos brutos e instigou-os:

— Seus pés-de-salsa! — exclamou, bufando. — Será que tenho de chamar os feiticeiros sempre que deparamos com uma porta? Mais valia eu comandar um exército de duendes malignos! Metam esses costados na...

Um fragor, o entrechocar de espadas e um grito súbito, vindos da sua esquerda, assinalou a Steel que os defensores tinham saído do esconderijo e atacavam.

Um contingente de Cavaleiros da Solamnia irrompeu pelo meio da força de Steel. Até este foi apanhado desprevenido pela investida, inesperada e fulminante. Vários brutos foram esfacelados antes de poderem empunhar as espadas.

Ao que parece, os cavaleiros eram chefiados por um comandante apto e inteligente. Não atacaram em tropel, mas antes com precisão, introduzindo-se à força no corpo principal do contingente de Steel e dispersando as suas tropas, ao mesmo tempo que se mantinham coesos. Como o segundo exército de investida estava entrando pela frente, os efetivos de Steel, não tendo outro lugar para onde ir, ficaram encurralados no pátio.

Claro que previra isto. Não esperava ganhar a batalha, mas, pelo menos, o segundo exército encontraria o caminho desimpedido.

Steel deixou para os seus homens a investida do ataque. Tinha por responsabilidade localizar o apto e inteligente comandante, possivelmente o mesmo que, com tanta determinação, combatera nas ameias, e eliminá-lo.

Decepe a cabeça e o corpo tombará, era uma das máximas de Ariakan.

Voltando a pôr o elmo e baixando a viseira, Steel, aos empurrões, abriu caminho pelos seus homens. Repeliu espadas e parou de lutar quando se viu forçado a isso. Mas a sua atenção mantinha-se concentrada na localização do oficial responsável. Tal revelou-se difícil. Todos os oficiais envergavam armaduras — muitas delas amassadas e ensangüentadas. Mal conseguia distinguir uns dos outros.

Enquanto forçava para abrir caminho até o centro daquela amálgama, do tumulto chegou aos ouvidos de Steel uma voz de comando que distribuía ordens e, desta vez, avistou o comandante.

Não usava elmo, possivelmente para que as suas ordens pudessem ser ouvidas com nitidez. Não envergava armadura completa, apenas uma couraça por cima de couro trabalhado. Steel não conseguiu enxergar-lhe o rosto, pois o comandante estava de costas para o cavaleiro das trevas. O cabelo comprido e castanho, com laivos grisalhos, indicava tratar-se de um homem mais velho, sem dúvida um veterano de inúmeras batalhas.

Parte da couraça pendia-lhe, solta. Uma das tiras de couro fora cortada, deixando-lhe as costas parcialmente descoberta. Mas Steel preferia morrer a atacar um homem por trás.

Enquanto empurrava os seus homens e ao mesmo tempo combatia um Cavaleiro da Solamnia, Steel aproximou-se do comandante e pousou-lhe a mão no ombro, para lhe chamar a atenção.

O homem virou-se de um salto e encarou o adversário. Tinha o rosto barbudo coberto de sangue. O cabelo, empapado de suor, caía-lhe nos olhos. Steel foi percorrido por um leve estremecimento. Algo dentro dele dizia: Conhece este homem.

— Meio Elfo! — exclamou, arquejante.

O homem refreou a investida, deu um salto para trás e olhou para Steel com desconfiança.

O cavaleiro sentia-se furioso com a partida que o destino lhe pregara, mas a sua honra exigia-lhe que deixasse de lutar contra o homem que lhe salvara a vida uma vez.

Com um gesto raivoso, Steel ergueu a viseira.

— Você me conhece, Tanis Meio Elfo. Não lutarei contigo, mas posso e exijo que se renda!

— Steel? — Tanis baixou a espada. O encontro o surpreendia, mas, de certo modo, também não o surpreendia. — Steel Montante Luzente...

Um jovem Cavaleiro da Solamnia que se encontrava próximo de Tanis, passou correndo pelo meio elfo, com uma lança assestada contra o rosto desprotegido de Steel.

Steel levantou o braço para se defender do golpe, escorregou numa poça de sangue e caiu no chão. A espada — a espada do pai — soltou-se da mão. O jovem cavaleiro já se encontrava a dois passos.

Desesperado, Steel tentou se levantar, mas a pesada armadura o impedia de executar movimentos rápidos. O Cavaleiro da Solamnia ergueu a lança e preparou-se para trespassar a garganta de Steel com a ponta. De repente, Steel deixou de ver cavaleiro e lança.

Erguendo a cabeça, viu Tanis, que lhe estendia a mão, para ajudá-lo a se levantar.

O orgulho acicatou-o a recusar a ajuda do inimigo, mas o bom senso e a Visão obrigaram-no a aceitar, de má vontade, os préstimos de Tanis.

— Mais uma vez te devo a vida, Meio Elfo — disse Steel com amargura, quando já se encontrava de pé.

— Não me agradeça — retrucou Tanis, soturno. — Fiz uma promessa ao...

O meio elfo esbugalhou os olhos, com um esgar de dor a contorcer-lhe o rosto. Tombou para frente, soltando um grito repassado de sofrimento.

Um dos brutos, que se encontrava atrás do meio elfo, empunhava agora uma espada coberta de sangue.

Tanis cambaleou e os seus joelhos cederam.

Steel amparou-o na queda e, suavemente, deitou-o no chão. Aninhando Tanis nos braços, o cavaleiro sentiu o sangue quente escorrer-lhe para as mãos.

— Meio Elfo! — exclamou Steel. — Não fui eu quem te atacou! Juro!

Tanis levantou a cabeça e esboçou um esgar.