Os seus galhos se moveram no vento.
— Quem é você que me incomoda? — sua copa sussurrou.
Um ruído instaurou-se em torno dele. Todos os lugares em que antes reinava o silêncio agora estavam tomados por sussurros.
— Quem é? — as árvores pareciam perguntar.
— Um elfinho de nada — foi a resposta.
O pinheiro das fadas pediu:
— Silêncio! Deixem-no responder!
— Eu sou só um humilde elfo — disse Nuramon. — E procuro a minha amada.
— Como você se chama, elfinho?
— Nuramon.
— Nuramon — ouviu soar de uma das copas. As outras árvores também murmuraram o seu nome.
— Já ouvi falar de você — esclareceu o pinheiro.
— De mim?
— Você mora numa casa na árvore, num carvalho que se chama Alaen Aikhwitan. A casa é feita da madeira que um dia já abrigou a alma da poderosa Ceren. Você conhece o Alaen Aikhwitan? E já ouviu falar em Ceren?
— Ceren eu não conheço, mas o Alaen Aikhwitan, sim. Sinto a sua presença quando estou em casa. A sua magia mantém a casa fresca no verão e aquecida no inverno. Foi com ele que minha mãe aprendeu a arte da cura e eu a aprendi com ela. Mas ele nunca se revelou para mim.
— Primeiro ele precisa se acostumar a você. Ainda é jovem. Os mensageiros dele me contaram... da sua solidão.
Nuramon tinha perguntas e mais perguntas na ponta da língua, mas a árvore por sua vez perguntou:
— Mas quem é a sua amada?
— Ela se chama Noroelle.
Um cochicho alegre circulou por entre as copas das árvores, e o nome de Noroelle também soou algumas vezes. Todavia, as vozes das árvores se confundiam de tal forma com o seu farfalhar característico que não era possível compreender o que diziam sobre ela.
Mas ele foi capaz de entender o pinheiro das fadas.
— Ela não está aqui, e tampouco esteve aqui esta noite.
— Mas a rainha disse que ela estava aqui no jardim.
— A rainha diz o que deve ser dito. Noroelle não está aqui, mas está perto. Vá até o terraço, ali onde há uma tília e uma oliveira lado a lado!
Nuramon gostaria de perguntar sobre Ceren, mas naquela hora era mais importante encontrar Noroelle. Ele então agradeceu à árvore e seguiu o caminho que o pinheiro indicou.
Logo viu a tília e a oliveira. Ficavam sobre a parede de pedra que alcançava até lá em cima, no terraço. Ao se aproximar, encontrou uma escada estreita que subia.
Ali estava Noroelle, de túnica branca, apoiada sobre o parapeito de pedra do terraço. Parecia um espírito que descera do luar. Ainda não o vira. Ele andou por baixo da tília. O pinheiro das fadas tinha razão: a rainha dissera o que devia ser dito. Ela teve o cuidado de trazê-lo a este lugar. Noroelle lá em cima, ele aqui embaixo! Esta situação remetia imediatamente a um poema declamado da sombra de uma tília para o alto, sob a luz da lua.
Noroelle disse alguma coisa. Estava falando com a lua? Ou com a noite? Agora ele se sentia no lugar errado, na hora errada. Ele a escutava sem que ela soubesse. Ela então virou-se para o outro lado. Ela não falava com a lua ou com a noite, mas com um elfo. Num piscar de olhos Nuramon viu para quem ela se voltara: Farodin.
Nuramon só queria ir adiante. Cambaleou da sombra da tília até a da oliveira. Recostado no tronco, deixava-se envolver pelas palavras que diziam lá em cima. Farodin falava num novo tom, e Noroelle parecia gostar. Pela primeira vez, expressava o seu amor do fundo do coração.
E então essa conversa também acabou...
Por entre os galhos, Nuramon observou Noroelle, sob a luz da lua, ceder à magia de Farodin. Nunca a vira tão feliz antes. Farodin despediu-se com um beijo e então se retirou. Noroelle permaneceu onde estava, sorridente, observando a noite. E porque Nuramon a amava, não podia evitar ele mesmo um sorriso. Não importava que Farodin tivesse vencido. A sua amada sorria, e isso o comovia.
Nuramon observou Noroelle por um bom tempo e viu o sorriso da face da sua amada desvanecer-se mais e mais, até ceder à tristeza. Seu sorriso também desapareceu. Prendeu a respiração ao ouvi-la pronunciar o seu nome na noite, em voz baixa. Farodin a fez sorrir, mas ela se afligia ao pensar nele. Ao ver as lágrimas correrem pelo rosto da feiticeira, não suportou mais. Tomou fôlego e sussurrou:
— Oh, ouça-me, graciosa filha de albos.
Noroelle se assustou.
— Ouça a voz da árvore!
Ela olhou para baixo, seus olhares se encontraram e logo ela voltou a sorrir.
— Eu a vejo aí, no vento da noite, como a fada do meu sonho.
Noroelle enxugou as lágrimas, respirou fundo e disse em voz baixa:
— Mas como um elfo pode se parecer com uma fada?
— Ora — começou ele, e logo continuou — o seu vestido é da cor das tílias. Ele brilha e me deixa cego de amor. — Foi da sombra da oliveira de volta para a da tília. — Acredite na voz de uma tília. Oh, ouça-me, graciosa filha de albos!
— Estou ouvindo, espírito da árvore. Mas é a primeira vez que ouço uma árvore recitar poesia!
Ele respondeu cochichando:
— Para mim também é difícil falar com voz de elfo para agradar a minha amada.
— Para mim foi como se também estivesse ouvindo uma oliveira falar.
— Nossas raízes são interligadas. Nós somos um espírito em dois troncos. Em nós se conectam o amor e a vida — retrucou ele.
— Não há bétulas bastantes aí embaixo? Por que você quer a mim?
— Como você está vendo, eu estou no fim do jardim, com o olhar levantado para você. A senhora deste lugar me disse que devo ficar ao lado daqueles que amam quando eles dizem palavras de amor à sua amada.
— Conheço este jardim, e sei que você só pode cochichar, e não falar. Você quebrou o seu silêncio por minha causa?
— Todos precisam em algum momento quebrar o seu silêncio. O infinito é longo e amplo.
— Então você me ama?
— Claro que sim.
Ele a viu tocar um galho.
— Você é uma árvore magnífica. E as suas folhas são macias. — Ela puxou o galho para junto de si e beijou uma folha. — Isso é bom, minha árvore?
— É como mágica. E gostaria de presenteá-la por isso.
— Um presente? Talvez uma oliva?
— Não. Todos os que pisam aí em cima pegam uma oliva, mesmo que eu não esteja de acordo. Não quero lhe presentear com algo de mim que todos podem ter. Para a minha amada é preciso que seja algo especial; nenhum custo é alto demais. Você sabe o ciúme que as amoreiras com alma têm de suas frutas?
— Sim. Por isso é mais esperto procurar as sem alma. Porque, para separar uma amoreira com alma de suas frutas, é necessário muito trabalho para convencê-la.
— Ora, mas foi exatamente isso o que fiz. Eu... Eu senti um vento soprar até as duas amoreiras cujas raízes as prendem ali no fim do jardim. Então as pedi que cada uma delas me entregasse uma fruta. De início elas se recusaram, dizendo que eu também era só uma árvore, afinal. O que é que eu podia fazer com as frutas? Mas quando elas descobriram que as frutas eram para você, então se tornaram generosas.
— Mas como elas fizeram para as amoras chegarem até você? Você está presa aqui e, como diz, estão bem longe de você.
— Ah, elas passaram de árvore em árvore e foram postas na grama, e então estiquei minhas raízes e fiz esforço o dia todo para alcançar o presente para a minha amada.
— Então você está com as amoras?
— Sim, e gostaria de entregá-las a você.
— Mas como? Quer que eu vá até você? Ou você as colocará em uma folha e as estenderá até mim com um galho?
— Nós, árvores, temos grandes poderes mágicos. Olhe aí! — Nuramon jogou a amora vermelha, que caiu sobre o parapeito do terraço, bem na frente de Noroelle. Atirou a amora branca a seguir, que Noroelle apanhou habilmente. — Chegaram as duas?
— Tenho uma na mão, e a outra está diante de mim. São tão lindas e tão frescas!