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— Então o vestido com certeza é maravilhoso.

— Estou ansiosa para saber o que a rainha trará para você. O que quer que seja, será mais precioso que qualquer coisa que outra pessoa poderia lhe presentear.

— Presentear? Eu o aceitarei para a Caçada dos Elfos. Mas, quando retornarmos, devolverei a ela.

Noroelle não conteve um sorriso.

— Não, Nuramon. A rainha é generosa e não o aceitará de volta.

Ele a beijou na testa.

— Agora eu me vou, Noroelle.

— Quem sabe um de seus parentes ainda consiga ir vê-lo no seu quarto.

— Não, não acredito nisso — tomando as mãos dela, continuou —, mas quem sabe. — Olhou para cima, para as estrelas. — Esta noite tudo parece ser possível. — E soltando-se dela: — Boa noite, Noroelle.

Deu-lhe um beijo de despedida.

Nuramon deixou o terraço e, ao chegar à porta para o salão de festas, olhou mais uma vez para Noroelle. Ela era simplesmente perfeita. Nunca tinha visto isso com tanta clareza como neste momento.

Quando chegou ao corredor que levava aos quartos dos elfos caçadores, percebeu que agora todas as portas estavam fechadas. Os visitantes esperados já tinham apresentado seus cumprimentos, e ninguém parecia contar com mais visitas. A confusão de vozes que ainda se podia ouvir denunciava terem sido muitos os que vieram.

Parou diante de sua própria porta e pôs-se a escutar. Só o silêncio. Queria tanto que ao menos um de seus parentes tivesse superado as suas sombras e estivesse ali, esperando por ele. Nuramon abriu a porta e olhou para dentro. Ao lado da cama de fato havia uma silhueta imóvel, de costas para ele. Sua alegria durou só um minuto. Na sua ausência, alguém trouxera um suporte para a sua armadura que, à fraca luz das pedras, pareceu-lhe um elfo, de tanto que desejava uma visita.

Decepcionado, fechou a porta atrás de si. Aproximou-se do suporte e observou os presentes da rainha. Eram uma capa, uma armadura e uma espada curta.

Nuramon tirou a capa cor de vinho do suporte e sentiu-a com as mãos. Era pesada, feita de lã e linho; era tão trabalhada e tecida com tantos fios mágicos que nenhum golpe de vento ou gota d’água conseguiria atravessá-la ao longo do caminho. Ela o protegeria tanto do calor quanto do frio.

Noroelle tinha uma capa como aquela, que trouxera de Alvemer. Certamente não foi por acaso que a rainha mandou trazê-la. Um pedaço de Alvemer era um pedaço da terra natal de Noroelle. Se cavalgasse no inverno pelo mundo dos homens, ela o aqueceria.

Observou a armadura, curioso. Era feita da carcaça de um dragão. Armaduras como essa eram conhecidas por serem ao mesmo tempo resistentes e confortáveis. Para fabricá-las era preciso conhecer técnicas especiais. Era composta de incontáveis pedaços de couro de dragão, e protegia o tronco e os braços. Quem a fez era certamente um mestre naquele ofício. O couro de dragão foi cortado em muitos fragmentos pequenos, que então foram organizados e unidos da forma desejada. Entre cada pedaço foram fixados materiais em forma de gota, que aparentemente eram escamas de dragão cortadas no formato adequado. Mas se realmente o eram, só o artesão sabia — era o seu segredo. O couro tinha um cheiro agradável. O tratamento da pele acabou com o fedor típico dos dragões e deu lugar a um suave aroma de bosque.

Somente em Olvedes ainda se produziam armaduras de dragão, pois só lá o fogo cuspido por essas criaturas ainda representava um perigo. Os produtores de armaduras de Olvedes eram conhecidos e marcavam o seu símbolo nos trabalhos que executavam. Nuramon soltou o cinturão de armas e tirou a armadura do suporte. Procurou em seu interior a marca do mestre que confeccionou a incrível peça. Encontrou-a na região do busto. Havia a estampa de um sol e, logo abaixo, em letra pequena: Xeldaric.

Nuramon comoveu-se. Xeldaric era conhecido como um dos melhores artesãos de armaduras que já existiram. Ele partira para o luar após ter conseguido confeccionar para a rainha a sua obra-prima: uma armadura completa de albo. Nuramon ainda era criança quando ouviu a respeito dela. Xeldaric partiu para o luar na sala do trono do castelo, assim que a rainha recebeu a obra.

Vestir uma armadura feita pelas mãos de Xeldaric era uma grande honra. Mesmo quem não se esforçasse para encontrar a marca do mestre era capaz de reconhecer que aquele era um bem verdadeiramente nobre. Mesmo que à primeira vista não tivesse a uniformidade de uma armadura feita de chapas, cada um de seus pedaços estava no lugar certo e contava a história da caça ao dragão. A pele verde dos dragões de Olvedes fora trabalhada da mesma forma que o couro marrom dos dragões dos bosques de Galvelun e o dos dragões vermelhos do sol de Ischemon. Juntos, os fragmentos formavam um mosaico de cores da floresta que se misturavam umas às outras de forma natural.

Nuramon recolocou a armadura no suporte. Então pegou o cinturão da espada que colocara sobre a cama. Nele encontrou uma espada em uma bainha de couro simples. Seu pomo e guarda eram de ouro, ricamente enfeitados, e o punho feito de filetes de cobre e madrepérola. Nuramon puxou a arma da bainha e prendeu a respiração. A lâmina era forjada de lustre de estrelas, um metal que só se encontrava nos picos mais altos. A arma também era, como a armadura, uma obra-prima. No meio da guarda, bastante larga, havia runas incrustadas. Só ao olhar pela segunda vez Nuramon reconheceu quem era retratado ali: Gaomee! Ele tinha nas mãos a espada de Gaomee! Com esta arma ela derrotou Duanoc. E agora era ele quem a conduziria.

O chamado da rainha

Farodin despediu-se cedo das visitas. Queria ficar sozinho para pôr as ideias em ordem. Mal conseguia, pois do quarto vizinho vinha o barulho de um banquete. O filho de humanos era um maluco! Ninguém em seu juízo perfeito se embebedaria na noite anterior à Caçada dos Elfos. E uma risada relinchante revelava que Aigilaos o acompanhava nessa tolice.

Deitou-se sobre a cama dura, que já conhecia de outras noites, e deixou-se tomar por uma alegria serena ao relembrar os acontecimentos desta noite. Finalmente tomara coragem para se abrir para Noroelle. Ousara falar do seu amor com suas próprias e desajeitadas palavras. E o que milhares de canções não conseguiram, suas próprias frases, vindas do coração, finalmente alcançaram: tinha a certeza de ter ganhado Noroelle para si.

Batidas suaves na porta o arrancaram de seus pensamentos. Um duende carregando um lampião entrou no quarto.

— Desculpe-me por perturbar a sua tranquilidade na noite anterior à grande caçada, honorável senhor, mas a rainha gostaria de vê-lo. Siga-me, por favor.

Surpreso, o elfo alisou a túnica com as mãos. O que teria acontecido?

O duende olhou para fora, para o corredor. Seu nariz pareceu inchar enquanto buscava uma pista, como um cão farejador.

— O ar está limpo, honorável senhor. — Com saltos largos, percorreu apressado o corredor e abriu uma porta escondida atrás de uma tapeçaria na parede que retratava uma caçada de cervos. Conduziu Farodin subindo uma escada estreita, antes somente usada por duendes e gnomos. Abriu outra porta escondida sob um dos patamares da escada, por trás da qual se escondia um corredor azulejado. De tempos em tempos, o duende virava-se para Farodin, sorridente. Aparentemente estava gostando do papel que Emerelle lhe destinara.

Chegaram a uma escada em caracol oculta dentro de uma grande coluna. Através do muro, Farodin escutou uma música em volume baixo. Lembrou-se com angústia da última vez que Emerelle lhe atribuiu um encargo secreto. Mais de uma vez tivera de matar por ela. Durante as Guerras dos Trolls, havia setecentos anos, algo se quebrara dentro dele. Apenas a rainha sabia, e tirara proveito disso. Ele ocultou esse lado negro de sua alma. Na corte, todos conheciam somente o trovador elegante e um pouco superficial. Ao encontrar Noroelle pela primeira vez, brotou nele a esperança de voltar a ser aquele que já fora um dia. Somente ela seria capaz de operar esse milagre.