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O duende parou no fim da escada, diante de um portão de madeira cinza.

— A partir daqui já não devo mais guiá-lo, honorável senhor. — Entregou o lampião a Farodin. — Você conhece o caminho. Estarei esperando aqui.

Ao cruzar o portão, Farodin sentiu uma suave lufada de vento no rosto. A melodia da canção que pairava no ar era uma velha conhecida sua. Quando criança, sua mãe sempre a cantava para ele. Falava do êxodo dos albos.

O corredor levou Farodin até a parte de trás da estátua de uma dríade. Com esforço, espremeu-se por uma fresta estreita entre a estátua e o muro e chegou a um pequeno mezanino, bem no alto da mesma sala em que a água corria. Olhando para cima, viu o telhado de uma torre, que fazia uma espiral como a concha de um caracol do mar.

— Alegro-me que tenha atendido ao meu chamado com tanta rapidez, Farodin — disse uma voz muito familiar. O guerreiro elfo voltou-se. Atrás dele estava Emerelle, de pé no mezanino. Vestia um robe leve e branco e trazia sobre os ombros um xale fino. — Estou muito preocupada, Farodin — prosseguiu Emerelle. — Uma aura de desgraça circunda o filho de humanos. Ele tem em si algo que se esquiva da minha magia, e me assusta a forma como veio parar aqui. É o primeiro filho de humanos a vir sem ser chamado. Até então, nenhum deles atravessara o portal para a Terra dos Albos com suas próprias forças.

— Talvez tenha sido por acaso — retrucou Farodin. — Um capricho da magia.

Emerelle balançou a cabeça, pensativa.

— Pode ser. Mas talvez haja mais por trás disso. Há algo do outro lado do círculo de pedras... algo que está se escondendo de mim. E Mandred tem relação com isso. Farodin, eu lhe peço, esteja especialmente alerta ao cavalgar até o Outro Mundo. A história de Mandred não pode ser verdade! Há muito tempo me aconselho com os anciãos. Nenhum deles jamais ouviu falar de um monstro meio homem, meio javali. — Emerelle fez uma pausa e, ao continuar, suas palavras não soavam mais preocupadas, mas frias e autoritárias. — Se o filho de humanos for um impostor, Farodin, então mate-o, assim como já matou em meu nome o príncipe de Arkadien e todos os outros inimigos da Terra dos Albos.

A noite no castelo dos elfos

Mandred recostou-se no corpo de Aigilaos. Essa birita vermelho-rubi que o centauro trouxe era realmente boa. Vinho! Mandred já ouvira falar dela, mas em Firnstayn bebia-se somente hidromel e cerveja.

Ergueu cambaleante o pesado copo dourado.

— À nossa amizade, Aigil… Ailalaos! Esse seu nome é impossível!

— Porque você ainda não ouviu os dos caolhos da montanha de pedra — retrucou o centauro, gaguejando. — Os trolls de Dailos, eles são pirados. Eles são tão malucos que arrancam um olho em homenagem ao seus heróis mais aclamados.

Mandred estava impressionado. Isso é que era lealdade! Algo assim certamente não havia entre os elfos! Eles eram tão... Não lhe ocorria nenhuma palavra apropriada. Frios, afetados, petulantes... Eles com certeza não sabiam celebrar! Foi para isso que trouxeram as taças e ofereceram esta pequena sala de festas para passar a noite. Mas quando ele e Aigilaos começaram realmente a se animar, então os elfos despediram-se um a um. Frouxos!

— Um homem que não sabe beber não é um homem de verdade!

— Sim, senhor! — concordou o centauro, com a voz rouca.

Vacilante, Mandred recuou um pouco para brindar mais uma vez com Aigilaos. Mas as taças douradas não eram muito boas para isso. Tudo o que os elfos faziam era bonito, mas não muito robusto. Sua taça já tinha amassado há muito tempo. Isso não teria acontecido com os chifres de hidromel. Por um momento, Mandred teve a preocupação de que se aborrecessem com ele. Mas os elfos tinham lhe dado ricos presentes. Se encrencassem por causa da taça, era só devolver algum deles.

O guerreiro observou-os, enfileirados no banco de pedra ao lado da porta. Um traje de malha de ferro que nem os nobres das terras do fiorde possuíam. Um elmo folheado a ouro com uma malha de ferro que chegava até a nuca. Uma aljava de couro ricamente bordada, repleta de flechas muito leves. Uma lança de lâmina azulada e reluzente. Uma suntuosa sela junto com ferraduras de prata. E a rainha lhe prometera que amanhã mandaria trazer um cavalo de seu próprio estábulo. Um que estivesse disposto o bastante para carregar até um filho de humanos, ela dissera. Mandred bufou, irritado. Como se um mero cavalo pudesse lhe causar aborrecimentos! Se o animal não se comportasse, ele simplesmente daria socos na sua cabeça, isso sempre funcionava. Ninguém gostava disso, nem mesmo cavalos teimosos.

— Você parece contrariado, amigo. — Aigilaos passou o braço pelos ombros de Mandred. — Logo vamos acabar com esse monstro. Você vai ver. Amanhã à noite vamos atravessar a cabeça dele com uma estaca e pendurá-la no meio da aldeia.

— Não é prudente cantar vitória antes da hora — disse uma voz familiar.

Mandred voltou-se. Na porta estava Ollowain, vestindo uma roupa impecavelmente branca. O elfo saltou um monte de estrume que sujava os mosaicos coloridos que enfeitavam o chão.

— Vocês conseguiram dar o charme de um estábulo a este quarto de caçador — disse ele, dando um sorriso de lábios finos. — Não vi ninguém conseguir essa proeza em todos esses séculos, desde que existe a Caçada dos Elfos.

Mandred colocou-se no caminho do elfo, com as pernas bem abertas.

— Pelo que entendi, a caçada também nunca foi conduzida por um humano antes.

Ollowain abanou a cabeça afirmativamente, pensativo.

— Mesmo os poderosos às vezes cometem erros. — Agarrou o cinturão que trazia no quadril e soltou-o. Embrulhou-o cuidadosamente em torno da bainha da espada e estendeu a arma a Mandred. — Eu não devia ter batido em você.

Mandred observou admirado a espada estreita, mas não a pegou.

— Por quê?

Não teria agido muito diferente de Ollowain. O que havia de desonroso em bater em alguém burro o suficiente para desafiar um oponente superior?

— Não é apropriado. Você é hóspede da rainha. — O elfo mostrou o rasgo em sua túnica. — Você não me acertou por um triz. Você, um humano! Isso me irritou... Mas, como disse, eu não devia ter batido em você. Você foi bem... para um humano.

Mandred pegou a espada. Era a arma que usara para lutar com Ollowain. Uma espada que parecia a de um rei.

— Na verdade não sou muito bom na luta de espada — retrucou Mandred, com um sorriso irônico. — Você devia ter me dado um machado.

As sobrancelhas de Ollowain tremeram um pouco, mas o resto de seu rosto permaneceu imóvel como uma máscara inexpressiva. Enfiou a mão por baixo de sua túnica e apanhou uma trança da grossura de um dedo. — Isso é seu, filho de humanos — seus olhos brilharam.

Mandred demorou um instante para entender o que era aquilo que Ollowain lhe estendia. Assustado, apalpou seu próprio cabelo. Ollowain segurava pouco acima de sua testa os curtos e destruídos restos de uma trança. Foi tomado pela fúria.

— Você... Você me mutilou, seu idiota dissimulado! Aberração! Elfo canalha! — Mandred quis puxar a espada, mas o cinto estava enrolado na guarda e na bainha, e ele não conseguiu puxá-la mais que uma polegada. Furioso, jogou a espada para longe e ergueu os punhos. — Vou socar esse seu lindo nariz até virar mingau!

O elfo desviou do golpe com um passo balançante.

— Vamos dar uma surra nele! — berrou Aigilaos, erguendo-se sobre as pernas de trás.

Ollowain mergulhou por baixo de suas patas da frente, que se agitavam no ar, ergueu-se novamente sobre as pernas com um movimento ágil e acertou um golpe no quadril do centauro.

Aigilaos deu um grito furioso. Ao baixar os cascos de volta para o chão liso de mosaico, escorregou em uma poça de vinho derramado.

Para desviar do centauro em queda, Mandred quis pular, mas o amigo tinha aberto os braços numa tentativa desesperada de se segurar nele. Então ambos caíram juntos no chão. A força do choque deixou Mandred sem ar. Ofegou por um instante, tentando recuperar a respiração. Com metade do corpo esmagada debaixo do centauro, ele mal conseguia se mexer.