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— Você nunca teve dúvidas sobre estar ou não fazendo o certo?

Emerelle deu-lhe as costas e apoiou-se no parapeito.

— Qual é a medida do certo e do errado, Farodin? Eu ordenei a você e a Nuramon que matassem Guillaume. Em vez disso vocês dois tentaram salvá-lo. Ainda assim, Guillaume morreu. O destino já havia fixado há muito tempo o dia de sua morte. E, embora não tenham sido vocês a cometerem seu assassinato, ele foi atribuído ao povo dos elfos. Como mãe, a decisão de Noroelle de não me entregar a criança foi certa. A decisão de vocês de não matarem o filho de Noroelle foi certa. Mesmo assim, estamos aqui, lutando pela Terra dos Albos. Eu sempre me esforcei para agir em prol de todos os filhos de albos. Talvez o ajude saber que nunca me decidi por uma morte sem pesar no coração.

Farodin não achou a resposta satisfatória. Antes era mais fácil para ele aceitar as palavras da rainha sem questioná-las.

Ficaram lado a lado em silêncio por muito tempo.

— Você está sentindo o cheiro de enxofre? — perguntou ele.

Ela balançou a cabeça afirmativamente.

— É preciso ter sentidos muito apurados para conseguir perceber o cheiro daqui. Ele vem do outro lado da Shalyn Falah.

Farodin suspirou. Antes do último conselho de guerra, eles contaram sobre sua luta com o devanthar. Emerelle ficara em silêncio a esse respeito. Teria sido porque não queria revelar a verdade diante de todos os líderes militares?

— Então ele nos enganou de novo — disse Farodin desesperado. — Como da outra vez na caverna de gelo, quando pensamos que tinha sido vencido. Foi ele quem comandou os exércitos dos cavaleiros da ordem para criar a fenda entre os mundos?

Pensativa, a rainha afastou uma mecha de cabelo do rosto. Por fim, ergueu os olhos e buscou o olhar do elfo.

— O devanthar se foi para sempre. Vocês o mataram à maneira dos albos. Um dia, nossos antepassados aniquilaram os devanthares com suas armas mágicas, e as destruíram. Ele não vai voltar. No entanto, de certa forma ele é imortal. Suas sementes deram muitos frutos no Outro Mundo. Foram sacerdotes com o sangue dele nas veias que criaram a fenda durante o segundo cerco a Firnstayn. Isso aconteceu por engano. Eles queriam fechar a estrela alba no penhasco e a estrela da praia ao mesmo tempo, com um único ritual. Mas, em vez de separarem nossos mundos, eles derrubaram as fronteiras. Com os séculos, o sangue do devanthar foi ficando mais ralo. Hoje, já não há mais sacerdotes que consigam matar filhos de albos com seu feitiço. Fatos como os que ocorreram durante a batalha marítima, quando quase fui morta, não se sucederam mais. Nossos inimigos, contudo, não precisam mais de magia. Eles conseguem vencer com a força de suas armas. Tanto faz quantas baixas tenham durante as batalhas, eles substituem todos os mortos, enquanto os filhos de albos sangram lentamente. Por isso precisamos vencer! Temos de manter nosso mundo a salvo deles somente por mais um dia!

Subitamente, um pensamento ocorreu a Farodin: será que a rainha estaria mentindo apenas para não lhe tirar a coragem para a luta? Mas, naquele momento, não lhe era totalmente indiferente se ela estava mentindo ou não? A batalha pela Terra dos Albos precisava ser lutada e, ao menos em um ponto, ele acreditava nela: Emerelle faria tudo para salvar os povos dos filhos de albos.

Farodin fez uma reverência rápida.

— Cavalgarei ainda esta noite à Shalyn Falah.

A rainha aproximou-se e beijou-o suavemente na face.

— Cuide-se, meu amigo. Existe uma Emerelle que só nós dois conhecemos. Você guardou os segredos dela ao longo dos séculos. Gostaria de agradecê-lo por isso.

Farodin ficou surpreso.

— Pensei que Ollowain tinha ocupado o meu lugar.

A rainha encarou-o com um olhar penetrante.

— Não. Ele pode ser o melhor esgrimista da Terra dos Albos, mas falta-lhe o talento para ser o punhal da rainha. Ele falhou em Aniscans. Depois disso, você voltou a ser o único a executar os meus desejos. Você foi meu enviado entre os trolls, e os teria feito pagar com o próprio sangue se tivessem nos traído na batalha marítima. E, por fim, foi a sua espada que matou o devanthar, o inimigo mais poderoso que a Terra dos Albos já teve.

Nas pegadas de uma noite no passado

Nuramon passeava pelos pomares da rainha. Como antes, era inevitável lembrar da noite anterior à partida da Caçada dos Elfos. Na ocasião, as árvores tinham sussurrado para ele, mas agora estavam caladas. Nuramon tateou os galhos do pinheiro das fadas, mas o calor que ele sempre emanara havia se esvaído. Afastou as mãos de volta, desapontado.

O que havia acontecido ali? Teriam as almas das árvores partido para o luar ou algo assim? O feitiço que aquele lugar guardava parecia ainda agir, pois todas as árvores tinham frutos simultaneamente. Mas o tempo parecia ter trazido algumas mudanças.

Nuramon passou pela tília onde vira Noroelle pela primeira vez e se aproximou das duas amoreiras que, naquele tempo, o presentearam com seus frutos. Independentemente de como fosse a batalha do dia seguinte, Noroelle jamais veria tudo aquilo novamente. Só poderia reencontrar o seu lago, o Carvalho dos Faunos e a sua casa em suas memórias.

Nuramon achegou-se à tília e à oliveira no fim do jardim. Ali ele conversara com Noroelle como um espírito de árvore e ela se deixara levar por seu jogo. Naquela noite, ele jamais teria acreditado que o destino conduziria todos eles por um caminho tão difícil. Então levantou os olhos e lá em cima viu dois rostos olhando para ele.

— Ora, você está nos espionando? — perguntou Yulivee sorrindo.

Obilee pousou a mão no ombro da feiticeira.

— Deixe-o em paz!

— Venha aqui conosco — completou Yulivee.

Nuramon não respondeu; subiu pela escada estreita até o terraço. As elfas eram uma visão encantadora. Yulivee vestia uma túnica cinza de tecido leve. Tinha trançado fitas brancas em seu cabelo castanho-escuro. Obilee trajava um vestido azul esvoaçante e tinha o cabelo preso no alto. Ninguém acreditaria estar diante de uma guerreira.

— Yulivee e Obilee! — disse Nuramon. — Vocês se tornaram mesmo melhores amigas?

— Desde que você partiu — elas confirmaram.

Ele se aproximou de Yulivee. que o olhou nos olhos.

— É estranho não precisar mais olhar para cima para vê-lo. — Ela agora tinha exatamente a mesma altura de Nuramon. — Naquela época, você era um gigante para mim. Para você, eu com certeza era só uma menina boba.

— Não, você era uma pequena feiticeira de grande poder... e uma pestinha adorável.

Obilee sorriu.

— E continuou assim por um tempo depois que você partiu.

— Por isso eu queria me desculpar — disse Yulivee.

Nuramon abanou a cabeça.

— Mas você não precisa, irmã.

— Eu não me esqueci disso, irmão — disse Yulivee. — E eu fiz o que você me pediu. Cuidei de Felbion e moro na sua casa. Você ainda vai reconhecê-la, ainda que o Alaen Aikhwitan tenha partido.

— Ele não está mais lá? — perguntou Nuramon, lembrando-se do pinheiro das fadas.

— Em todas as terras centrais já não há mais nenhuma árvore com alma — respondeu Obilee.

Yulivee tirou uma bolota de uma pequena bolsa.

— Esta pertence a Alaen Aikhwitan. Se nós vencermos amanhã, as almas das árvores renascerão. Eu só ainda não sei onde devo plantar esta bolota.

— O que aconteceu com Atta Aikhjarto?

— Xern vai plantá-lo de novo. — A feiticeira apontou para o pomar lá embaixo. — A maioria das almas das árvores partiu para o luar. Só algumas das grandes fixaram suas almas aqui. Alaen Aikhwitan, Atta Aikhjarto, o pinheiro das fadas, o Carvalho dos Faunos e outras poucas. Elas serão os antepassados das novas árvores com alma. Emerelle disse que queria plantar o pinheiro das fadas perto das fadas das campinas.