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Nuramon lembrou-se do Lago de Noroelle, que fazia fronteira com os campos das fadas das campinas. Tudo mudaria para se tornar algo novo. Na nova Terra dos Albos certamente o Lago de Noroelle também teria o seu lugar.

— Você vai mesmo? — perguntou Yulivee, arrancando Nuramon em seus pensamentos.

— Eu preciso ir — respondeu ele.

O sorriso de Yulivee desapareceu.

— Eu daria muita coisa para conhecer a mulher por quem você quer fazer um sacrifício como esse. Obilee me contou dela.

— Você está desapontada?

Yulivee balançou a cabeça.

— Não. Você sempre será meu irmão. Eu jamais esperaria que você desistisse do seu amor por Noroelle por minha causa. Estou tão contente por terem vencido o devanthar e por poder estar com você mais uma vez. Eu tive tanto medo por sua causa... — E caindo em seus braços: — Agora estou feliz.

— Vai doer muito em você se eu deixar a Terra dos Albos para trás? — perguntou mansamente a ela.

A feiticeira levantou a cabeça de seu ombro e encarou-o com grandes olhos. Ele acariciou-lhe a face e logo um sorriso desenhou-se em seu rosto, que o fez lembrar da criança que tomara sob seus cuidados em Iskendria.

— Não — respondeu ela. — Nós tivemos o nosso tempo juntos. Nossa viagem de Iskendria até aqui foi a coisa mais linda que já vivi. — Ela beijou-lhe a testa. — Seja grande amanhã! — Yulivee soltou-se suavemente de seu abraço. — Agora eu preciso voltar para a Grande Floresta — disse ela, e se foi.

Nuramon seguiu-a com os olhos. Tinha perdido tanta coisa! A garotinha de repente se tornara uma poderosa jovem feiticeira. Tinha pagado um preço alto pela vitória sobre o devanthar.

Obilee andou até o seu lado.

— Ela sentiu muito a sua falta.

— Para mim, isso tudo é difícil de entender. Na época aconteceu com você de forma parecida. Você era uma menina quando partimos para a Caçada dos Elfos. Já era uma mulher quando nos esperou aqui e nos transmitiu as palavras de Noroelle. E foi aqui que toquei Noroelle pela primeira vez.

— Ela me contou naquela noite. — Obilee fez uma cara triste. — Ela era louca por você e por Farodin.

— Você me olha de forma tão aflita. A rainha não disse que há esperanças se nós ganharmos a batalha de amanhã?

— Para quem há esperança, Nuramon?

— Para Noroelle, é claro.

Obilee fez que sim com a cabeça.

— A rainha me contou tudo, mas já sabia há anos. Ela me disse até onde seria capaz de ir para que essa esperança não se esgote.

— E por que você está tão triste?

— Você não sabe, Nuramon? Então nunca percebeu?

De início Nuramon não entendeu, mas a expressão sofrida, os olhos brilhantes e os lábios trêmulos denunciaram o que comovia Obilee. Ela o amava! Desviou o olhar, constrangido.

— Que idiota eu fui! — disse em voz baixa. — Perdoe-me!

— Pelo quê? Você caminha pelos séculos em grandes passos. Para você, eu ainda sou a menina levada por Noroelle diante da rainha.

— Não. Na batalha marítima eu reconheci que você é uma mulher. Mas desde quando...? — ele hesitou em completar a pergunta.

— Meu sentimento cresceu da afeição que eu já sentia quando Noroelle falava comigo sobre você e Farodin. Você era o meu preferido. Quanto mais tempo ficavam longe, maior foi se tornando minha afeição. Ainda se lembra daquela partida, quando acenei para você da colina?

— Sim.

— Na época eu já o amava. — Ela mordeu os lábios e pareceu esperar em segredo por uma reação de Nuramon. Então continuou: — Eu soube por Emerelle que você faria grandes realizações com seus companheiros. E eu não podia desviá-los do caminho. Afinal, eu também quero que vocês salvem Noroelle. E me acalma o fato de haver esperanças para ela, aconteça o que acontecer amanhã. Mas eu também sei que, para mim, não há uma esperança como essa. Mesmo a sua morte e renascimento não seriam capazes de mudar isso, pois Emerelle me disse que agora você se lembra das suas vidas anteriores. Que destino é esse, que primeiro tira Noroelle de mim e depois torna o nosso amor impossível? Terei sempre de ser aquela que fica para trás? Às vezes tenho até a sensação de ser prisioneira, mas não há ninguém para me salvar.

Ela começou a chorar, e isso doeu em Nuramon. De repente Obilee parecia tão frágil, tão diferente da guerreira forte que ele conhecia da batalha no mar.

Cauteloso, Nuramon tomou-a nos braços. Acariciou seu cabelo e em seu ouvido sussurrou:

— Obilee! Se amanhã nós vencermos, despontará para a Terra dos Albos uma era de ouro. E eu sei que você encontrará a felicidade e o seu destino. Mas ele não sou eu. Não é por sua causa... É por meu amor por Noroelle. Você é encantadora. Se não conhecesse Noroelle, sucumbiria ao seu brilho, aos seus cabelos dourados, aos seus olhos tão verdes quanto o mar de Alvemer e aos seus lábios tão lindos. Seria fácil dizer que você só é como uma irmã ou uma amiga para mim. Mas seria mentira, porque sinto por você mais que isso. Mas sinto ainda mais por Noroelle.

Ela soltou-se dele.

— Isso é tudo o que eu queria ouvir, Nuramon. Eu sei que não posso ganhar de Noroelle. Eu sei que não há esperança para o meu amor. Mas saber que sou mais que uma amiga é um presente que eu nem ousava desejar. É como um instante que pertence somente a mim.

Nuramon segurou as mãos de Obilee.

— Sim, este momento é seu.

Ele acariciou a face de Obilee e abraçou-a novamente. Então beijou seus lábios. Sentiu-a se abandonar totalmente em seus braços. Certamente nunca havia se entregado a um homem dessa maneira. Quando finalmente afastou seus lábios dos dela, a elfa permanecera tão próxima de seu rosto que ele ainda sentia o sabor do seu hálito suave. Um gesto dela, uma palavra sedutora, e ele não conseguiria resistir à tentação…

Ela sorriu e então mordeu os lábios.

— Obrigada, Nuramon — disse em voz baixa.

Por fim, afastou-se dele.

O começo da batalha

Montado em Felbion, Nuramon cavalgava em direção ao seu exército. Wengalf havia dividido seu poderoso contingente de anões em duas partes e posicionado os espadachins alvemerenses entre elas. Juntos, eles formavam o exército principal. Nas laterais estavam a postos os arqueiros de Nomja, enquanto os cavaleiros agrupavam-se um pouco afastados. Ele próprio teria de decidir onde a cavalaria seria empregada.

O elfo chegou ao pequeno círculo de comandantes, reunidos à frente das catapultas dos anões. Nos rostos dos presentes lia-se que havia notícias ruins.

— Que bom que está aqui — disse Nomja. — Os espiões nos relataram que o exército principal está vindo para cá. Mais de cinquenta mil guerreiros! — Ela apontou para a cadeia de colinas ao longe, de onde os inimigos viriam.

Nuramon não conseguia imaginar quantos humanos isso era. O exército dos filhos de albos não chegava a dez mil.

— Esse é o maior contingente que eles já convocaram a um único lugar — prosseguiu Nomja. — E as nossas terras fecundas ainda os alimentam.

Nuramon ouvira que os humanos haviam derrubado florestas inteiras do outro lado da Shalyn Falah para construir alojamentos para os guerreiros. E as terras nuas tinham sido transformadas em campos de colheita, que davam aos invasores tudo de que precisavam para sobreviver.

— Para cinquenta mil, o espaço entre o desfiladeiro e a floresta é estreito demais, e no bosque eles não vão querer lutar — explicou Nuramon.

— Os guerreiros de Yaldemee estão se encarregando de manter a floresta segura — objetou Lumnuon, que pertencia ao seu clã. Na noite anterior, havia visitado Nuramon em seus aposentos.

Nuramon olhou para a planície e concordou. Aquele era o lugar certo para que os cavaleiros da ordem irrompessem. Voltou-se para Nomja:

— Você me contou que em campo aberto eles sempre mandam a cavalaria avançar primeiro. Como vocês os combateram?