Выбрать главу

Ollowain agarrou-o pelo braço e puxou-o para a frente por baixo de Aigilaos, enquanto este último tentava inutilmente se reerguer.

— Respire devagar! — ordenou o elfo.

Mandred arfava como um cão, e logo ficou tonto. Mas pouco a pouco finalmente recobrou a respiração.

— Como alguém se atreve a se embebedar uma noite antes de uma caçada perigosa? — Ollowain balançou a cabeça. — Todas as vezes que nos vemos, você consegue me fazer perder o autocontrole, Mandred Filho de Humanos! Se você não pensa em você mesmo, pense naqueles que o escoltarão. Amanhã você será o comandante, e responsável por eles! Vou mandar alguns duendes para cá para limpar toda esta sujeira, tirar o vinho de vocês e deixar aqui alguns baldes de água. Espero que até amanhã de manhã vocês tenham recuperado pelo menos um pouco da razão.

— Filhinho da mamãe — balbuciou Aigilaos. — Uma pessoa como você não é capaz de entender um homem de verdade.

O elfo sorriu.

— De fato, eu nunca tentei imaginar como um cavalo deve pensar.

Mandred permaneceu calado. Queria ter derrotado Ollowain, mas agora via que nunca teria chance contra ele. E o pior: lá no fundo, sabia que o elfo estava certo. Era estúpido se embebedar. Fora seduzido pelo doce e saboroso vinho e anestesiado pelo medo. Medo de que Freya já não estivesse mais viva; medo de enfrentar o homem-javali mais uma vez.

A despedida

A sala do trono raramente era tão movimentada quanto nesta manhã. Noroelle estava ali de pé, próxima a uma das paredes pelas quais a água fluía. Ao seu lado estava Obilee, em quem tanto confiava; tinha só quinze anos de idade e um porte gracioso. Seus gestos denunciavam sua timidez, e as expressões de seu rosto, a sua curiosidade. Ela vinha de Alvemer como Noroelle e parecia ser a irmã mais nova que ela sempre quisera ter. De cabelos louros e olhos verdes, Obilee mal tinha algo em comum com ela, mas eram íntimas como irmãs. Assim como Noroelle, tinha saído cedo da cidade de origem. Mas se Noroelle viera um dia com seus pais, Obilee fora entregue aos cuidados de Norolle por sua avó.

— Veja, Noroelle — sussurrou Obilee. — Todos estão olhando para você. Todos estão curiosos para saber o que seus amados levarão de você no caminho. Seja cuidadosa! Eles prestarão atenção em cada gesto e palavra. — Aproximou-se da orelha de Noroelle. — É neste momento que nascem os novos costumes.

Noroelle olhou em volta rapidamente. Sentir tantos pares de olhos sobre si causava-lhe mal-estar. Embora estivesse sempre na corte, ainda não se acostumara a isso. Respondeu baixinho:

— Você está enganada. É o vestido que eles estão olhando. Você se superou desta vez. Podem até achar que você tem mãos de fada.

— Talvez sejam os dois — disse Obilee, sorrindo. Então olhou por trás de Noroelle, e seu rosto foi tomado pela admiração.

Noroelle seguiu o olhar de sua fiel amiga e viu mestre Alvias, que se aproximava acenando amigavelmente com a cabeça.

— Noroelle, a rainha está no trono e quer vê-la.

A elfa percebeu vários olhares curiosos, mas escondeu a sua insegurança.

— Vou com você, Alvias. — E virando-se para Obilee: — Venha comigo!

— Mas ela só quer...

— Venha comigo, Obilee. — Noroelle agarrou a jovem elfa pela mão. — Ouça bem: agora vamos ver a rainha, e ela vai perguntar quem é você.

— Mas a rainha me conhece, não é? Ela conhece todos que estão aqui.

— Mas você ainda não foi apresentada a ela. Depois que eu indicar o seu nome, você pertencerá à sociedade da corte.

— Mas o que eu devo dizer?

— Só responda o que a rainha perguntar.

Alvias ficou calado; não se via em sua fisionomia nem um sorriso nem qualquer desconfiança. Noroelle e Obilee seguiram o mestre. As pessoas que Noroelle encontrou saudaram-na com palavras e gestos respeitosos. Ao chegarem diante da soberana, mestre Alvias pôs-se de lado, enquanto Noroelle e Obilee fizeram uma reverência.

— Minha saudações, Noroelle. — Emerelle olhou para Obilee e perguntou: — Quem é essa que você trouxe até mim?

Noroelle virou-se um pouco e apontou para a jovem elfa, num gesto elegante:

— Esta é Obilee, filha de Halvaric e Orone, de Alvemer.

Emerelle sorriu para a jovem elfa.

— Então você descende do clã da grande Danee. Você é bisneta dela. Todos nós observaremos o seu caminho. Com Noroelle você está em boas mãos. Noroelle, chegou aos meus ouvidos que um laço liga você à Caçada dos Elfos.

— É isso mesmo.

— Você é aquela que Farodin e Nuramon cortejam.

— Sim, é verdade.

— Uma Caçada dos Elfos em que a rainha e a amada não estejam de acordo está fadada ao fracasso desde o começo. Então lhe pergunto: na sua posição, você permite que seus amados participem da Caçada dos Elfos?

Noroelle não pôde evitar pensar no medo que preenchera seus sonhos na última noite; ela vira Farodin e Nuramon sofrerem. Apesar do orgulho que tinha deles, preferiria que eles não precisassem participar da caçada. Mas a pergunta da rainha era apenas uma formalidade. Noroelle não era livre para ir contra o desejo de Emerelle. Se a rainha pediu a ajuda de seus amados, Noroelle não podia impedi-la. Ela suspirou baixo e percebeu que o silêncio tomara conta da sala. O barulho da água era tudo o que se ouvia.

— Eu os cedo a você para a Caçada dos Elfos — disse por fim Noroelle. — No que você contar com eles, eles o farão por mim.

Emerelle levantou-se e aproximou-se de Noroelle. Disse:

— Então a rainha e a amada estão de acordo. — Ela tomou Noroelle e Obilee pela mão e conduziu-as degraus acima, ao lado do trono, para sentar-se novamente.

Noroelle ficava ali em pé com frequência, mas como em todas as outras vezes, sentia-se no lugar errado. Nos olhos de muitos dos presentes havia admiração, mas em outros via um ligeiro ar de deboche. Nenhum dos dois a agradava.

Com um gesto, a rainha pediu a Noroelle que se curvasse diante dela.

— Confie em mim, Noroelle — sussurrou em seu ouvido. — Já mandei muitos para a caçada. Farodin e Nuramon retornarão.

— Meus agradecimentos, Emerelle. Eu confio em você.

Mestre Alvias aproximou-se da rainha.

— Emerelle, eles estão aguardando diante do portão.

A rainha acenou com a cabeça a Alvias. Ele deu meia-volta, abriu os braços e gritou em alto e bom som:

— A Caçada dos Elfos está diante do portão. — Apontou o dedo para o outro lado da sala: — Uma vez iniciada, eles caçarão o seu alvo até cumprirem a tarefa, ou até fracassarem. Uma vez aberto este portão, não haverá mais volta para a caçada. — Ele atravessou a viela estreita que se formara no meio da sala. — Como sempre, é necessário aconselhar a rainha. — Encarou alguns dos presentes, que claramente representavam todos os demais. Então continuou: — Considerem a situação. Uma besta poderosa! Nas campinas dos humanos! Perto das nossas fronteiras! Deve a rainha manter o portão fechado e dessa forma tolerar que algo fique vagando lá fora, algo que um dia também pode nos ameaçar? Ou deve abrir o portão, para que possamos libertar dessa besta os humanos das terras do fiorde? Ambos os caminhos podem levar tanto à fortuna quanto à ruína. Caso o portão permaneça fechado, a besta pode um dia encontrar o caminho até nós. Mas, abrindo o portão, pode ser que o sangue dos elfos seja derramado em prol dos humanos. A escolha é de vocês. — Alvias apontou para Emerelle com um gesto suave. — Aconselhem a rainha sobre o que deve decidir! — com essas palavras, Alvias virou-se novamente para Emerelle e curvou-se diante dela.

Os olhares dos presentes dirigiam-se até o portão e de volta para a rainha. Logo algumas vozes se manifestaram, aconselhando Emerelle a abrir o portão. Mas havia outras que se pronunciaram contra. Noroelle viu que eram de parentes de Nuramon. Não esperava nada diferente. O medo estava escrito em seus rostos; mas não era por Nuramon, mas pelas consequências da morte dele.