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Nuramon ergueu sua espada longa nas alturas e gritou:

— Terra dos Albos!

Seus parentes e os alvemerenses juntaram-se a ele no grito. Os inimigos estavam a vinte passos de distância quando baixou a arma e bradou:

— Ao ataque!

Mas seu grito de guerra sumiu entre os urros que, naquele instante, elevavam-se à esquerda e à direita.

Os couraçados-dragões dos anões se abriram! Os escudeiros da primeira fila avançaram e puxaram suas espadas curtas. Os combatentes com partasanas seguiram-nos junto com outros guerreiros, que baixaram seus escudos da cabeça até a frente do peito, e impeliram-se adiante. Era como uma metamorfose. A enorme besta lutadora desmanchou-se em inúmeros guerreiros anões.

A investida dos homens de Wengalf não deixou os inimigos incólumes. Os guerreiros nas primeiras filas de combate reduziram o passo e os gritos metálicos se calaram. Quando os primeiros pararam, os dois exércitos embateram. Nuramon então avançou fundo, para dentro das fileiras dos inimigos.

Não sentiu mais medo da morte.

Armaduras e fumo de mascar

Um escudo enorme, quase do tamanho de uma porta, escureceu o céu e interceptou a ponta da alabarda. Em seguida, uma voz bastante familiar gritou:

— Façam picadinho do sujeito!

Uma mão forte agarrou Farodin e ajudou-o a se levantar.

— Parece que todos os seus membros ainda estão aí! — disse Orgrim, com um sorriso largo. — Isso foi por ter salvo a mim e ao meu navio no fiorde.

O elfo piscou intensamente, ainda aturdido.

— Como... Como você me reconheceu?

— Ollowain me fez um favor. Pintou uma cruz branca na parte de trás do seu elmo. Assim eu pude ficar atrás de você quando abriu caminho pela formação de piqueiros.

Uma dor pesada fazia o ombro esquerdo do elfo latejar. Uma placa de sua armadura tinha sido afundada e esmagara sua carne. Mal conseguia erguer o braço.

— Agora você poderia me fazer mais um favor, Orgrim. Abra as fivelas da proteção do meu ombro esquerdo e retire-a.

— Você acha mesmo que estes dedos conseguem abrir essas fivelas delicadas, elfo? — perguntou, exibindo as mãozorras.

Farodin esticou-se e praguejou. Sozinho não conseguia tirar a armadura. Olhou ao redor. Em volta deles havia dúzias de mortos.

— Você consegue andar com as próprias forças?

— Com certeza não preciso de nenhum troll para me carregar — retrucou irritado.

A dor no ombro estava piorando.

O ataque dos trolls tinha feito os piqueiros recuarem um bom trecho. As costas largas dos gigantes bloqueavam a visão de Farodin sobre os acontecimentos da batalha. Uma gritaria infernal ainda soava.

— Como está o combate?

Orgrim deu uma cusparada.

— Um monte de humanos não vai poder mais se gabar dos seus feitos heroicos. Nós os fizemos recuar. — Ele acenou para um troll e, instantes depois, soou um toque prolongado de corneta. — Eles estão reunindo cavaleiros lá embaixo na colina. Nós precisamos nos retirar antes que comece o contra-ataque.

Sem prestar mais atenção em Farodin, o rei caminhou pesadamente até seus homens e cobriu a retirada das tropas.

Somente seis daqueles vinte elfos que chefiaram o ataque retornaram para trás das trincheiras dos arqueiros. Ollowain estava entre os sobreviventes. Tinha a armadura toda arranhada e vermelha de sangue. O elfo havia tirado o elmo; tinha as mechas dos cabelos longos e louros grudadas na cabeça.

— Que vitória!

Ele apontou para a parte de baixo da encosta. Em alguns lugares não se via mais a grama, tão próximos os mortos estavam uns dos outros. Depois que os trolls avançaram para dentro das brechas que os elfos haviam aberto nos piqueiros, o combate tinha se tornado um massacre.

Ollowain tirou a placa amassada do ombro de Farodin. Afastou para o lado o gibão acolchoado e apalpou seu ombro.

— Nada quebrado. Você teve sorte. Como está o braço?

Farodin fez um amplo movimento circular. Agora que mais nenhuma pressão sobrecarregava a contusão, a dor afrouxara um pouco.

— Para se atracar com humanos vai ser suficiente.

Ollowain apontou para uma das torres queimadas acima da encosta.

— Ali você vai encontrar um dos artesãos de armaduras dos gnomos. Ele vai desamassar a sua placa de ombro para que você possa colocá-la de novo. Não demore muito. Infelizmente, os cavaleiros da ordem têm a memória muito curta no que diz respeito às suas derrotas. Logo eles vão atacar de novo.

Com essas palavras, o guardião da Shalyn Falah se foi. Farodin seguiu-o com os olhos. Ollowain gracejou com alguns arqueiros e gritou alguma coisa para um troll que fez o gigante sorrir. A confiança que o comandante dos elfos emanava fazia parecer não haver qualquer dúvida de que manteriam suas posições até a noite cair. Ainda nem era meio-dia.

Farodin encontrou o chapeador sem dificuldades. O gnomo, um sujeito velho e falante, exibia uma barba branca e toda cheia de manchas de fumo de mascar. Desamassou a armadura sem se apressar. Falou de tudo, menos sobre a guerra. Pelo visto, o velho refugiava-se em seu trabalho, tentando desesperadamente conservar um pouco da rotina em meio ao caos. Por fim, cuspiu na placa e poliu-a com a manga. Ao fechar as fivelas da armadura, encarou o elfo com seus olhos castanhos e ar de preocupação.

— Nós vamos conseguir manter a ponte?

Farodin não quis mentir para o velho.

— Não sei.

Olhou encosta abaixo. Os humanos haviam formado uma nova linha de ataque.

— Hum... — foi tudo o que o velho respondeu. Então curvou-se e apanhou uma besta de sua bancada de trabalho. — Meu povo sempre se manteve fiel à rainha. — O chapeador não conseguia esconder o medo. Piscava nervosamente e o tempo todo acariciava o encaixe de ombro da arma. — Os humanos nos dão uma vantagem: eles sempre vêm em número tão grande que sequer um chapeador velho e quase cego pode errar a mira.

— Posso acompanhá-lo até a linha de combate? — perguntou Farodin com seriedade.

Surpreso, o gnomo ergueu os olhos para ele.

— Mas você é um conhecido herói elfo. O que quer comigo?

— Ainda não me indicaram um lugar na nossa linha de combate da próxima luta. Além disso, nunca lutei ao lado de um herói dos gnomos. Se você não tiver nada contra, para mim será uma honra ocupar o posto à sua esquerda. Como você se chama?

— Gorax. — O velho puxou uma barra de fumo de mascar marrom-escura de trás do cinto. — Um elfo que pede permissão a um gnomo para lutar a seu lado! Nós vivemos tempos estranhos. Posso oferecer-lhe um pouco disto aqui? Isso põe a cabeça em ordem — disse, estendendo o fumo de mascar a Farodin.

O elfo pegou a barra e mordeu um pedaço da massa dura. O fumo queimou em sua língua e sua boca encheu-se de saliva. Teria preferido cuspir o fumo de volta imediatamente. Mas empurrou-o com a língua para trás das bochechas, e estendeu a barra de volta para Gorax.

— Da cabeça em ordem, nós podemos realmente precisar.

No pé da colina novamente soaram as flautas e as batidas de tambor.

Reorganizados, os soldados da ordem avançavam outra vez.

Morte e renascimento

Nuramon baixou os olhos para o corpo do jovem guerreiro como se estivesse hipnotizado. Lumnuon tinha lutado melhor que ele, mas estava ali, deitado à sua frente no chão, fitando-o com olhos vazios. Nuramon sequer o vira morrer. Tinha inúmeras feridas nas pernas e braços e seu rosto estava arranhado. Morrera, contudo, de um ferimento no pescoço. Alguém havia cortado sua garganta.

A visão do jovem sem vida enchia Nuramon de raiva. Olhou ao redor e avistou um oponente que acertava um elfo com ódio, cujos ataques este último só conseguia defender com esforço e aflição. Nuramon aproximou-se do guerreiro por trás, e fincou-lhe a espada longa nas costas. Então arrancou sua máscara e atirou-o ao chão. O elfo a quem viera ajudar lhe agradeceu. Antes, porém, que pudesse reagir, um cavaleiro da ordem atacou-o pela direita. Nuramon foi mais rápido, cravando a espada de Gaomee no peito do inimigo. Os braços do oponente se afrouxaram, fazendo o movimento do ataque cessar no meio. Nuramon então o deixou escorregar da lâmina.