Mais e mais guerreiros vinham em sua direção. A cada inimigo que mandava para o chão, parecia atrair para si novas atenções. Ou será que os guerreiros de seu clã que lutavam ali próximos haviam ficado mais fracos?
— Atrás de você! — gritou uma voz de elfo ao seu lado.
Nuramon olhou por cima do ombro e viu de canto de olho um guerreiro preparando um golpe. Ainda antes de se mover, soube que a lâmina inimiga o atingiria. Ao se virar já contava com a dor, mas o golpe foi falho. Sua espada, por sua vez, acertou o elmo do inimigo e o atravessou. Nuramon imediatamente percebeu por que a investida do oponente não o ferira. Curvado diante dele estava um guerreiro anão de armadura prateada reluzente, que logo despencou no chão. Nuramon conhecia essa armadura. Virou o anão sobre as costas e viu o rosto de Alwerich. O amigo deu um sorriso sofrido.
— Alwerich! — gritou uma voz familiar, e Wengalf veio correndo com seus guerreiros. — Formem uma parede de escudos!
Os guerreiros obedeceram a ordem do rei.
Alwerich estava totalmente pálido. A espada o atingira por baixo do peito. Sangue brotava do ferimento fresco.
— Você ainda não pode morrer — disse o guerreiro anão com a voz fraca. — Você precisa ir até Noroelle. Eu vou renascer.
Nuramon abanou a cabeça desolado.
— Por que você não pensou em Solstane?
— Ela vai entender. Aceite esse presente meu, e não se esqueça de jeito nenhum do seu... do seu velho... — Sua cabeça despencou sobre o peito, e a impressão era de que adormecera de esgotamento. Tinha parado de respirar e seus batimentos cardíacos haviam cessado. Alwerich estava morto.
Nuramon beijou o anão na testa.
— Eu nunca vou esquecê-lo, velho amigo.
Foi uma despedida dolorosa, mesmo que o renascimento estivesse à espera do anão. Primeiro Lumnuon e agora Alwerich. Nuramon pensou se devia curá-lo, como curara Farodin daquela vez na caverna.
Mas Wengalf pousou a mão em seu ombro.
— Deixe-o! Ele renascerá como herói e se lembrará deste dia com orgulho. Agora precisamos decidir a batalha a nosso favor. Estamos nos saindo bem. Talvez realmente consigamos detê-los.
De repente, um guerreiro anão passou com esforço entre os escudeiros.
— Sua majestade! Nossos guerreiros destroçaram os atiradores inimigos deste lado. Os seus estranhos canos de fogo estão apagados para sempre. Devemos avançar? Ouvimos ainda do flanco esquerdo que Mandred, com seu pequeno bando de humanos, quer tentar se adiantar para o coração do exército oponente.
Nuramon ficou atemorizado. Não queria ter de perder Mandred também! Para o rei dos fiordlandeses não haveria renascimento.
O rei voltou-se para o mensageiro.
— Dê a ordem de atacar o flanco por este lado. Mas, no meio do campo, nossos homens devem recuar e atrair o inimigo um pouco para a frente. Assim tiraremos alguns guerreiros do caminho de Mandred.
Nuramon olhou o rei no rosto.
— Obrigado, Wengalf!
— Venha! Pegue as suas espadas! Vamos acabar com essa batalha. Estou morrendo de cansaço.
Nuramon concordou balançando a cabeça. Soltou, relutante, o corpo de Alwerich e apanhou suas espadas. Também queria que a batalha finalmente terminasse. Voltou-se para os poucos elfos restantes:
— Agrupem-se! Este será o último ataque!
Por trás das filas
Mandred contemplou as tranças ruivas cortadas que jaziam ao seu redor na grama. Em seguida, passou as mãos nas faces lisas e na cabeça raspada, murmurando:
— Vou mantê-los na memória, meus mortos.
Beorn empurrou sua faca de volta no cinto, onde estava pendurada uma corneta de alerta de bronze, e balançou a cabeça satisfeito.
— Assim você pode se passar por comandante deles, antepassado. Mas deixe-me falar quando formos parados.
Na corte dos pais de Beorn, alguns prisioneiros guerreiros da ordem tinham trabalhado como servos. Com eles, o guarda havia aprendido a língua de Fargon. Ele conhecia a organização dos exércitos da ordem e sabia até mesmo os sinais de corneta e de tambor dos inimigos.
Mandred pôs o elmo dos cavaleiros, com suas abas longas de proteção das bochechas, e puxou a faixa vermelha e larga que dava a volta em seus quadris. Despira a armadura de Alfadas de coração pesado, mas com ela não seriam capazes de enganar o inimigo.
Seu olhar vagueou sobre o ousado bando de mândridos que se apresentara voluntariamente. O ataque montado dos cavaleiros da ordem havia sido repelido, mas eles não poderiam vencer devido à superioridade numérica dos soldados inimigos.
— Imagino que os amigos de vocês tenham os aconselhado insistentemente a não cavalgar comigo! — gritou Mandred a plenos pulmões para seus homens. — Se fizeram isso, são bons amigos! Eles têm razão! Dentro de uma hora, aqueles que lutarem comigo ou serão heróis, ou estarão sentados nos átrios dourados dos deuses. Se sobreviverem, pelo resto dos seus dias as pessoas cochicharão pelas suas costas que vocês foram totalmente malucos.
Os homens sorriram. Até alguns dos centauros riram. Os homens-cavalo de Dailos haviam concordado em ajudá-los. Quase cem deles aguardavam ordens para agir. Cheio de orgulho, Mandred passava em revista seus voluntários. Todos tinham vestido armaduras de cavaleiros abatidos e feito a barba para não darem na vista como guerreiros do norte. Mandred queria ser capaz de fazer um discurso tão comovente como aquele de Liodred no salão do rei. No dia anterior, quando falara ao pé de sua sepultura, repetira as melhores partes que ainda lhe restavam na memória. Assim, mais uma vez, as palavras de Liodred inflamaram o espírito de luta dos fiordlandeses. O jarl observou as fileiras de homens que queriam segui-lo naquela cavalgada suicida. A maior parte deles era assustadoramente jovem.
— Appanasios?
Dirigia-se ao comandante dos centauros, um sujeito selvagem de cabelos negros que trazia um largo cinto de couro na parte de cima do peito, de onde pendiam seis canos curtos de fogo. Além disso, tinha uma aljava com flechas afivelada às costas e ainda uma espada longa.
— Você vai nos seguir com o seu bando de cortadores de pescoço e promover um espetáculo violento. Galopem e atirem, como se realmente fôssemos cavaleiros blindados em fuga. — Mandred ergueu a mão direita, enfiada em uma luva de armadura lindamente trabalhada. Cerrou o punho, fazendo as articulações de ferro rangerem. — Mas se os seus malandros realmente atingirem um dos meus homens que seja, Appanasios, eu vou voltar e enfiar isso aqui nessa sua bunda gorda de cavalo.
— Se você realmente voltar, vai poder enfiar a sua luva onde mais quiser, enquanto eu canto um hino em homenagem à sua coragem heroica. — O centauro sorriu, mas em seus olhos havia tristeza. — Estou orgulhoso por tê-lo encontrado, Mandred Aikhjarto.
— Vamos ver se ainda vai ficar orgulhoso hoje à noite na celebração da vitória, quando eu embebedar a você e ao seu bando de patifes até caírem da mesa.
— Um humano que deixa centauros bêbados! Isso você não verá! — Appanasios riu com vontade. — Isso nem você vai conseguir, antepassado de Firnstayn.
— Eu já fiz até um carvalho encher a cara! — retrucou Mandred, lançando-se sobre a sela.
No seu quadril tilintou uma espada estreita e moderna de cavaleiro. Da frente da sela pendiam duas bolsas de couro. O jarl voltou-se para o centauro e apontou para a sua faixa. — Como é que se usa essa coisa, afinal?
Appanasios puxou uma das armas e rodopiou-a por diversão.
— Isto, venerado antepassado, é uma pistola de roda. Capturamos estas armas do inimigo. Você estica aqui embaixo do gancho e então dá um tiro. O melhor é segurá-la levemente inclinada. Elas são carregadas com pequenas esferas de chumbo.
— Chumbo? — perguntou Mandred, incrédulo.
— Não se deixe iludir. A curta distância, essas esferas são capazes de atravessar qualquer armadura.