Orgrim apanhou uma das caixas de madeira.
— De volta para a ponte! Eles estão derrubando tudo. Nós ainda poderemos detê-los na Shalyn Falah, isso se muito.
Farodin concordou em silêncio e levantou a segunda caixa de madeira. Ollowain havia reunido alguns trolls e arqueiros ao seu redor. Tentava manter as costas deles livres.
Nuvens densas de fumaça subiam sobre o campo de batalha. Por todos os lados, ouviam-se os estampidos dos canos de fogo. A linha de combate dos elfos estava totalmente destroçada.
Farodin decepou a mão de um oficial que mirava uma pistola de roda em sua direção. Um golpe de revés acertou o homem no rosto por cima do gorjal e arrebentou seus dentes.
Ao seu lado, um agressor veio abaixo, atingido por uma flecha. Farodin olhou rapidamente para cima e viu Giliath de pé ao lado de Ollowain. Foi inevitável sorrir. A elfa realmente se preocupava com o encontro para o duelo.
Fazendo muita fumaça, uma chama subiu para as alturas bem à frente deles. Farodin pulou para o lado. Por um momento, perdeu seus companheiros de vista. Então viu Ollowain. O cavaleiro elfo deu um salto adiante e agarrou no ar uma das malditas garrafas de fogo de Balbar. Segurava-a triunfante no alto quando uma esfera fulminou sua mão. O óleo escuro espirrou e incendiou-se no trapo em chamas da garrafa. As labaredas cobriram a cabeça e a armadura de Ollowain. Por um instante, o elfo ficou totalmente imóvel. Então sacou a espada com a mão ilesa e correu aos gritos em direção a uma fila de atiradores.
Farodin assistiu ao que aconteceu sem respirar. A fumaça branca envolveu os soldados da ordem, mas nenhuma esfera foi capaz de deter o guardião da Shalyn Falah. Totalmente coberto de chamas, desapareceu para dentro do paredão de fumaça.
— Guerreiros como ele só nascem uma vez em mil anos — disse Orgrim, agarrando Farodin pelos ombros. — Vamos, antes que novos atiradores avancem.
Giliath esperava com alguns arqueiros junto à torre queimada e lhes deu cobertura. Tinham alcançado o ponto mais alto do penhasco. Farodin olhou para baixo, em direção à trilha sinuosa até a ponte. Ali o fogo ainda ardia. Havia no máximo trezentos defensores ainda vivos. A maioria deles estava ferida. Esgotados e escurecidos de fuligem, fugiam de volta para a fortificação do outro lado do desfiladeiro.
Farodin olhou para trás. Uma lufada de vento espalhou a fumaça sobre a larga cadeia de montanhas. Milhares de soldados da ordem avançavam. No alto do círculo de pedras, o elfo viu homens com longas escadas de ocupação. Tinham perdido a batalha!
Rumo a Shalyn Falah
A coragem abandonou os cavaleiros da ordem assim que os estandartes de Firnstayn começaram a tremular sobre a colina de seus comandantes. Pareciam estar totalmente confusos. Recuavam cada vez mais diante do avanço das fileiras de Wengalf e Nuramon. Então o elfo avistou Mandred. À primeira vista, quase não o reconheceu, já que o jarl vestia a armadura do inimigo e havia feito a barba. Cercado de companheiros em armaduras capturadas, estava sentado sobre um cavalo negro, segurando a cabeça decapitada de um humano pelos cabelos. Sangue pingava dos farrapos de carne sob ela.
— Olhem no rosto do comandante de vocês! — gritou ele.
Os anões se apressaram até lá e formaram uma larga parede de escudos ao redor de Mandred e seus guerreiros. Assim foi quebrada a última resistência e os inimigos irromperam em uma fuga selvagem.
— Mandred! — gritou Nuramon.
— Meu amigo! Veja que dia!
Nuramon olhou em volta, desconfiado. Um franco-atirador ainda seria capaz de estragar o triunfo de Mandred. Mas os inimigos não faziam mais menção de se defender. Alguns gritaram-lhes xingamentos e juraram regressar em um prazo de poucos dias, com um novo contingente de batalha. Essa ameaça, contudo, não conseguiu causar preocupação em ninguém.
— Experimentem voltar! — vociferou Mandred. — Vão levar mais um pontapé na bunda!
Nuramon estendeu a mão para Mandred. Sobre seu cavalo alto, o amigo parecia mesmo um soberano legítimo. Sua mão sangrenta recebeu o cumprimento. Nuramon passou os olhos pelo companheiro, procurando ferimentos. Não sabia dizer se a maior parte do sangue que cobria o jarl era dos inimigos ou dele próprio. A armadura de Mandred parecia intacta. Um esfolado comprido atravessava sua bochecha esquerda, mas o rei dos fiordlandeses não parecia sentir dor — em vez disso, tinha o rosto radiante.
— Você está ferido, Mandred? — perguntou Nuramon ao amigo, só para se certificar.
— Só uns arranhões.
Os anões deixaram um bando de elfos adentrar o círculo de escudos. Entre eles estavam Nomja e Daryll, a comandante dos alvemerenses, que havia resistido ao assalto da cavalaria inimiga no centro das fileiras de batalha. Ela levava Felbion pelas rédeas.
Nuramon ficou aliviado. Mandred e Nomja estavam vivos, e seu cavalo também saíra ileso da batalha!
Daryll estendeu-lhe as rédeas de Felbion.
— Aqui está o seu cavalo! Ele salvou a minha vida.
A líder contou que Felbion derrubara três inimigos que teriam lhe aplicado um golpe mortal com um único coice.
Nuramon passou a mão pela crina de seu fiel cavalo.
— Você é um verdadeiro herói!
Felbion desviou o olhar de lado, parecendo entediado.
Nuramon olhou ao redor.
— Queria agradecer a todos vocês. — Voltou-se para Nomja: — Os seus arqueiros são os melhores da Terra dos Albos.
Voltou-se para Daryl e disse:
— Para nós, elfos, você foi como uma rocha na arrebentação. — Finalmente, ajoelhou-se na altura de Wengalf: — Nós devemos tudo a você.
Wengalf discordou:
— Não, não. É Mandred quem merece as grandes honras!
Nuramon levantou os olhos para Mandred e sorriu.
— Hoje, meu poderoso rei, você conquistou a imortalidade. Os filhos de albos glorificarão o seu nome por todo o sempre.
— Ainda não acabou! Quem sabe como está a batalha na frente de Shalyn Falah? Venha! Vamos cavalgar até lá!
O jarl jogou a cabeça do comandante inimigo para um de seus mândridos. O sangue esguichou longe ao redor dele.
Um homem vestindo armadura de oficial aproximou-se trazendo a égua de Mandred. O jarl apeou e cumprimentou-a. Mas, quando quis montá-la, faltaram-lhe forças. O homem da armadura ajudou-o rapidamente a subir.
Nuramon olhou em volta. Os guerreiros estavam no fim de suas forças. Naquele dia nenhum deles aguentaria mais a marcha até Shalyn Falah. E seria imprudente retirar as tropas dali enquanto o inimigo não estivesse totalmente aniquilado.
— Bem, Mandred, acho que vamos ter de cavalgar sozinhos. Os guerreiros precisam manter a posição aqui.
— Tudo bem. Com certeza Farodin pode fazer bom proveito da nossa ajuda. Quando ouvirem que não só detivemos o inimigo como também o fizemos fugir, certamente vão se inspirar.
Nuramon sorriu.
— Então está bem, Mandred! Reze para Luth! Hoje ele realmente nos ajudou.
O elfo montou em Felbion e seguiu com os olhos os guerreiros de Tjured em fuga. Eles certamente ainda teriam sido uma força de combate considerável, mas, sem comando, eram somente uma multidão desordenada.
Uma sensação de angústia apoderou-se de Nuramon quando partiu com Mandred a caminho da Shalyn Falah. Estava certo de que a ponte nunca havia sido tomada e de que Farodin tinha mais experiência do que eles dois juntos. Ainda assim...
Ao cruzar o campo de combate, foram ovacionados por bandos de guerreiros. Nuramon viu seus parentes acenando para ele, gritando seu nome, entusiasmados. Os mândridos ergueram seus machados e espadas nas alturas e gritaram:
— Vida longa a Mandred, jarl de Firnstayn!
Após deixarem o campo de batalha para trás, Mandred disse:
— Depois de ajudar Farodin, quero passar a noite com duas lindas garotas!