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A rainha perguntava a cada um deles por quais motivos se decidiam por isso ou por aquilo, e escutava pacientemente as explicações. Desta vez ela ouviu mais vozes do que jamais ouvira antes. Ao perguntar a Elemon, tio de Nuramon, por que ele queria ver o portão fechado, ele disse:

— Porque caso contrário, como Alvias disse, pode haver desventuras.

— Desventuras? — A rainha encarou-o com insistência. — Você tem razão. Isso poderia acontecer.

Então Pelveric, de Olvedes, tomou a frente. Sua palavra contava muito entre os guerreiros.

— Emerelle, pense no sangue de elfos que pode ser derramado. Por que devemos ajudar os humanos? O que temos a ver com suas dificuldades? Quando foi a última vez que nos ajudaram?

— Já faz muito tempo — foi só o que Emerelle respondeu a Pelveric. Ela finalmente virou-se para Noroelle e sussurrou: — O seu conselho é o que vou ouvir.

Noroelle hesitou. Podia aconselhar a rainha a manter o portão fechado, falando, como muitos outros, do sangue dos elfos e da ingratidão dos homens. Ela sabia, porém, que nessas palavras o que falaria era somente o amor pelos seus queridos. Mas aqui se tratava de algo maior do que ela própria. Disse baixinho:

— O meu coração teme pelos meus amados. Mas o certo é abrir o portão.

A rainha levantou-se solenemente. O barulho da água nas paredes aumentou devagar. Mais e mais água saía das fontes, descia paredes abaixo e desaguava ruidosamente no espelho-d’água. Emerelle olhava o portão. Parecia não perceber como o cintilante vapor de água se espalhava no ar, subindo para a ampla abertura no teto e lá fazendo surgir, sob a luz do sol, um grande arco-íris. De repente, as paredes por trás da água se acenderam. Um zumbido soou e uma lufada de vento atravessou a sala. As folhas do portão abriram-se para os lados, e o grupo da caçada ficou visível para todos. A água se acalmou, mas o vapor e o arco-íris permaneceram.

Os caçadores se detiveram embaixo do arco do portão por um instante, antes de entrar. À frente estava Mandred, o filho de humanos, que observava o arco-íris com muita admiração, mas cujo olhar logo encontrou a rainha. Atrás dele, à esquerda e à direita, vinham Farodin e Nuramon; mais atrás seguiam Brandan, o descobridor de rastros; Vanna, a feiticeira; Aigilaos, o arqueiro; e Lijema, a mãe dos lobos. Não era comum ver um homem participar da Caçada dos Elfos, embora seu porte fosse mais semelhante ao dos elfos que o de Aigilaos, o centauro. Entretanto, depois de todos aqueles anos, todos já haviam se habituado ao fato de que centauros podiam participar da Caçada dos Elfos. Mas um humano? Como Mandred vinha primeiro, isso tornava tudo ainda mais estranho. Sempre era um elfo quem liderava a caçada.

Nuramon e Farodin lembravam os heróis míticos. Farodin, como sempre, era uma visão imaculada, enquanto Nuramon correspondia ao ideal pela primeira vez aos olhos dos outros. Noroelle pôde reconhecer isso nitidamente nos rostos dos que os cercavam e estava feliz com isso. Mesmo que o seu prestígio pudesse durar pouco, ninguém podia privá-lo desse momento.

Os caçadores puseram-se diante da rainha. Ao chegarem diante da escada para o trono, os elfos curvaram-se sobre o joelho diante de Emerelle, e mesmo o centauro se esforçou para inclinar-se o máximo possível. Apenas Mandred permaneceu ereto, e parecia estar surpreso com a demonstração de respeito de seus companheiros. Estava a ponto de imitá-los quando a rainha dirigiu-se a ele na língua humana:

— Não, Mandred. No Outro Mundo você é o jarl da sua sociedade, um nobre entre os humanos. Você não precisa se pôr de joelhos diante da rainha dos elfos.

Mandred fez uma cara de surpresa e permaneceu calado.

— Todos os outros: levantem-se! — Emerelle disse, também em fiordlandês. Alguns dos presentes aparentemente não dominavam a língua e olharam para ela aborrecidos.

Fiordlandês! Os pais de Noroelle ensinaram-lhe muitas línguas humanas, mas ela nunca deixara a Terra dos Albos. Até agora, ela só conhecia a selvagem terra dos humanos em sua imaginação.

A rainha virou-se para Mandred.

— Das minhas mãos você recebeu uma dupla honra. Você é o primeiro filho de humanos a participar da Caçada dos Elfos. E além disso, convoquei-o como o líder. Não posso esperar de você que se comporte como um elfo. Essa escolha deixou muitos filhos de albos indignados. Mas a força de Atta Aikhjarto vive em você. Confio na sua intuição. Nenhum de nós conhece a sua terra como você, que será um bom líder para os seus companheiros. Mas, em tudo o que fizer, jamais se esqueça do que me prometeu.

— Eu mantenho a minha promessa, soberana.

Noroelle descobriu o pacto que o filho de humanos fez com a rainha. Examinava Mandred e estava surpresa com seus modos. Até então, não tivera nenhuma oportunidade de vê-lo, já que na noite anterior chegara à corte só mais tarde e não arriscara pisar na ala do palácio onde ficavam os aposentos dos caçadores. Contudo, ouvira muitos rumores sobre ele, embora provavelmente não fossem todos verdadeiros. Estava certa de que ele era largo como um urso e, à primeira vista, parecia um pouco ameaçador, com todo esse cabelo vermelho como o pôr do sol caindo de forma selvagem sobre os ombros. Algumas tranças finas se entrelaçavam ali no meio, e ele também tinha barba, como muitos dos centauros. Suas feições eram grosseiras, porém honestas. Ele lhe parecia estranhamente pálido e havia grandes anéis escuros sob seus olhos. Talvez não tivesse dormido de ansiedade? Certamente estava muito orgulhoso da homenagem da rainha. Ele agora carregava uma grande responsabilidade. Noroelle teve um arrepio só de pensar no preço que ele teria de pagar por essa ajuda. Ela jamais entregaria um filho seu, se é que um dia chegaria a ter um. Pensativa, encarou os seus dois pretendentes. A pergunta não era se, mas com qual deles ela um dia teria um filho.

Como se tivesse ouvido os seus pensamentos, Mandred encarou-a rapidamente e sorriu. Obilee agarrou a mão dela. Estava tremendo. Noroelle permaneceu calma e encarou os olhos azuis do filho de humanos. A presença dele certamente transmitia segurança, e ela podia tranquilamente confiar a ele os seus dois amados. Olhou para Nuramon e Farodin. Há vinte anos, desde que eles declararam seu amor por ela, um dos dois sempre esteve por perto. Agora ela ficaria sozinha, sem saber por quanto tempo.

— Vocês sabem o que fazer — disse a rainha. — Estão equipados e descansados. Estão prontos para partir?

Os caçadores responderam um após o outro, com as palavras:

— Eu estou pronto.

— Farodin e Nuramon, um passo adiante! — Ambos fizeram o que Emerelle ordenou. — Eu sou vossa rainha, e vocês estão sob minha proteção. Mas também estão ao dispor de uma elfa, e eu não posso falar por ela. Ela tomou a decisão. — Andou até Noroelle e conduziu-a degraus abaixo, até Farodin e Nuramon. Obilee a seguiu. — Aqui está ela.

Noroelle segurou a mão de ambos os homens e disse:

— Se estão ao meu dispor, vocês estão ao dispor da rainha.

— Então nós serviremos sempre a rainha — declarou Farodin.

— Que nossos atos tragam alegria a ambas — completou Nuramon.

Eles beijaram as mãos dela.

Noroelle sabia que agora viria a despedida. Mas era cedo demais; ela não queria dizer adeus a seus amados aqui, diante dos olhos de todos.

— A vossa amada ainda tem um desejo. Ela gostaria de acompanhá-los até o portão de Aikhjarto.

Farodin trocou um olhar com Nuramon. “Precisamos fazer o que nossa amada exige.”

A rainha sorriu e pegou a mão de Noroelle, assim como a de Obilee.

— Aqui, Mandred, trago-lhe estas duas, que estarão sob sua proteção até o portão. Trate-as bem.

— Assim o farei.

A rainha olhou para cima, como se pudesse ver algo na luz do sol coberta pelo vapor que não era visível aos olhos dos demais.

— O dia ainda é uma criança, Mandred! Vá e salve a sua aldeia!

Então Mandred colocou-se diante da Caçada dos Elfos, enquanto Noroelle e Obilee andavam no meio. No caminho, os filhos dos albos desejavam sorte aos caçadores. Noroelle virou-se e lançou um olhar para a rainha. Viu que estava de pé diante do trono e observava o grupo se distanciar com expressão preocupada. Estaria com medo de que algo os atingisse? Se era assim que se sentia, até agora Emerelle escondera bem os seus temores.