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Emerelle puxou os dois pela mão e levou-os até os cavalos, passando pelo meio da clareira e pelo grupo em luto.

Durante a noite, Farodin e Nuramon conversaram sobre Felbion e o cavalo baio. Decidiram deixá-los. Ambos tinham sido companheiros fiéis e mereciam descansar na Terra dos Albos. Acomodaram as coisas que queriam levar em grandes bolsas de linho, que podiam ser carregadas confortavelmente sobre os ombros. Agora confiavam os cavalos a Yulivee. Para sua surpresa, eles pareciam até gostar da ideia de ficar com a elfa.

— Com você eles continuarão em boas mãos — disse Nuramon para a feiticeira ao aproximar-se dela, enquanto Farodin ia até seus parentes.

Ela vestia trajes vermelhos de luto, como era habitual em Valemas; eram de corte amplo e feitos do mais fino tecido.

— Agora precisamos nos despedir. Você foi uma boa irmã para mim, mesmo que nosso tempo juntos tenha sido curto. Tudo o que me pertencia agora é seu. Você carrega o meu legado, irmã.

— Eu o carregarei com dignidade — respondeu Yulivee com seu sorriso divertido. — E eu escreverei uma saga: A saga do elfo Nuramon. Ela será muito lisonjeira. Será uma longa narrativa, do seu nascimento até este momento. Depois eu a recitarei nas cortes. Assim seus feitos e de seus companheiros serão enaltecidos para sempre.

— Quando era criança, você já era uma boa contadora de histórias — respondeu Nuramon.

Ela sorriu outra vez.

— Eu puxei totalmente o meu irmão.

Nuramon recordou-se do dia em que encontrou Yulivee pela primeira vez.

— Eu me pergunto que fim levaram o dschinn e os guardiões do saber.

— Os humanos aniquilaram a biblioteca.

Nuramon baixou o olhar.

Yulivee pousou a mão sob seu queixo e ergueu sua cabeça.

— Eu já contei a história da valente Yulivee, que partiu para encontrar na Terra dos Albos as almas dos dschinns e dos guardiões do saber? Já fiz isso? Não? — Ela sorriu. — Eu encontrei todas elas e as levei para Valemas. Lá, nós construímos uma biblioteca. O velho saber não se perdeu. Um dia essas almas se lembrarão de sua vida anterior.

Nuramon enlaçou-a com os braços.

— Você é única, Yulivee. Adeus!

Ela beijou-o na testa.

— Mande minhas saudações a Noroelle. E fique longe dos cavaleiros da ordem!

— Vou ficar! — prometeu Nuramon.

Nomja aproximou-se. Vestia roupas azul-claras de tecido pesado, como todos os alvemerenses naquele dia de luto. Segurava o velho arco de Nuramon nas mãos.

— Você deveria levá-lo. Ele prestará bons serviços.

Nuramon sacudiu a cabeça.

— Não, ele pode ser um símbolo para você se quiser. Eu alcancei a lembrança das minhas vidas anteriores e você também é capaz. Então, vai se lembrar do nosso tempo no mundo dos homens. A morte que a atingiu lá desvanecerá, e certamente parecerá heroica.

— E o arco deve ser um símbolo disso?

— Você nunca precisará estirá-lo. O arco e a corda são sempre um só, assim como a alma e a vida.

Nomja balançou a cabeça afirmativamente.

— Eu entendo... O caminho para a memória é longo. Mas eu o percorrerei, Nuramon.

— Adeus, Nomja! — O elfo abraçou-a: — Você foi uma boa companheira de luta para mim. E também uma amiga.

— Nuramon! — chamou uma voz conhecida.

Wengalf aproximou-se com Thorwis. O rei usava uma armadura dourada e o feiticeiro anão, uma toga negra.

Nuramon agachou-se e pôs a mão no ombro de seu velho amigo.

— Obrigado por tudo, Wengalf.

Os olhos do rei cintilaram.

— Eu contarei a Alwerich sobre este dia quando ele renascer. Ele certamente gostaria de ter estado presente.

— Diga a ele que eu jamais esquecerei o seu último ato heroico. E diga a Solstane que sinto muito.

— Farei isso.

— Agora você conhece o segredo das suas espadas? — perguntou Thorwis.

— Sim. Emerelle me contou tudo. E minhas lembranças aos poucos estão se ordenando. Eu devo a vocês, anões, o que sou hoje. Vivam bem em seus velhos salões e não se esqueçam de mim.

Enquanto Nuramon se despedia do seu clã, Farodin deparou-se de Giliath. A guerreira sorriu para ele.

Eles haviam se encontrado no raiar do dia diante do castelo de Emerelle e Giliath vencera o duelo. Tinha lhe aplicado um golpe na bochecha que decidira a luta.

— Em Valemas é costume atender a um pedido de um amigo antes de partir — disse ela.

— O que é? — perguntou ele, sorrindo de volta. — Você quer mais um duelo?

Ela balançou a cabeça.

— Não, essa rixa está definitivamente resolvida. Se um dos meus filhos for menino, posso dar o seu nome a ele?

— E quantos filhos você quer ter?

— Uma longa guerra terminou, Farodin. A morte encontrou um fim e o tempo do viver despontou. Inúmeras almas querem renascer.

O sorriso dela alcançou Nuramon. Ele virou-se e seu olhar recaiu sobre Obilee, que estava afastada como se quisesse observar os acontecimentos de uma distância segura. Também vestia o traje azul dos alvemerenses. O elfo aproximou-se dela.

— Você gostaria de se despedir de mim só de longe? — perguntou ele.

— É só que... — começou ela em voz baixa. — Eu sinto muito pelo que disse naquela noite. Eu devia ter me calado. Não devia ter aceitado aquele instante que você me deu.

— Não diga isso, Obilee. O instante foi seu, e não houve nada de ruim nele. — Segurou a mão da elfa: — Guarde aquele momento na sua lembrança como algo bonito. Agora, Farodin e eu vamos partir. Um dia seremos fortes o bastante para libertar Noroelle. Não se preocupe conosco; em vez disso, lembre-se sempre de que viveremos no Outro Mundo afastados de todo o mal e que pensaremos em você e em todos os outros. Vamos imaginar o seu encontro com um elfo incrível e como você se apaixonará por ele. Vamos nos perguntar quantos filhos você vai ter e se eles vão puxar a mãe. Um dia nos veremos novamente no luar e, então, vamos saber de você o que realmente aconteceu.

Ele abraçou-a afetuosamente.

— Obrigada — murmurou ela.

Junto com Farodin, Nuramon então apresentou-se à rainha, que estava reunida com os outros na estrela alba. Lá havia uma pedra plana e redonda no chão. Nela, as trilhas se encontravam.

Emerelle usava um vestido verde com bordados vermelhos. Recebeu os dois e disse:

— Meus dois guerreiros fiéis, vejo que já fizeram suas despedidas. Aqui está o portal de vocês, o último para o Outro Mundo.

No disco de pedra ao lado da rainha surgiu um fio de luz, que se abriu formando uma grande parede, esticada de uma ponta a outra da rocha.

— Vocês serão os últimos a ir da Terra dos Albos para o Outro Mundo. Adeus, e vivam bem, meus escudeiros!

Na ponta dos pés, beijou ambos na testa.

— Viva bem você também, Emerelle — disse Farodin. — Você é uma boa rainha para nós. Não nos arrependemos de ter sacrificado a pedra alba por tudo isso. — E apontando para as copas das árvores: — Deixar a Terra dos Albos sabendo que ela sempre florescerá me tranquiliza.

Nuramon curvou-se sobre o joelho diante de Emerelle, apanhou sua mão e beijou-a, como antes era hábito na corte.

— Agradeço à minha rainha por sempre ter feito o que o destino exigia. — Então levantou-se e disse: — À antiga companheira de luta, no entanto, gostaria de agradecer pelo tempo em Ischemon.

Farodin admirou-se com as palavras de seu companheiro. Era verdade que a rainha um dia estivera em Ischemon, mas já fazia tanto tempo que somente as lendas ainda contavam isso.

Nuramon não se deixou desconcertar e continuou falando:

— Agradeço pelo caminho pelo qual você me conduziu e que agora deixa a Terra dos Albos. Adeus, Emerelle!

Os dois companheiros já estavam prestes a entrar pelo portal quando a rainha dirigiu-se a eles mais uma vez.

— Esperem mais um momento! Eu não posso deixá-los ir. Não sem levarem minhas desculpas com vocês no caminho.